Opinião

Opiniao 16 12 2016 3397

A educação do rico versus a educação do pobre – Izabel  Sadalla  Grispino*A realidade educacional no Brasil é tema inquietante, a ser refletido por toda a sociedade brasileira. Realidade de duas faces: a boa educação para os ricos e a má educação para os pobres. Há décadas, Demerval Saviani, em seus livros, já denunciava a equivocada escola assistencialista, merendeira. São frequentes e periódicas as citações de especialistas da educação sobre o decadente ensino das classes menos favorecidas.O objetivo de toda escola deve ser o de tornar o aluno competente. A escola deve lutar, buscar os meios para realizar este objetivo, para dar aos alunos as ferramentas mentais de ação, a fim de que possam enfrentar o mercado de trabalho, hoje tão exigente. Nunca o livro didático foi tão necessário ao professor. A escolha de um bom livro poderá amenizar a situação do ensino público. Um livro que traga ao professor  instruções detalhadas, que propicie experiências abertas, exercícios práticos, onde se possa praticar o construtivismo. A criança precisa frequentar a boa escola, desde os primeiros anos de alfabetização, porque a aprendizagem é um processo em que uma etapa influi e explica a outra. A construção do conhecimento exige tempo, é preparação sistemática, gradual, encadeada, ligando os diferentes graus de ensino. Não é um simples “depósito bancário”, usando a expressão do educador Paulo Freire. Não adianta avançar etapas, se a aprendizagem não se concretizou. Hoje, temos bem clara a noção de que o importante não é a quantidade do que se ensina ao aluno, mas a qualidade do que ele aprende.O desinteresse oficial por uma escola pública de qualidade se constitui em mecanismo de reprodução das desigualdades. Concursos de ingresso ao magistério público há, em que Secretarias de Estado observam com rigor a porcentagem de acertos e erros, aprovando os realmente capazes – como o recente concurso, realizado no Rio Grande do Sul, onde 70% dos candidatos foram reprovados, ou o concurso de ingresso na Bahia, em 97/98, que reprovou cerca de 90% dos candidatos. Secretarias há em que, desconsiderando a má formação, rebaixam o nível de conhecimento, aceitam uma porcentagem de acertos inferior ou bem inferior ao que seria a média das questões, facilitando o acesso  para abarcar o maior número de candidatos, mas não garantem, depois, a qualificação necessária ao padrão requerido pela época.Em recente publicação do texto: “Duas experiências de ensino estruturado”, Cláudio de Moura Castro, assessor da Divisão de Programas Sociais do Banco Interamericano do Desenvolvimento, faz uma análise sociológica, cultural do Brasil, das últimas décadas e compara-o aos Estados Unidos. Ambos, diz ele, encontram dificuldades em “criar escolas capazes de oferecer um ensino de boa qualidade aos mais pobres e mais vulneráveis… têm escolas péssimas servindo a essa população”. Ambos têm grande desigualdade na distribuição de renda. Sendo que nos Estados Unidos “a maioria esmagadora é imensamente rica, embora tenha muitos bolsões de pobreza, sobretudo, nos centros urbanos”. No Brasil, ao contrário, temos “uma minoria muito rica e uma grande camada de pobreza, incompatível com nossa renda per capita”. O contraste entre Brasil e Estados Unidos está na grande diferença entre população rica e pobre. Se aqui poucos têm boa escola, lá a grande maioria a tem.Cada povo tem  a educação que o espelha e a nossa pouco nos engrandece.O magistério é  vocação sublime,  abre caminhos de esperança, de sonhos, de realizações. O professor é pedra angular, a fundamental na construção do ser humano. Batalhar a educação é batalhar a vida no seu grau supremo da promoção humana e social. Ela é essência, ultrapassa a dimensão circundante do Homem, alcança a dimensão cósmica, quando então, entra em comunhão com a obra do Criador e se torna a grande responsável pelo desenvolvimento sustentável do planeta, pela continuidade de nossa mãe-Terra, em sua missão de gerar novas vidas. “O que acontece à terra, acontece aos filhos da terra” – Seattle, chefe das tribos indígenas Duwarnish – Canadá.Vimos, em sequência, espalhando sementinhas, que a seu tempo – esperamos – se revertam no nascimento de árvores frondosas. Outras sementes, juntando-se a estas, romper-se-ão em outras árvores, que, no seu conjunto, formarão o cerne, a frente robustecida de combate, com núcleos de influência, semeando permanentemente. Se cada um fizer a sua parte, o grande encontro virá e coroado da salvadora redenção. Completo essas considerações com meus versos “O sono da combalida educação”.O SONO DA COMBALIDA EDUCAÇÃOA educação dorme no leito do atraso,Sono do descaso, da assistência falida,Da oscilante ideologia do acaso,Brotando uma atuação didática abolida.Quantos caminhos perdidos em sua dormência!Enquanto dorme, o mau ensino perdura,A criança se embrenha na estrada da falência,Os pais choram a perda da visão futura!Educação é luz, terra em maternidade,Gera o alimento para o corpo e para a alma,Sacia o sonho, a desigualdade acalma.Distribua o saber em social equidade.!

*Supervisora de ensino aposentada—————————————-Sampa – Afonso Rodrigues de Oliveira*“Alguma coisa acontece no meu coraçãoQue só quando cruzo a Ipiranga e Avenida São JoãoÉ que quando cheguei por aqui eu nada entendiDa dura poesia concreta de tuas esquinasDa deselegância discreta de tuas meninas” (Caetano Veloso)Sempre que passo pela esquina da São João com a Ipiranga, meu pensamento voa. Vai longe pra dedéu. E adoro passar por ali. Meu pensamento voou ontem à tarde, com a mudança do tempo. A ameaça de chuva me fez lembrar São Paulo. E quando me lembro de São Paulo, fora de lá, lembro-me de Sampa, no meu entender, uma das composições mais importantes do Caetano. Quem viveu aquela época, na chegada dos “Novos Baianos”, do movimento abrasador da música popular brasileira e mundial, não pode ficar indiferente a Sampa. Foi uma verdadeira revolução cultural.     A cultura é, e sempre será, revolucionária. Será sempre a mesma nas mudanças. “Alguma coisa acontece, que só…”, é uma expressão nordestina que o paulistano desconhecia, naquela época. E que levou muito tempo para se adaptar a ela, mesmo sem usá-la. E que levou a uma discriminação terrível que exigiu muita luta para ser banida. Mas foi. Uma época em que o paulistano que habitava o centro da Capital foi aos pouco se retirando para os bairros mais afastados, enquanto o nordestino “invadia” o centro da cidade. O centrão da cidade de São Paulo, hoje é um verdadeiro nordeste.     E isso foi muito bom para o desenvolvimento, tanto do Estado quando da Capital. Não sei se os historiadores concordam comigo, mas isso não me importa. Vivi intensamente aqueles momentos. Sei o quanto Caetano Veloso e Maria Betânia foram discriminados, até mesmo por grandes âncoras do rádio e da televisão locais. Um dos grandes âncoras, que hoje é nome de Rua, na Espraiada, sempre que se referia a Caetano falava: “Um palhacinho que anda por aí, chamado Caetano Veloso…”. E sempre que se referia à Betânia dizia: “Essa aí nunca vai passar de uma Maria Carcará…”. Ele se referia à música gravada pela Betânia: “Carcará, pega mata e come…”. E o importante é que toda essa lembrança passou pela minha cabeça, ontem, com a mudança do tempo. Foi muito importante ter vivido aquele momento, participando e vivendo cada momento, num dos momentos mais importantes na evolução cultural no Brasil. Daqui a mais uns dias vou dar uma olhadela naquele palco montado naquela esquina que tanto inspirou o Caetano. Depois eu conto pra você. Foi legal minha tarde, ontem, mastigando as lembranças de uma época que marcou muito minha vida. Época em que o Governador do Estado, Laudo Natel, falou: “Saudade é a presença da ausência”. Pense nisso. *[email protected]