A crise energética é uma realidade enfrentada em Roraima. As quedas de energia têm sido alvo de constantes reclamações da população. Diante da crise energética, onde a Venezuela pode cortar o fornecimento de energia pelo Linhão de Guri a qualquer momento, a concessionária que iria construir o Linhão de Tucuruí pediu a rescisão do contrato e uma ‘briga’ entre Eletrobras e Petrobras, por conta de uma dívida da primeira, pode fazer com que a distribuidora deixe de fornecer combustível para o funcionamento das termelétricas no Estado. O que resta para a população roraimense? Seria este o momento para investir em energias alternativas, visando garantir uma fonte de energia confiável para quando todas as possibilidades se esgotarem?
Em resposta a estas perguntas, o engenheiro elétrico e especialista em energia solar Francisco Maia afirma que a aparente crise energética do Estado pode ser o início de um investimento que poderá trazer um novo tipo de produção de energia em Roraima. “Uma energia mais potente, limpa e segura”, destacou.
De acordo com ele, a localização geográfica do Estado e principalmente a da Capital fornece uma vantagem na produção de energia solar em relação aos outros estados brasileiros. “Boa Vista, em nível de Brasil, é a capital que mais possui condições naturais favoráveis à produção de energia solar. Por estar localizada onde passa a Linha do Equador, o coeficiente de insolação na nossa região é o maior do Brasil. Então, se nós formos considerar rendimento de sistemas fotovoltaicos, responsáveis pela produção da energia solar, ele, em Roraima, seria mais eficiente que qualquer outro lugar do Brasil”, afirmou Francisco Maia.
Segundo o especialista, a capital roraimense possui duas características favoráveis para adotar a utilização da energia solar. “Estudos comprovam que quando cruzamos radiação e iluminamento, que são os dois fatores usados para o cálculo da energia solar, ninguém ganha de Roraima”, afirmou, explicando que mesmo quando comparado à região sudeste do País, que é banhada por litorais, Roraima se destaca. “Lá o nível de iluminamento é alto, mas a radiação solar, nem tanto, porque ela é proporcional à proximidade ao sol, o que nos torna tão capazes de produção, pois somos o local com mais proximidade do sol”, afirmou.
Ele explicou que este tipo de energia, apesar de ser gerada por um recurso natural, não afeta o meio ambiente e nem esgota os recursos naturais. “Como algumas regiões do Estado têm uma concentração de vento, radiação e iluminação absurdas, elas seriam capazes de produzir energia para o Estado inteiro sem queimar recursos como o carvão ou diesel, como é usado nas termelétricas, sem gerar gastos de custo”, explicou o especialista.
Para Francisco Maia, mesmo com condições climáticas favoráveis para a produção de energia solar no Estado, as autoridades ou grandes organizações que poderiam investir na “transformação do Estado” não mostram interesse em financiar o setor.
De acordo com ele, a questão adotou um cunho político e precisa que os governantes tenham vontade em desenvolver a área. “Não sei dizer exatamente quem aqui no Estado teria condições de investir neste tipo de energia. Mas posso garantir que é uma energia limpa e segura, além de extremamente importante nos dias atuais, pois o sol não se apagará tão cedo, e os nossos outros recursos naturais, infelizmente, estão se extinguindo. Portanto, as autoridades políticas que detêm de poder de investimento devem se atentar a este quesito se quiserem encontrar maneiras de evitar um colapso no fornecimento de energia, como vem sendo previsto”, frisou.
ENERGIA EÓLICA – Além da capacidade de gerar energia solar, o Estado de Roraima foi apontado por uma pesquisa nacional como um dos locais mais propensos a desenvolver a energia eólica, energia gerada pela velocidade dos ventos.
A pesquisa aponta que Roraima contém nos campos de lavrados ventos com velocidade média mensal de sete metros por segundo, dado considerado pela indústria como excelente para geração de energia solar e eólica alternativa. O estudo destaca ainda que, mesmo nos meses de julho e agosto, considerados de vento fraco, a velocidade em Roraima fica ainda em cinco metros, sendo capaz também continuar gerando energia.
Os dados, porém, não são tão novos. Vários outros estudos, feitos nos últimos 20 anos, conforme apontou o especialista Francisco Maia, destacam a capacidade do estado em gerar diversos tipos de energia sustentável sem a necessidade da queima de recursos naturais esgotáveis.
Maia destacou ainda que apesar do conhecimento e das condições “extremamente favoráveis”, nada em Roraima foi feito para a produção em massa desses tipos de energia. “É uma pena e uma ignorância de quem não pensa no dia de amanhã, enquanto isso ações privadas sem grande alcance são o máximo que temos”, frisou. (J.L)
Eletrobras está tomando medidas para garantir fornecimento de energia
Questionada sobre a possibilidade de o Estado ficar sem alternativa para o fornecimento de energia elétrica, a Eletrobras Distribuição Roraima destacou que está tomando todas as medidas possíveis para garantir a continuidade do fornecimento de energia. “Seja pela interligação com a Venezuela, que continua sendo a principal fonte de energia, ou pelo parque termelétrico local, caso a Venezuela interrompa o fornecimento”, disse em nota, frisando que atualmente ocorre a complementação diária através das termelétricas ao sistema de Roraima. “Pois a interligação Brasil-Venezuela possui limitações”, ressaltou.
“Destacamos que as termelétricas foram instaladas para que, enquanto não haja a interligação ao Sistema Interligado Nacional [SIN], via Manaus/Tucuruí, tenhamos a garantia de fornecimento de energia diante do risco no sistema venezuelano. Atualmente, a interligação com o SIN continua sendo a solução estruturante mais próxima para o suprimento de energia elétrica em Roraima. Entendemos que é muito importante que o Ministério das Minas e Energia e a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) evoluam nas avaliações de outras possibilidades de fontes de energia em Roraima, para garantir o fornecimento ainda mais seguro ao longo prazo, como a implantação de usinas de fontes solar, eólica ou hídrica em Roraima”, concluiu a nota.