Cotidiano

Taxistas se unem aos motoristas de ônibus

Diante de novo protesto, vereadores pediram vistas do projeto que prevê gratuidade na passagem de ônibus a estudantes

Diante de novo protesto, vereadores pediram vistas do projeto que prevê gratuidade na passagem de ônibus a estudantes

O segundo turno da votação do Projeto de Lei (PL) nº 090/2015, de autoria do vereador Mário César (PSDB), que prevê a gratuidade na passagem de transportes coletivos a estudantes de escolas públicas e privadas da Capital, tumultuou novamente a sessão ordinária da Câmara Municipal de Boa Vista (CMBV). Sob vaias e protestos de motoristas de ônibus e de táxis-lotação, que paralisaram durante a manhã de ontem, os vereadores pediram vistas da matéria, que deverá ser votada daqui a nove dias. Na semana passada, houve protestos e o projeto também não foi votado.

A decisão dos vereadores em adiar a votação novamente gerou revolta por parte de representantes das categorias de transportes coletivos, que anunciaram a paralisação, por tempo indeterminado, de parte da frota de ônibus e táxi-lotação, que ficou aglomerada no Terminal José Campanha Wanderley, no Centro.

Segundo o presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Transporte (Sintrur), Marinaldo Costa, a categoria exige um posicionamento dos vereadores para que tomem uma decisão sobre o projeto. “Queremos que se resolva logo isso. É um projeto sem coerência, que não foi sequer estudado para ser apresentado”, criticou.

Conforme ele, a gratuidade na passagem para estudantes, que atualmente possuem desconto de 50% e representam cerca de 70% dos passageiros do transporte coletivo de Boa Vista, causaria uma série de prejuízos à empresa prestadora do serviço e aos trabalhadores. “Essa lei sendo aprovada, deixa a empresa sem estrutura para manter o quadro de funcionários, o que vai resultar numa demissão em massa, de 30% a 40% desse pessoal”, alegou.

Com receio de que a possível aprovação do projeto se estendesse aos táxis-lotação, a categoria se uniu aos motoristas de ônibus e também anunciou a paralisação de 70% da frota. “O serviço de lotação vai parar para pedir que a Casa vote logo esse projeto. Não dá para prejudicar a população, então, vamos paralisar e esperar alguma resposta dos vereadores”, disse o presidente da Cooperativa de Táxis-lotação da Capital, Edilson Almeida.

Principais beneficiados pelo projeto de gratuidade, dezenas de estudantes também marcaram presença na sessão. Para o presidente da Associação dos Estudantes de Roraima (Assoer), Arlison Nascimento, apesar de favorecer a classe, a proposta deve ser revista. “Somos a favor, mas esse projeto não atende toda a demanda de estudantes. Além disso, temos que ter regalias aos fins de semana também. A gratuidade é uma realidade em outras cidades, por que não aqui?”, questionou.

O pedido de vistas do projeto partiu dos vereadores Mirian Reis (PHS), Nira Mota (PV) e Marcelo Batista (PMN), que consideraram precipitada a votação em primeiro turno, ocorrida na semana passada, que aprovou a proposta por unanimidade.

Batista propôs a criação de uma comissão para ouvir todos os lados e analisar melhor a matéria. “Houve o pedido de vistas do projeto baseado na existência da Lei do Subsídio, que tem que ser repassada às empresas quando há gratuidade. Só que a empresa alega que não recebe há cinco anos, então propus que fizéssemos uma comissão para analisar quem vai ter prejuízo com esse projeto”, frisou o vereador.

AUTOR- Duramente criticado pela criação do projeto de passe livre aos estudantes, o vereador Mário César concedeu entrevista à Folha e defendeu a ideia. “Existem recursos assegurados para isso. Talvez não leram o projeto direito, mas não há prejuízo para a empresa. O poder municipal tem como custear. É um projeto muito bem elaborado que aponta as fontes de recursos federais, estaduais e municipais, onde a empresa irá faturar para manter o serviço na Capital”, afirmou.

População ficou desassistida

A paralisação total da frota de ônibus e de táxis-lotação, que iniciou nas primeiras horas da manhã de terça-feira, causou transtornos a muitos passageiros que dependeram do serviço. As paradas de ônibus e terminais ficaram lotados de usuários à espera da retomada das atividades dos motoristas. “Todo mundo quer defender sua parte na história, mas ninguém pensa no trabalhador, que acorda cedo e que depende de um ônibus ou de um lotação para chegar ao trabalho”, disse o vendedor Sebastião Almeida.

Cansada de esperar por um transporte no terminal, a auxiliar de serviços gerais Iranete Costa desistiu de ir ao trabalho. “É um prejuízo para nós, porque o patrão não quer saber se não tem como vir para o trabalho, só quer que venha e pronto”, frisou.

A determinação do sindicato era para que funcionassem 30% da frota de ônibus e lotação, como determina a lei, o que só foi cumprido após as 12h de ontem. (L.G.C)