Síndrome de Borges – Walber Aguiar*Há duas épocas na vida, infância e velhice, em que a felicidade está numa caixa de bombons. DrummondEra o mês de outubro. Lembrei dos velhos. Principalmente de Dona Maria, minha mãe, o anjo de pernas arqueadas. Uma lágrima foi produzida quando passei na Rua Coronel Mota, 1367, lugar da boemia, dos coqueiros, do papo solto, dos sete copos de cachaça de Camiranga, dos canteiros do Tio Zé, do cafezinho quente e cheio de ternura da tia Zélia. Vi meu padrinho sentado na pracinha do esgoto, matutando com a fumaça que saía do cigarro.Invadiu-me completamente a nostalgia quando passei perto do bar do seu Pinheiro, hoje “amarelinho” . Qualhada estava ali, com Jânio Cachorrão e a turma do prazer etílico.Meu Deus, quanta saudade dos homens e mulheres que aproveitaram intensamente a vida. Quanta saudade dos canteiros da tia Zélia, dos alfaces, cebolinhas e coentros do velho lago, onde empinávamos papagaio e descaíamos linha na direção do infinito. Também refleti sobre as valas abertas e alagações do velho bairro de São Francisco. No tempo em que “Chinelão” ainda não andava cachingando. No tempo em que seu Cleto soltava seus rojões no fim de cada jogo da copa do mundo de 82 .Também me veio à memória dona Dalci e seu Calandrino, cheios de uma beleza no falar e no tratar os outros com urbanidade e simpatia. Seu Zé Niça, pai de Célio Wanderley, com seu jeito sério e um coração do tamanho do mundo. Dona Vevé, sempre disposta a atender as pessoas que chegavam em seu comércio. Também lembrei de dona Iolanda, mãe de Moacir, o “bode”, Barbosa Júnior, Márcio, Lenise e Maurício “bunitin”. Como aproveitaram a vida, embalando seus filhos em balanços toscos e alegrias duradouras. Como investiram na molecada, na infância, no coração e na ludicidade das crianças. Por isso todos cresceram sadiamente e hoje também brincam com filhos e netos da mesma forma. Minha memória alcançou dona Nena e Chico Cunha, o homem que matava porcos no quintal de casa e convidava a todos para comer torresmo e a cabeça do suíno. Talvez o mais folclórico de todos os velhos foi o alfaiate Raimundo Aragão, o velho Arigó, que costurava roupas e sonhos, que criou os filhos com grandeza e dignidade, que viveu com hombridade e respeito. O Velho que andava de branco sentava em sua velha cadeira de balanço, cheirava rapé e dava enormes cusparadas, na tentativa de desabafar aquilo que lhe percorria a alma. Seu Coqueiral e dona Candinha eram os mais antigos. Ali na esquina, conversaram e traçaram planos para filhos e netos. Alzira, Nairon, Darlen e Mirian que o digam. Por lembrar de todos eles é que deixo de enxergar o asfalto e passo a ver o barro vermelho, as valas, os sonhos em preto e branco. É que considero extremamente a mãe de Didi, Tunico e Ferrujo, dona Luzia, com seus cabelos de algodão. Gente que vive entre a dor e o prazer, entre o sorriso e a lágrima. Mas, que , sobretudo, vive.É preciso saber envelhecer e não ter medo do tempo que esmaga e tira o viço da juventude. É preciso aprender que não precisamos viver numa bitola, num sistema legalista. Temos que nos dar o direito de errar mais, trabalhar menos, tomar mais sorvete, brincar de roda com as crianças e contemplar, com serenidade, o entardecer e o amanhecer.Ainda lagrimo todas às vezes em que passo na frente daquela casa vazia e abandonada, de número 1367. Ainda respiro profundamente ao lembrar de seu Eduardo e de dona Marieta, os pais do Mário. Ainda recordo dos dias em que conversei com o velho Lauriston e dona Licinda, seu Walter Aprígio e dona Doquinha. Também lembro de dona Gertrudes, seu Conceição, o sapateiro, dona Baica, seu Nozinho e dona Joana. Até o vereador Íris Ramalho e sua esposa, pais do grande Dagmar Ramalho.Era o mês de outubro. Lembrei dos velhos e do destino de cada um. Chorei de saudade, senti um aperto no peito e um gosto de “cafezinho bom” na boca…*Advogado, poeta, historiador, professor de filosofia e membro da Academia Roraimense de Letras [email protected] ————————————Que tipo de crentes somos nós? – Marlene de Andrade*
“…Pois todos havemos de comparecer ante o tribunal de Cristo.” (Romanos 14:10).
Segundo o pastor Alfredo de Souza, da 1ª Igreja Presbiteriana do Brasil, em Boa Vista, Mestre e Doutor em História Social pela UFRJ e professor na UFRR de Teoria da História e História da Religiosidade, a Igreja, nos dias atuais, está vivendo um Evangelho egoísta, lutando por ferro, palha e madeira que logo, logo desaparecerão. Ele afirma, ainda, que os ímpios afrontam ao Senhor lutando pelos bens materiais que ao primeiro sopro se dissipam com os ventos. Ele deixa claro que não é errado ser rico, ou ter boa casa e carro do ano, o que não se pode é focar os bens materiais em detrimento das coisas de Deus.
Nesse contexto, ele também disse que a nossa luta deve ser para estabelecer a Glória de Deus aqui na Terra e que por isso não adianta acumular tesouros neste mundo, pois diante do Reto Juiz tudo vai ser queimado. Esse será o famoso batismo com fogo, ou seja, o juízo final.
Já pensou naquele palacete que alguém construiu com tanto amor e aquele seu carrão do ano e a sua polpuda conta bancária? Pois é, vai ser tudo queimado durante esse batismo. Não vai ficar nada aqui na terra, porém lá no céu Jesus está, desde já, preparando mansões celestiais para àqueles que verdadeiramente a Ele se converteu. E mesmo antes que venha o juízo final, morremos e tudo aqui deixamos. Sendo assim, será que vale a pena trocar uma vida terrena e tão passageira por uma eternidade junto com Deus?
O mundo está carente de crentes que cumpram a Palavra de Deus, pois no Brasil hoje tem perto de 40% de pessoas que se dizem evangélicas, mas que não produzem, infelizmente, diferença alguma no meio da sociedade. São os famosos “crentes” nominais, ou seja, só de “fachada”.
Desgraçadamente, os cristãos têm sido atingidos por ventos de doutrinas que descaracterizam a importância da Igreja de Jesus aqui na Terra. O que se vê hoje em algumas denominações é um absurdo. É gente caindo na “unção”, outras imitando vozes de animais, gritando palavras desconexas, ou então tentando barganhar com Deus a prosperidade financeira. E o mais grave é que, estão tirando Deus do centro e nele colocando “homens cheio do poder”.
Esse mesmo pastor ainda assevera que precisamos impactar a nossa sociedade vivendo com nosso testemunho cristão uma vida reta, buscando, cada vez mais, o aperfeiçoamento espiritual. Sendo assim, em meio a tanta confusão, pergunto a mim mesma: que impacto tenho causado no meio da sociedade como cristã? Será que vou à Igreja apenas para me tornar uma pessoa bem-sucedida financeiramente, ou o meu alvo é ver, de fato, estabelecida a Glória de Deus aqui na Terra?
*Especialista em Medicina do Trabalho/ANAMT, pós-graduada em Perícias Médicas e técnica de Segurança no Trabalho/Senai (095) 36243445——————————————‘Foi quage quinem seu tivesse dito’ – Afonso Rodrigues de Oliveira*“A maneira de falar e de escrever que nunca passa da moda é a de falar e escrever sinceramente”. (Ralph Emerson)Você expressa na sua escrita a sua maneira de falar. E expressa no seu falar, sua maneira de pensar. E isso é o que importa. Escrever corretamente nem sempre exige de você uma intelectualidade aprimorada. São coisas que aprendemos no dia a dia, na universidade do asfalto, mas com responsabilidade. O importante mesmo é que sejamos sinceros no que escrevemos expressando nossos pensamentos. Mas, cuidado com o que pensa. Você não é obrigado a pensar como as outras pessoas, por isso não se preocupe com o que elas vão pensar sobre seus pensamentos. Mas, cuidado com os pensamentos. Nunca perca um só momento do seu tempo com pensamentos negativos e vulgares. Divirta-se, em vez de se aborrecer com o falar errado das outras pessoas. Adorei, anotei e estou citando, hoje, essa frase que ouvi de uma senhora, na calçada: “Foi quage quinem seu tivesse dito”. Adorei.Adoro observar os sotaques. Já falei pra você do dia em que eu ia pela calçada do Fórum João Mendes, em São Paulo e reduzi a marcha para ouvi a conversa de duas garotas que iam na minha frente. Claro que eu não estava interessado na conversa delas, mas no sotaque. Eram duas paulistanas. E o sotaque da mulher paulistana, hoje, é uma delícia. Verdadeiro contraste do sotaque paulistano dos anos anteriores aos setentas. E tudo por influência da miscigenação populacional, sobretudo da nordestina.Os grandes cordelistas nordestinos, do passado, nunca aforam intelectuais. Zé da Viola e Xarute, também não. Minha queridíssima Dodora, em Pendência, no Rio Grande do Norte, também não. E todos eles produziram e produzem verdadeiras obras de arte na literatura brasileira, no cordel ou não. O sotaque é uma característica local. Ainda que confundido, não tão raro assim, com engano. Confesso que Roraima foi o único lugar no Brasil, onde ouvi um “r” rolado, depois de um “n”, como pronunciamos a palavra “Tinrol”. Nunca prestou atenção a isso? Acho que é coisa de brasileiro. E é por isso que não devemos criar neuras quando falamos ou escrevemos. O importante é que respeitemos a gramática, mesmo sabendo que nunca seremos leais a ela, por mais intelectuais que sejamos. Na década dos setentas trabalhei numa grande empresa em Niterói. Um técnico naval certa vez me disse que na gramática brasileira há muito erros, aceitados porque foram escritos por grandes intelectuais. Não sei se isso é verídico, mas é bom que não nos preocupemos tanto no nosso falar. Apenas sejamos sinceros. Pense nisso.*[email protected]