Cotidiano

Mãe encontra filha em Boa Vista depois de três décadas de procura

Após a Folha publicar a história no dia 18 deste mês, a jornada da mãe que precisou entregar a filha para os padrinhos teve um final feliz

Depois de anos de expectativa, Dalva Magalhães finalmente viu seu sonho se tornar realidade. No dia 18 desde mês, a Folha publicou matéria falando do drama pessoal da esteticista, que procurava a filha com a qual perdeu contato há 31 anos, ainda bebê.

Amedrontada pelas frequentes agressões que sofria do ex-marido, a esteticista não viu outra solução que não fosse sair da cidade, estabelecendo-se em Manaus (AM). Na época, em 1984, ela não tinha condições de levar a filha, já que a criança não possuía registro de nascimento, obrigando-a deixar a recém-nascida aos cuidados de um casal de padrinhos.

Três meses após ir embora de Boa Vista, Dalva decidiu voltar à Capital roraimense na esperança de levar a filha, mas o casal acabou se mudando, não deixando sequer qualquer informação sobre seu paradeiro. Anos se passaram, mas a esteticista não mediu esforços em procurar a filha, recorrendo aos meios de comunicação da cidade. Mas somente após a divulgação do drama na Folha, várias informações chegaram até ela, mas somente cinco dias depois a esteticista recebeu a sonhada ligação.

“Além da amplitude e do tradicionalismo que a Folha tem, eu acredito que esse resultado também foi possível graças à publicação da matéria nas redes sociais. Até então, eu estava procurando as rádios e as emissoras de TV para contar o meu drama, mas a abordagem destes veículos não era tão profunda quando o enfoque dado por vocês. Na terça-feira, 22, eu fui a uma rádio e eles leram, na íntegra, a matéria produzida por vocês. Foi nesse momento que uma pessoa que mora com ela tomou conhecimento do fato e acabou comparando com as histórias. Essa pessoa acabou contando o que havia acontecido e a encorajou a buscar mais detalhes”, comentou.

A ligação ocorreu um dia após sua saída de Boa Vista. Na ocasião, ela e seu atual marido, José Pereira, estavam em Manaus se preparando para embarcar de volta para seu local de residência, a capital do Amapá. “Era de noite quando recebemos a ligação. Estávamos nos preparando para voltar para Macapá quando ela nos ligou. Fiquei nervosa a princípio e pedi para algumas amigas verificarem a informação até conseguirmos achar uma maneira de retornar para Boa Vista. Conseguimos retornar na sexta-feira, 25. Conversando com ela, foi que eu tive certeza que era a minha filha”, afirmou.

Ao retornar, Dalva Magalhães tomou conhecimento que Adriana foi registrada como Maria Luiza Pereira Lopes e que a filha, hoje com 31 anos, só foi registrada aos 16. Para ela, alguns detalhes físicos batem com algumas características de sua família, como a fisionomia facial e as pontas dos dedos, que são parecidas com as de sua mãe. “Esses detalhes foram fundamentais para que eu realmente tivesse a certeza de que ela é a minha filha. Realmente, valeu muito à pena lutar”, frisou.

Filha teve uma trajetória de sofrimento

Durante todos esses anos, a estudante de teologia Maria Luiza Pereira teve sua vida marcada pela incerteza e incansáveis batalhas para conseguir informações sobre o seu passado. Ela viveu a infância e a adolescência mudando de lar, tendo duas mães adotivas ao longo de seus 31 anos.

“Eu sou registrada no nome de uma mulher chamada Jacira Pereira Lopes, que uns diziam que era minha mãe. Só que eu sempre tive algo dentro de mim que afirmava que havia coisas do meu passado que não haviam sido reveladas. Quando essa mulher me entregou para a família que me criou, aos 13 anos, éramos eu e outra garota, mas tínhamos traços físicos opostos. Essa menina era morena, alta e de cabelos bem cacheados, enquanto eu sou baixinha de cabelo liso. Eu até questionava isso da minha mãe adotiva na época, e ela me falava que éramos filhas da mesma mãe, mas de pais diferentes”, comentou.

“Depois que ela [mãe adotiva] foi embora e me entregou para essa família, eu fiquei muito triste, pois era muito apegada a essa mulher. Essa segunda mãe me disse que não era para eu ficar assim, que a minha mãe biológica havia falecido e que havia sido criada pela minha primeira mãe adotiva por pena e que ela havia me entregue porque não tinha condições de me criar”, complementou.

Quando ela completou 14 anos, um senhor que trabalhava em sua escola havia lhe dito que havia conhecido sua primeira mãe adotiva, a qual pediu para a segunda mãe adotiva, caso perguntasse sobre sua mãe biológica, que era para confirmar a história de que a mãe biológica havia morrido. Desde esse dia, a estudante nunca quis saber do seu passado.

“Algumas pessoas até me questionavam do porque de eu não querer saber dessas coisas, mas foram tantos fatos que me marcaram que eu achava que ela devia me odiar muito para falar uma coisa dessas”, relatou, ao complementar que só tomou conhecimento de Dalva Magalhães por meio de sua mãe de criação, uma senhora de 60 anos.

“No início, foram dois dias tentando contato, sem sucesso. Quando eu consegui, ela já estava em Manaus. Não me identifiquei e perguntei a ela qual foi a data de nascimento de sua filha e ela disse que foi no dia 10 de janeiro de 1984. Ela me perguntou o porquê e eu afirmei que conhecia alguém com histórico similar ao que ela descreveu na reportagem, mas que essa pessoa havia nascido no dia 23 de novembro de 1984. Ela me perguntou se eu a conhecia e se tinha contato com a mesma, mas a história era tão parecida com a minha que eu não tive dúvidas e afirmei que essa pessoa era eu”, frisou.

 

Mãe e filha traçam planos para reunir toda a família

Após o reencontro, tanto Dalva Magalhães quanto Maria Luiza Pereira só querem saber de começar uma vida nova. Ontem pela manhã, ambas estiveram no cartório Deusdete Coelho, no Centro, para iniciar os trâmites de mudança da certidão de nascimento, no entanto esse será um processo demorado, mas que de nenhuma maneira atrapalha os planos de vida da nova família.

“O processo leva em torno de dois anos para ser finalizado, até pelo fato de desconstituir tudo que já havia sido registrado, mas os planos continuam. Já acertamos que, no final desse ano, quando houver a finalização do curso de Teologia, ela vai para Macapá, para conhecer o resto da família. Vamos dar prosseguimento aos trâmites de mudança documental e a gente vai ter um tempo para nos conhecer melhor. O importante é que eu consegui encontrar a minha filha”, salientou Dalva.

Ela agradeceu a todas as pessoas que auxiliaram em sua jornada, em especial dona Dulce Souza, Laiza Santa Rosa, Vanessa Santa Rosa e Ricardo Rodrigues, moradores do bairro São Vicente, que prestaram todo apoio a ela nesse retorno à capital e, também, à Folha. “Ela é o meu anjinho, meu presente de Deus, e eu realmente só tenho a agradecer pelo apoio de todos que me ajudaram a reencontrá-la. O que fica dessa lição para as pessoas é que nada é impossível para quem tem fé”, frisou. (M.L)