Made in EUANós, brasileiros, não importamos somente o modismo, as expressões, o sanduíche, as estampas, os filmes e a moda dos norte-americanos. Também adotamos o medo e a paranoia na política, esta que acaba se misturando às pregações religiosas. Nos Estados Unidos, Donald Trump surgiu como um fenômeno porque soube explorar o medo de seus conterrâneos; o medo dos refugiados, dos terroristas islâmicos e dos acordos de livre comércio com a China, apontados como possível gerador de desemprego futuro.
No Brasil, uma figura semelhante também tem ganhado destaque: Jair Bolsonaro, um militar que discursa como linha-dura, com posições “politicamente incorretas”, prometendo atacar tudo aquilo que representa medo à sociedade brasileira: criminosos, “comunistas”, corrupção, insegurança, prostitutas, homossexuais, numa mistura de extremismo religioso e político em um só bolo de ultradireita.
Trump promete “fazer os Estados Unidos grandes outra vez” e propõe deportar 11 milhões de imigrantes sem documentação, proibir a entrada de muçulmanos no país e forçar o governo chinês a recuar. Sim, os norte-americanos estão achando que não são mais “grandes” e agora querem um remédio “fácil” e “rápido”.
No Brasil, Bolsonaro sabe que o povo sofre daquela que ficou conhecida como “síndrome de vira-lata” e se aproveita da esculhambação geral da Nação, provocada pela corrupção sistemática e enraizada desde a chegada de Cabral, para se tornar um símbolo, um ícone, um herói e uma saída rápida para todos os males. E explora o medo e a paranoia do povo.
Assim como no Brasil, nos Estados Unidos a paranoia tem raízes históricas, como escreveu o historiador Richard Hofstadter ao definir o “Estilo Paranoico” como “um fenômeno antigo e recorrente em nossa vida pública que está frequentemente vinculado a movimentos de insatisfação ou descontentamento suspeitos”.
Que diria que, nos Estados Unidos, considerada uma cultura outrora altiva e cheia de otimismo contagiante, sempre alimentada nos filmes de Hollywood, o medo pudesse se tornar algo tão expressivo a ponto de a democracia passar a ser questionada em favor de discursos duros contra imigrantes, terroristas, refugiados e desemprego.
Logo, no Brasil, um país que ainda está amadurecendo sua democracia, é de se imaginar como os brasileiros estão suscetíveis a serem manipulados por qualquer paranoia, principalmente se nos discursos houver mensagens contra “comunistas”, “esquerdistas” ou posicionamentos religiosos contra homossexuais, por exemplo (algo que também está ocorrendo nos EUA).
Se o brasileiro não tomar cuidado, vai perder esse espírito de hospitaleiro, multirracial, feliz e tolerante. E, daqui a pouco, estará incendiando “comunistas”, “curandeiros”, negros, feministas, homossexuais e índios no meio da rua.
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