Premissas do que seria uma pessoa humana – Sebastião Pereira do Nascimento*A partir de uma teia conceitual, ao longo da existência da humanidade muitos pensadores trataram de identificar o que é a pessoa humana. Entre várias argumentações a respeito desse entendimento, uma que me despertou atenção foi a definição do filósofo romano Boécio, o qual entende o ser humano como uma “substância racional de natureza individual, portadora de uma dignidade e de uma responsabilidade ímpar”, ele conclui.Embora esse conceito se distancia de tantos outros, ele se posiciona acentuando a compreensão humana sobre uma valorização, que a priori é digna de uma vida inalienável, não sendo só um atributo ou uma concessão de algo ou alguém. Boécio acrescenta ainda que só pelo fato de ser humano, o sujeito já se é digno. Contudo, isso, obviamente, parece ser unânime em todas as concepções do pensamento, salvo raras exceções que podem e devem ser discutidas conceituadamente.No entanto, essa conceituação humana sugerida por Boécio é uma argumentação importante, uma vez que na medida em que ao interpretar o indivíduo o autor enfatiza a dimensão da natureza racional e o caráter individual para definir a pessoa. Assim, dentro do que possamos entender o que seja uma pessoa humana, ratifico as observações acima complementando que apesar de a pessoa ser uma entidade individual, ela passa ser um elemento sociável do mesmo modo que posso afirmar que é um ser racional. Razões pelas quais muitos autores convergem para esse significado.Dessa maneira, o sentido racional do ser humano permite levá-lo a desenvolver habilidades, competência e, sobretudo o aprimoramento constante. Ao passo que pode também levá-lo ao emprego das virtudes norteadoras da conduta do bem individual e coletivo, já que trata-se de um ser sociável. Numa livre arbitragem, a pessoa opta por viver em grupos sociais cuja função é satisfazer a convivência comum, a qual sem essa coletividade a satisfação social se tornaria inviável. Boécio sugere ainda que quem faz o bem, ou escolhe fazer o bem não é apenas feliz, mas também é partícipe de uma significância maior. Diante disso, fica claro que a pessoa humana não é plena só por sua dignidade ímpar, ela necessita compartilhar “seu bem” com outras pessoas para que atinja essa plenitude.Todavia, isso deve ser cruzado com diferentes valores inerentes às qualidades da pessoa humana, sendo essa interseção muito importante para a prática do dia-a-dia de cada pessoa, uma vez que ela é “induzida” a unir sua “vontade de potência”, como argumenta o filósofo Nietzsche, numa possibilidade de acrescer nos valores essenciais prementes toda a condição humana, mesmo que em diferentes níveis exercidos entre cada indivíduo.Para Nietzsche, o ser humano projeta de alguma forma, fora de si, seu instinto de vontade, seu alvo para construir o mundo que é considerado um mundo metafísico, a coisa em si, o mundo da sua existência. Sua necessidade de partilhar inventa de antemão o mundo no qual vive e se antecipa, sendo essa antecipação o sustentáculo da sua vida e de seus semelhantes. O mesmo filósofo acrescenta ainda que a finalidade dessa antecipação é consequente da vontade de potência que se realiza em tudo o que acontece em volta do indivíduo; o qual traz consigo as condições que se assemelham a um esboço de finalidades. Pois, na medida em que alguém se dispõe em oferecer algo é sempre desejoso atribuir o maior grau possível de valor humano, no sentido de mostrar até que ponto podem as coisas carecer de sentido para nós ou até que ponto nós podemos suportar viver num mundo sem sentido.Por outro lado, isso implica numa teia de entendimento que garante ao indivíduo as condições essenciais mínimas para uma vida saudável e coletiva, além de propiciar e promover a corresponsabilidade no destino de sua própria existência, uma vez que Boécio diz que temos a invenção filosófica da dignidade humana como balizamento para tais deliberações e escolhas.Portanto, tendo tudo isso para reconhecer a grandeza da pessoa humana e suas limitações, assumir a nossa cota de responsabilidade no mundo e construir perspectivas que garantam a felicidade plena é algo exequível de ser feito. Por isso, acreditamos ainda que é preciso sempre avançar na ampliação daquilo que somos, permitindo a todos o direito de ser feliz e de buscar a plena realização, porque como ser singular, todos nós somos apenas uma parte da natureza humana, e nossa plena satisfação se dá na medida em que unimos todas as individualidades e nossa antecipação, uma vez que sem essas motivações e consciência não há atributos suficientes para qualificar a pessoa humana.* Filó[email protected]—————————————————Por que igualar? – Afonso Rodrigues de Oliveira*“Uma vez igualadas aos homens, as mulheres transformam-se em seus superiores”. (Sócrates)Desde o inicio do século vinte, e é o que sabemos, as mulheres vêm batalhando duro para igualarem-se aos homens. Uma batalha ferrenha. Luta renhida. Só que me parece sem equilíbrio. Por que igualarem-se se elas já são superiores? Nunca caia na esparrela de me perguntar quem manda em minha casa. Porque a resposta você já conhece: quando a dona Salete não está, quem manda é eu. Ontem entrei, casualmente, no prédio da Assembléia Legislativa. De repente um grande amigo cumprimentou-me com alegria, apertamos as mãos, e ele comentou não estar me encontrando nos eventos atuais. Aí respondi a meu jeito:- É que estou em prisão domiciliar. Ele riu forte e perguntou pela tornozeleira. Eu disse que não tinha. Ele riu forte e falou alegre:
– Tem, sim. Quer ver? Ele levantou meu braço esquerdo e falou tocando o dedo indicador na minha aliança:- Taqui, ooh… Pensa que não conheço essa? Rimos à beça e me diverti muito com o espírito saudável do meu amigo. Porque é assim que vivemos. Quando somos civilizados sabemos que a aliança, característica de um casamento seguro, não é mais do que uma tornozeleira que devemos amar e respeitar. É porque as mulheres são fortes que somos considerados fortes. Você já saiu de casa, pela manhã, sem sua mulher lhe perguntar se você está levando os documentos? Se você acha que isso é cafonice, cuide-se.Mas há um detalhe importante nessa luta pela igualdade. A que e a quem você quer se igualar? A liberdade está na sua capacidade de ser o que é. De viver a vida no palco do teatro da vida; não se deixando levar pela inferioridade dos que querem camuflar e encortinar a sua superioridade como mulher. Por que você tem que se preocupar com a idiotice dos que vilipendiam você, porque você é negra? Sua superioridade não está na cor da sua pele, mas na pessoa que sua pele veste. Preocupa-me ver os presídios femininos se superlotando de mulheres que estão veredando para o mundo do crime. Sua superioridade, querida, está em você manter-se no degrau superior, sabendo-se ser igual sem se igualar. Preferindo a igualdade nas diferenças. Sendo o que você é, neste mundo em que as desordens e desmantelos sempre foram frutos da pseudo-superioridade masculina. Enquanto o homem for homem e se colocar na posição de verdadeiro ser superior, a mulher será sempre superiora. Será sempre a useira e administradora da tornozeleira, em forma de aliança. Fique fria, garota. Nada de desarmonia causada por insegurança. Ninguém é superior nem melhor do que você. Pense nisso.*[email protected]