Jessé Souza

Do lixo ao voto 2345

Do lixo ao votoO que pensa uma pessoa que, dentro de um carro, baixa o vidro da janela e lança seu lixo em via pública? O que primeiro vem à mente é a ausência completa de cidadania, na verdadeira acepção da palavra. Cidadania é o indivíduo exercer seus direitos que o permitem participar da vida política.

E participar da vida política como cidadão implica que este indivíduo está sujeito a direitos e deveres. No exercício da cidadania, direitos e deveres devem estar interligados, o que significa dizer que o respeito e o cumprimento desses princípios levam a uma sociedade mais equilibrada e justa.

Quando um indivíduo não aprendeu a ser cidadão, sem educação ambiental, sem consciência de seu papel na vida pública e sem entendimento do que é a política na sociedade, então ele vai abrir a janela do carro e lançar o lixo sem qualquer pudor e remorso, porque ele não tem a noção exata de seus deveres como cidadão nem sabe a implicação de um plástico ou um lixo qualquer lançado na rua ou no meio ambiente.

Geralmente, a resposta mais esdrúxula usada por esse tipo de indivíduo é que, jogando lixo na rua, ele estaria “ajudando a manter o emprego do gari”. Porque ele não concebe que a rua, por ser pública, não significa “não ser de ninguém”. Pelo contrário, quando algo é público significa que este bem é de todos, devendo todo cidadão zelar, porque aquele espaço público é mantido com dinheiro de nossos impostos.

Um plástico lançado em via pública significa que esse lixo vai se juntar a dezenas ou centenas de outros lançados diariamente por mais pessoas que não se sentem cidadãs. O lixo vai entupir os esgotos, que vai provocar alagamentos na hora da chuva, que por sua vez desencadeará transtornos a todos e prejuízos a vários. E demandará mais recursos públicos para fazer a limpeza e resolver problemas, enquanto este recurso deveria estar sendo aplicado na educação ou saúde, por exemplo.

Então, este mesmo indivíduo pode argumentar que age desta forma porque ele paga para a prefeitura limpar, mas o dinheiro dos impostos vai parar no bolso da corrupção. Porém, o que ele não costuma refletir é que a corrupção só é possível por causa dos corruptos que ele elege e reelege a cada pleito.

Um cidadão consciente de seu papel e de seus deveres sabe que, tanto o lixo que ele lança na rua quanto o voto que ele deposita nas urnas têm consequências imediatas ou futuras. A sociedade é um conjunto e, se o cidadão estiver contaminado, nada conseguirá limpar a estrutura corrupta, a começar pelo lixo lançado pela janela do carro, na praça, no passeio no parque, no banho de praia, na aventura de fim de semana no meio da natureza…

*JornalistaAcesse: www.roraimadefato.com/main