Bom dia!CENA 1Nós convidamos o leitor e a leitora da Parabólica para refletir sobre esta narrativa. O preposto do chefão de uma facção criminosa procura “Caju” e lhe encomenda uma tarefa criminosa que trará, com certeza, uma montanha de dinheiro para a organização criminosa. “Caju” tem dois parceiros, “Justiça” e “Índio”, e convida-os para ajudá-lo na consecução da empreitada criminosa. Os três são parceiros de outras tarefas criminosas e já demonstraram para a organização criminosa que os contratou imensa capacidade de realizar bem a tarefa recebida.CENA 2Dito e feito. A “mercadoria” é entregue. O que gera uma contrapartida pecuniária de alguns milhões, pagos pelo preposto do chefão da organização criminosa a “Caju”, que fica na obrigação de dividir o pagamento recebido com “Justiça” e “Índio”. Tudo muito natural e dentro da ética que preside a relação entre criminosos, assim como faziam nos áureos tempos de “Fernandinho Beira-Mar” e “Marcola”, só para lembrar alguns chefes famosos do crime organizado no Brasil, até serem presos em presídios federais de segurança máxima.REALIDADE 1A narrativa acima seria banal neste país onde o crime organizado rivaliza em poder com o Estado e ameaça dilacerar o tecido social tupiniquim. Acontece que as cenas criadas e narradas acima estão muito longe da ficção. Esta semana, os brasileiros e as brasileiras foram literalmente atordoados com a revelação de alguns trechos da deleção premiada de um ex-executivo da Construtora Odebrecht, Cláudio Melo Filho, no âmbito da Operação Lava Jato. Segundo as revelações de Melo, “Caju”, “Justiça” e “Índio” eram os codinomes de Romero Jucá (PMDB), Renan Calheiros (PMDB), presidente do Senado Federal, e Eunício Oliveira (PMDB).REALIDADE 2Segundo o delator Cláudio Melo Filho, esses três senadores, parte do núcleo duro do PMDB, eram os responsáveis por operarem os interesses da Odebrecht no Senado Federal. O interlocutor deles junto à empreiteira era “Caju” (Romero Jucá), a quem a empreiteira encomendava emendas a leis e a Medidas Provisórias que beneficiariam os negócios daquela construtora, que, como se sabe, tinha um departamento especialmente criado para pagar propina a políticos de toda natureza. Melo disse que a Odebrecht, após o “serviço” ser devidamente feito, pagava a grana para “Caju” (Romero Jucá), com a obrigação deste em dividi-la com “Justiça” (Renan Calheiros) e “Índio” (Eunício Oliveira).REALIDADE 3Segundo as revelações da Rede Globo, Cláudio Melo Filho, cujo depoimento tem mais de 80 páginas, cita “Caju” (Romero Jucá) nada menos que 105 vezes e diz que as propinas pagas ao senador chegam a mais de R$ 22 milhões. O delator disse ainda que a entrega da grana ocorria quase sempre em momentos que coincidiam com alguma eleição, dando a entender que isto permitia legalizar (lavar) parte da propina. Ele também citou algumas das emendas a leis e a Medidas Provisórias que foram aprovadas pela ação de “Caju”, “Justiça” e “Índio”, e que beneficiaram a Odebrecht.ATÉ QUANDO?Embora em redes sociais as novas revelações, no âmbito da Operação Lava Jato, tenham revelado a existência de muito mais gente gaiata do que pessoas capazes de sentirem alguma dose de indignação, fica difícil imaginar a que tempo o Brasil, enquanto Nação e sociedade organizada, vai utilizar-se dos instrumentos legais para defenestrar da vida pública este tipo de políticos que, mesmo citados em quase todos os recentes escândalos de corrupção, continuam dando as cartas no governo da República. Até quando?CONTRAPARTIDA 1As obras de restauração da BR-174, trecho Norte, na direção Boa Vista-Pacaraima, que inclui a implantação de uma terceira pista nas subidas da serra, está ameaçada de paralisação. É que alguns índios da Terra Indígena de São Marcos exigem uma contrapartida de R$ 4 milhões anuais, por 10 anos, para permitir que as obras continuem a partir do rio Parimé. Ao todo, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Terrestre (DNIT) terá que desembolsar R$ 40 milhões a serem pactuados e entregues às lideranças indígenas ao longo da próxima década. Sem a grana, nada feito. E você, o que acha disso?CONTRAPARTIDA 2O mesmo dilema será enfrentado pelo DINIT se o Governo Federal resolver fazer um trabalho de recuperação maior no trecho da BR-174, que atravessa a Terra Indígena Waimiri-Atroari, algo em torno de 120 km de extensão. Segundo fontes da Parabólica, as lideranças daquela etnia já fizeram chegar ao conhecimento das autoridades federais brasileiras que querem mais contrapartida para permitir trabalhos de conservação naquele trecho da BR-174. É bom lembrar que os Waimiri-Atroari já receberam uma boa grana quando a estrada foi aberta e outra bolada quando o Governo Federal resolveu asfaltar a estrada.MAIS CARAPouca gente sabe que parte da BR-174 (entrada da antiga Vila Pereira) até a sede do Município de Uiramutã é uma estrada federal e, como tal, sua manutenção é de responsabilidade do DNIT. Acontece que fazer a conservação daquela estrada sai mais caro porque a legislação não permite a utilização de piçarra no local. Todo esse tipo de material tem de ser trazido de outras regiões, o que torna quase impossível fazer obra para melhorar a trafegabilidade da estrada. É mole?