Virtudes morais: transgressões e rupturas (X) – Sebastião Pereira do Nascimento*Finalizando essa sequência de artigos reflexivos intitulados de “Virtudes morais: transgressões e rupturas”, ratifico dizendo que, na vida cotidiana, quem possui o hábito de cultivar as virtudes, não apenas designa a mera capacidade de agir virtuosamente, como também se distingue e se torna à frente de outras pessoas que apenas possuem a capacidade de sentir, sem agir. Dessa forma, creio que as muitas disposições encontradas nas concepções aristotélicas, sobretudo nas virtudes morais, são os verdadeiros mecanismos indispensáveis para que a pessoa possa praticar as boas condutas perante a sociedade, acima de qualquer interesse individual. Por meio destas reflexões, sustento a possibilidade da sociedade contemporânea reencontrar caminhos para uma relação equilibrada do homem com o meio social em que vive, mesmo sabendo da crescente ameaça que o homem semeia à medida que esquece valores importantes para o equilíbrio desta relação. A partir disso, entendo que é possível uma mudança de atitude e de reação que possa permitir uma nova valoração capaz de levar a sociedade a outros comportamentos no que tange à sua relação com os valores fundamentais. Contudo, para consentir essa mudança é preciso entender que as transgressões provocadas pela sociedade atual são construídas, como diz Aristóteles, por compulsão ou pela própria ignorância do sujeito, o que as tornam sem assertividade e frágeis diante de quaisquer tentativas de ruptura. Sendo essas tentativas alicerçadas pela compreensão temática da ética, a qual deve atuar sempre como um processo permanente de construção dos valores que levam o ser humano para diferentes caminhos dependendo das escolhas que ele fizer. Inquieto com todas tentativas de rupturas das transgressões atuais, ratifico aqui a possibilidade de ressignificação dos valores, sublinhados pelas virtudes morais, as quais, na visão do próprio Aristóteles, foram construídas a partir de uma relação de vários conceitos para que se tornassem um tratado sólido e consistente, e que pudesse ser aplicado na prática cotidiana para tornar os seres humanos melhores, pois as virtudes morais são disposições da alma que visam à mediania para que eles se tornem virtuosos. Todavia, essas virtudes morais devem ser cruzadas com outros valores inerentes às qualidades essenciais do ser humano, sendo essas interseções muito importantes para orientar a sociedade, uma vez que ela é “obrigada” a unir suas responsabilidades morais aos valores coletivos, pois, essa “obrigação” leva o homem a procurar durante toda a sua vida a contemplação das ideias, e principalmente da ideia mais importante, que é a responsabilidade de escolha do bem. Nesse sentido, acredito que a suscitação das virtudes morais (que residem na prudência, temperança, fortaleza e justiça) seja o propulsor dos impulsos para elevar o entendimento humano em busca da ruptura das transgressões, sendo que para esse entendimento ser legítimo e eficaz deve se originar do consentimento do sujeito ou do grupo social em que ele vive, onde cada um se abdica, sem reserva, das vantagens ilícitas em favor dos interesses comuns da sociedade. Dessa forma, acredito que como todos se abdicam igualmente, na verdade cada um nada perde, pois este ato de se abdicar produz um escopo moral composto de tantas acepções quantos são os interesses comuns, pois pela atitude de cada um se abdicar igualmente, ganha sua unidade, sua vontade, sua felicidade, e principalmente sua liberdade, visto que qualquer coerência prática sem a liberdade não há moral na singularidade de um grupo social. Portanto, é preciso está em pé de igualdade para sedimentar uma cláusula de valor, e quem não participar do meio não passa de vítima de um processo hegemônico. Em outras palavras, Rousseau também corrobora dizendo que aquele homem que surge da desigualdade é corrompido pelo poder e esmagado pela violência. Assim, como seus antecessores Locke e Hobbes, Rousseau procura resolver a questão da legitimidade do puder fundamentado na construção de um pacto social, onde o homem abdica de suas vantagens, sendo ele próprio ativo e parte integrante de todo social, ao obedecer à lei, obedece a si mesmo e, portanto, é livre e ético. E por ser ético é um ser moral. Em seu tratado sobre virtudes e vícios, Aristóteles coloca que toda a racionalidade prática visa um fim ou um bem e a moral tem como propósito estabelecer a finalidade suprema, justificando todas as maneiras de alcançá-la. Sendo essa finalidade suprema a própria felicidade humana, e não se trata dos prazeres, riquezas, honras, e sim de uma vida virtuosa, onde a virtude se encontra entre dois extremos e só é alcançada por alguém que demonstre a justa-medida a partir do consentimento das virtudes morais. *Filósofo –[email protected]———————————–
O rumo dos filhos – Afonso Rodrigues de Oliveira*“Vossos filhos não são vossos filhos. São filhos e filhas da ânsia da vida por si mesma. Vêm através de vós, mas não de vós. E embora vivam convosco não vos pertencem. Podeis outorgar-lhes vosso amor, mas não vossos pensamentos. Podeis abrigar seus corpos, mas não suas almas. Pois suas almas moram na mansão do amanhã, que vós não podeis visitar nem mesmo em sonho”. (Gibran Khalil Gibran)O filho retrato-do-pai nem sempre depende do pai. É uma questão de origem, no ir e vir racional. É um processo fora do nosso alcance. Mas o importante é que você seja cuidadoso com o que faz na preparação dos vossos filhos para a educação, no rumo da vida deles. E você não deve preparar seus filhos para a vida que você quer para eles. E nisso está incluído o comportamento deles durante suas vidas quando elas passam a independer da sua. E tudo é muito simples. Oriente seus filhos sem os dirigir. E orientação a damos com bons modos, paciência e sem arrufos ou grosserias. Respeite a personalidade de cada um, para orientá-los de acordo com a personalidade de cada um. Faça com que seus filhos recebam sua orientação como orientação, e não como uma ordem.Quando sabemos como orientar não há por que dirigir. Faça com que seu filho se sinta bem com sua presença, sempre. Porque quando sabemos como corrigi-lo, com certeza, ele assimilará a lição, dentro do tempo que a racionalidade exige. Seja mais cortez com seu filho, independentemente do comportamento dele. Não se esqueça de que somos todos iguais nas diferenças. E é por aí que devemos respeitar as diferenças.
Porque elas nos colocam cada um na sua. Enquanto você cria e orienta seu filho, você está abrigando o corpo, e não a alma dele. O sucesso dele vai depender do respeito que você teve por ele durante o tempo em que o orientou para a vida dele.É na mansão do amanhã que seu filho vai viver. E ele vai viver a vida dele e não a sua. No entanto vai desfrutar o que semeou orientado por você. O Rui Barbosa também disse que: “Há os que plantam a alface para o prato de hoje, e os que plantam o carvalho para a sombra de amanhã”. Veja o que você está plantando para seu filho, se a alface ou o carvalho. Há uma diferença astronômica no processo de evolução de uma planta para o da outra. E os resultados são, igualmente, diferentes. Veja que mansão você está construindo para ele. E tudo vai depender do que você está plantando na alma do seu filho, se o entendimento ou se a revolta. Construa a mansão do seu filho com carinho, respeito e muita atenção, dentro do que ele é e não do que você acha que ele é. Pense nisso.*[email protected]