A votação e o impeachment – Dolane Patrícia*Era uma tarde de domingo, parecia final de Copa do Mundo!
Grande parte da população se reunia em torno de telões, vestidos com a camisa do Brasil.
De um lado, os brasileiros favoráveis ao impeachment, do outro, aqueles que continuavam afirmando que era tudo um grande golpe. O começo da sessão da Câmara teve tumulto e troca de insultos entre deputados que gritavam “fora PT” e os que entoavam “não vai ter golpe”.
Na verdade, a grande maioria da população quer a saída da presidente Dilma Roussef. Grande parte não está pensando no partido A ou B, e sim na saída de um por um, daqueles que estão envolvidos em uma corrupção, responsável por uma das maiores crises da história do Brasil.
Não é que o brasileiro prefira Termer ou Cunha, mas a verdade é que precisa ser um de cada vez. É como diz a postagem do Twitter de @houseofnoshave: “A gente quer tirar a Dilma primeiro pra depois tirar o Temer e o Cunha também” é tipo a mãe da gente falando NA VOLTA A GENTE COMPRA.”
A torcida era semelhante ao da final de uma Copa do Mundo. Cada voto sim era comemorado como um se houvesse acontecido um gol do Brasil, após os 45 minutos do segundo tempo.
Não foi apenas o clima de final de campeonato que lembrava uma Copa do Mundo, mas o placar da votação de Roraima, 7 X 1, trouxe de imediato a memória dos brasileiros, o placar do jogo da Alemanha X Brasil, um momento histórico no futebol brasileiro.
A frieza de Cunha ao escutar colegas o chamando de ladrão, ao vivo, numa sessão transmitida para milhões de brasileiros, impressionava. A resposta vinha através de um sorriso sarcástico após cada voto “SIM”!
A internet se encheu de memes imediatamente, um dos mais compartilhados foi o da presidente Dilma na fila do seguro desemprego.
É como se o brasileiro tivesse rindo de sua própria desgraça. Não há muito o que fazer, após o erro cometido nas últimas eleições para presidência da república.
Ao todo, 511 parlamentares participaram da votação, que começou com deputados cantando o Hino Nacional. Às 20h, quando o placar da votação chegou a 195 votos a favor, o governo admitiu a derrota…
Às 22h, o líder do governo na Câmara, José Guimaraes (PT-CE) reconheceu a derrota: “Os golpistas venceram na Câmara. Vamos continuar lutar na rua. Podemos reverter no Senado.”
“A partir de agora, o pedido segue para o Senado. Uma comissão especial será formada, e o relatório aprovado pelo colegiado será votado em plenário. Nessa fase, os senadores decidirão, por maioria simples, se o processo de impeachment será instaurado. Caso seja aberto, Dilma será afastada por até 180 dias e o vice-presidente assume. No julgamento, Dilma será cassada se dois terços dos senadores votarem a favor.”
Eduardo Cunha, do PMDB, votou na ordem, com os deputados do Rio de Janeiro: “Que Deus tenha misericórdia desta Nação. Voto sim.”
Ele pode ser o próximo!
A primeira abstenção foi registrada pelo deputado Pompeo de Mattos, do PDT do Rio Grande do Sul: “Nem Dilma, nem Temer, nem Cunha. Eu quero eleições limpas, honestas, para mais do que limpar a sujeira, limpar a alma da Nação brasileira. Cumpro decisão do meu partido. Não posso votar a favor, não voto contra. Eu voto pela abstenção e contra a corrupção.”
Poderia votar sim e depois lutar por novas eleições. A democracia é uma coisa fantástica, mas chegava a ser engraçado, cada vez que um deputado votava sim, havia um membro da casa que levantava uma placa, onde estava escrita a frase: “TCHAU QUERIDA!”
A frase foi usada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para acabar a conversa com Dilma no polêmico telefonema divulgado pelo juiz Sergio Moro.
Houve quem votasse em nome de tudo: de Deus, da esposa, da mãe, dos filhos, ouviu-se de tudo:
O líder do governo, José Guimarães, do PT cearense, disse que votou em nome dos mais humildes: “Em nome dos milhões que estão nas ruas, em nome das centenas de milhares que estão em Fortaleza, em nome dos 54 milhões de votos da presidenta Dilma e em nome dos mais humildes, daqueles que estão nos assistindo, é que nós todos dizemos não ao golpe. Pela democracia, meu voto é não, senhor presidente.”
Que golpe? Golpe nós tivemos na Petrobrás, mensalão, BNDS, previdência, etc.
O deputado mais votado nas eleições de 2014, Celso Russomano, do PRB de São Paulo, com 1 milhão e 524 mil votos, manifestou apoio ao processo contra a presidente Dilma e não poderia ser diferente:
“Não poderia, de forma nenhuma, fazer com que o povo do meu estado se decepcionasse comigo. Pelo meu estado, pela família brasileira, pela minha família, meus filhos, a geração dos meus filhos e a geração dos meu netos, eu voto sim ao impeachment.”
Com 1 milhão e 16 mil votos, o deputado Tiririca, do PR de São Paulo, disse sim ao impeachment, mas muitos ficaram esperando uma piada, ou que o mesmo acompanhasse o seu partido.
Essa questão de partido é bastante interessante, o político deve satisfação ao povo. Quando o deputado vai à Plenário dá seu voto, está representando um povo, não um partido.
Louvável a decisão de quem renunciou a presidência do partido, o ministério, ou a amizade para votar de acordo com a sua consciência e o dever.
Era o povo ali representado por pessoas escolhidas pelo voto livre e democrático.
A sessão foi histórica!
A deputada Raquel Muniz (PSD-MG) citou o marido ao proferir seu voto: “Meu voto é para dizer que o Brasil tem jeito, o prefeito de Montes Claros mostra isso para todos nós com sua gestão”. Ele foi preso um dia depois pela Polícia Federal junto com a secretária de saúde do município, na operação Máscara da Sanidade II – Sabotadores da Saúde, que investiga fraudes para favorecer hospitais privados ligados ao prefeito.
Por fim, cito o voto emocionado e decisivo do deputado Bruno Araújo (PSDB–PE) para a aprovação do impeachment: “Quanta honra o destino me reservou de poder, da minha voz, sair o grito de esperança de milhões de brasileiros. Senhoras e senhores, Pernambuco nunca faltou ao Brasil. Carrego comigo nossa história de luta pela democracia. Por isso, digo ao Brasil ‘sim’ pelo futuro”.
Tchau, querida!
*Advogada, juíza arbitral, personalidade da Amazônia e Personalidade Brasileira Twitter: @DolanePatrícia_ Facebook: Dra. Dolane Patricia. #dolanepatricia. You Tube: Dolane Patricia RR——————————–A indolência – Afonso Rodrigues de Oliveira*“Somos o único caso de democracia que condenados por corrupção legislam contra os juízes que os condenaram”. (Joaquim Barbosa)Juro que tentei ser mais comedido. Mas não dá. O que assistimos na votação para o caso da Presidente Dilma nos mostra que o Ministro Joaquim Barbosa está correto. Já prometi pra você que não me meteria mais em assunto de política. Mas não dá. Mas vou tentar ser moderado. Mas o que vimos na votação, da Câmara, foi deprimente, quanto ao comportamento dos deputados. Entristeci-me com o despreparo dos nossos legisladores. Até mesmo os que sempre nos pareceram preparados decepcionaram-me. Em pouquíssimos momentos houve respeito ao cidadão que está vivendo um dos momentos mais decepcionantes da nossa política. Lamento a imagem que estamos passando para os países que sempre nos respeitaram. Os xingamentos dirigidos ao Presidente da Câmara refletem o despreparo dos nossos representantes na política nacional.
Afonso Arinos certa vez disse: “Os partidos nacionais são arapucas eleitorais e balcões de vendas”. É o nítido reflexo do que assistimos durante seis horas de votação. Mas se estivermos realmente interessados em melhorar a situação, teremos que melhorar nosso empenho no desempenho do nosso trabalho. Porque todos os deputados despreparados que estavam ali demonstrando seu despreparo para a função que exercem, foram eleitos por nós, eleitores. Então somos nós que temos que melhorar para acabar com os balcões de vendas e as arapucas eleitorais. Estamos vivendo um dos períodos mais negros da nossa política. Mas apenas um dos momentos. Se você não viveu o período de Getúlio Vargas, Jânio Quadros e João Goulart, fica difícil me entender.
Jarbas Passarinho também disse: “No Brasil ainda temos bons políticos, mas não temos mais estadistas”. E não temos mesmo. A Dilma está na iminência de deixar a Presidência. Com o que concordo. Mas quem a substituirá? Getúlio, Jânio e Jango também não tiveram. E continuamos, por conta disso, despreparados para eleger políticos que se tornariam estadistas. E a ignorância política continua predominando e fazendo de nós meros títeres, elegendo tiriricas para nos representar na política nacional. Pelo que vimos, estamos longe de ser um povo e um país civilizados a ponto de ser respeitados pelos países e povos civilizados.
Vamos fazer nossa parte no que devemos fazer para que sejamos um povo civilizado. E não conseguiremos isso enquanto não fizermos nosso papel no desenvolvimento da nossa Educação. Sem ela nunca atingiremos o que merecemos e não conseguimos. Vamos sair da indolência. Pense nisso.
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