Eis a questãoHá muito tempo existe uma longa batalha da imprensa brasileira com relação a processos judiciais que envolvem autoridades, principalmente aquelas do mais alto escalão de governos ou blindadas por imunidade parlamentar. Nem sempre os jornalistas conseguiram transpor as barreiras e foram vencidos pelo poder do sigilo e de magistrados que jamais permitiram que informações fossem a público sob a alegação de que acusados não podem ser considerados culpados antes do julgamento final.
Mas eis que, de uma hora para outra, surgiu o juiz Moro, que quebrou todas as barreiras, antes intransponíveis, que existiam entre a tramitação de processos e o interesse da imprensa em divulgar os fatos, principalmente no que diz respeito a políticos. E até a mais alta autoridade do país, a presidente da República, teve divulgada a sua conversa telefônica grampeada.
O que pareceu muito curioso é que muitos advogados não só aplaudiram essa ação do magistrado, mas o defendem de forma veemente, quase parecido com o histerismo da ala da ultradireita que dissemina suas informações nas redes sociais e nas mobilizações de rua.
Embora Moro tenha pedido desculpas ao Supremo Tribunal Federal (STF) por ter vazado os grampos envolvendo os petistas Lula da Silva e a presidente Dilma Rousseff , o que se espera dos advogados e de juristas que aplaudiram o vazamento dos grampos e dos processos é que, a partir de agora, eles passem a considerar o acesso, pela imprensa brasileira, às ações envolvendo todos políticos e outras autoridades, de qualquer que seja o partido, em nome da liberdade de imprensa e da moralização do país.
Já que essas pessoas acham que a conversa entre autoridades por telefone também é de interesse público, isso significa que se abriu uma nova realidade no Brasil, para que a imprensa não mais seja fustigada por ter acesso a processos que não estejam sob sigilo e que não seja mais processada por divulgar o envolvimento de políticos em denúncia de corrupção.
O que mais se tem nas mãos de juízes de primeira instância são ações judiciais contra jornais e jornalistas que foram em busca de informações de processos e as divulgaram em nome do interesse público. Até mesmo ações judiciais que não estão sob sigilo se tornam “caixas-pretas” em todos as esferas da Justiça e nas mãos do Ministério Público e da Polícia Federal.
Já que o Brasil entrou nessa nova onda de transformação, com cobrança de moralidade e divulgação de processos e grampos telefônicos de investigados, então que se abra esse novo caminho para a imprensa a fim de que o país seja passado a limpo em todos níveis.
Ou essa “liberdade de imprensa”, com divulgação de grampos e processos, só funciona contra um partido e apenas contra determinados políticos? Com a palavra, os advogados, a Polícia Federal e os magistrados…
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