Opinião

Opiniao 30 12 2016 3451

Brasil: Sempre terei saudades – Liliana Ayalde* Ao me preparar para deixar o Brasil, são muitas as lembranças maravilhosas de pessoas e de lugares que vou levar na bagagem. Da minha casa em Brasília, sob o vasto céu azul do planalto,refleti muito sobre os últimos três anos e o que vi e aprendi ao explorar este país superlativo, múltiplo e lindo.

Na cidade maravilhosa, vivenciei a hospitalidade do carioca quando o Rio recebeu milhares de convidados do mundo todo para os Jogos Olímpicos e Paralímpicos. Testemunhei o espírito esportivo dos competidores em muitos eventos nos quais os atletas brasileiros se destacaram e conquistaram corações. Vi os grandes avanços nainfraestrutura,andeina nova linha do metrô com minha família e visitei a Praça Mauá totalmente renovada.

Para os líderes das tribos norte-americanas esse evento foi uma oportunidade para renovar os laços culturais entre os Estados Unidos e o Brasil. Em São Paulo, joguei futebol com um grupo de meninas da rede pública que está aprendendo inglês e liderança como parte do programa Estrelas do Futebol do nosso consulado local. Por meio do esporte, celebramos a inclusão social, o empoderamento e os direitos das pessoas com deficiência.

A vastidão do Brasil é insondável. E a Amazônia é um exemplo disso. Fiquei deslumbrada com a natureza da região – como o encontro das águas e o balé dos botos cor-de-rosa – símbolos da biodiversidade singular do Brasil. Visitei o Parque Nacional de Anavilhanas e me encontrei com pessoas comprometidas em proteger esse tesouro mundial. É um orgulho trabalhar com o governo brasileiro para conservar essa região única e inesquecível.

A linguagem universal da música e da cultura une os nossos países. Fiquei emocionada como primeiro concerto da Orquestra Jovem do Estado de São Paulo nos EUA, frutoda parceria da JuilliardSchool e da Santa Marcelina Cultura. Em Belém, comemorei os 60 anos do CCBEU – Centro Binacional Brasil-EUA– ao som de acordes de jazz americano executados pela renomada Amazônia Jazz Band no Theatro da Paz. No Recife, assisti ao maestro Spok e Wynton Marsalis em uma emocionante versão jazz-frevo para comemorar os 200 anos do nosso consulado. Quando a Unidos da Tijucaanunciou que o seu enredo do Carnaval 2017 seriaa música americana, até arrisquei uns passinhos de samba!Em Minas Gerais, aninhado em suas pitorescas montanhas, visitei Inhotim, um dos complexos de arte contemporânea mais exuberantes e ousados do mundo, com o qual fizemos uma parceria para uma apresentação da renomada artista americana Candy Chang. Há alguns dias ouvi a Orquestra Sinfônica do Teatro Claudio Santoro de Brasília, sob a batuta de um maestro americano,tocarpeças clássicas do repertório dos EUA.

Vi também o futuro promissor do Brasil nos inspiradores encontros que tive com dezenas de Jovens Embaixadores. Obrigada Brasil, obrigada amigos brasileiros por esses três anos extraordinários em seu belo e vibrante país. Sempre terei saudades. *Embaixadora dos EUA no Brasil———————————Roraima e seus imigrantes venezuelanos – uma relação desigual! – Caroline Barroso da Silva*Para muitos, o acesso a muitos produtos alimentícios, de limpeza e até cosméticos importados só era possível por meio de viagens para outros países, o que demandava uma grande quantia em dinheiro, porém para os boa-vistenses esse acesso custava apenas duas horas de viagem de carro, e pronto, estávamos no centro de Santa Helena, primeira cidade depois da fronteira brasileira.

Podíamos comprar tudo que Boa Vista não nos oferecia, considerando duas particularidades: a primeira era o valor do real em relação ao bolívar, pois a inflação na Venezuela passava e ainda passa por uma instabilidade desenfreada em sua moeda, e a segunda é que por consumirmos a mesma energia da Venezuela, podíamos comprar eletrodomésticos na mesma voltagem, pois ao contrário do resto do Brasil, Boa vista não esta integrada ao território brasileiro quando o assunto é energia e sim ao território Venezuelano, pois é a Venezuela quem nos abastece.

Lembro-me que na minha infância energia à noite era privilégio para poucos que podiam arcar com o custo de um motor de energia, já que éramos abastecidos por um parque térmico local, mas que não suportava suprir toda cidade e alguns municípios próximos, como o de Mucajaí. Lembro-me do calor insuportável que fazia e dos mosquiteiros que cobriam minha rede a dos meus irmãos para que as muriçocas não nos picassem, por outro lado, a hora de dormir era a mais feliz, pois me lembro do meu pai balançando nossas redes e muitas vezes nos abanando na tentativa de aliviar o calor. Sem contar o lindo céu estrelado sem interferência da luz elétrica, não me recordo mais de ter visto outro céu como aqueles dos tempos da minha infância sem energia.

A partir de 2001 Boa vista passa a usar (comprar) energia da Venezuela e isso melhorou a qualidade de vida da população e mais municípios puderam ter acesso a luz elétrica. Talvez isso seja algo que olhando o resto Brasil é uma realidademuito distante, mas para nós, boa-vistenses representa um grande progresso pensando na perspectiva do desenvolvimento e de bem-estar social. Muitos outros motivos para ilustrar o significado da relação Brasil-Venezuela poderiam ser citados, como a compra de produtos com baixo custo e eram vendidos por um preço mais alto em Boa vista e durante muito tempo foi o ganha pão de muitas famílias boa-vistenses, sem contar as férias gozadas nas praias de Margarita, anos frequentadas por brasileiros a um baixo custo e com acesso via terrestre pela BR-174. Tempos bons aqueles!!

Considerando que essa relação de troca é uma relação de comércio para ambos os países, e que para muitos de fora do Estado de Roraima e até mesmo para os próprios roraimenses esses motivos não representam nada, mas de maneira bem particular representa muito para mim, pois essa relação de proximidade (fronteiras) me proporcionou ter acesso a coisas que o próprio Brasil não seria capaz de prover, não por não querer, mas muitas vezes pela própria natureza não permitir, como no caso da energia. Minha gratidão aos vizinhos venezuelanos!

Hoje, quando vejo a situação que os venezuelanos enfrentam ao cruzarem as fronteiras brasileiras me corta o coração. E acredite, essa migração é motivada pelas condições desumanas que hoje vive a Venezuela, a mesma Venezuela que em tempos passados abastecia seus vizinhos e que hoje é incapaz de suprir o mínimo necessário de comida para sua população.

Meu apelo hoje é que os roraimenses e o mundo comecem a olhar as pessoas para fora das suas fronteiras, pois isso é uma maneira de perceber o mundo de uma forma não nacionalista e mitigar o papel das nações no mundo. Qual o papel do Brasil na situação vergonhosa que os venezuelanos vivem em Boa Vista hoje? Qual o papel de Roraima com esses mesmos venezuelanos que hoje vivem alojados em calçadas, viadutos, feiras na esperança de que sobre algum alimento para garantir a sobrevivência de mais um dia? Mas o mais importante, qual o papel de cada família e roraimense em particular para com seus imigrantes vizinhos?

Acorda Roraima, se cada um dedicar um tempo ou algo do que tem para compartilhar com eles, da mesma maneira que um dia eles permitiram que tivéssemos acessos aos produtos e lugares em seu país, já passou da hora de retribuirmos. No Natal, minha mãe me disse que foi à feira para levar comida para muitos ali, e que alguns estavam comendo melancia estragada e que o alimento que ela levou, juntamente com algumas roupas e cobertores, fez toda a diferença naquela noite de natal para aquelas pessoas. No entanto, isso é muito pouco diante do desafio que Roraima enfrenta com os 30 mil venezuelanos que se encontram em Boa Vista vivendo de maneira indigna e irregular no País. Precisamos unir nossos esforços e não colocar a responsabilidade apenas em nossos governantes, pois cada venezuelano que passa fome na cidade de Boa Vista é de responsabilidade sua que esta lendo este texto. *Especialista em Relações Internacionais pela Universidade de Brasília-UNB.E-mail: [email protected].—————————————Eita vida boa – Afonso Rodrigues de Oliveira*“A vida é pra quem topa qualquer parada, não para quem para em qualquer topada”. (Bob Marley)Quantas topadas você deu durante este ano? Cara, você nem imagina como topei, tropecei, quase caí, mas fiquei de pé. E lá vamos nós. Pra que reclamar da vida? Ela está aí pra ser vivida. Pra que ficar aborrecido ou choramingar porque ganha pouco? É só você se aposentar pelo INSS. Cara, é o maior conforto que um brasileiro pode desejar. Os dias de pagamento do salário são os momentos mais felizes na vida dos aposentados. Você não imagina como me sinto orgulhoso quando vou à Caixa Econômica receber minha aposentadoria. É o maior conforto que uma pessoa idosa pode desejar. E por que ficar reclamando do governo, do País, dos políticos? Para com isso.

Ontem acordei meio atrasado. E como de costume, alguém deu uma cotovelada nas minhas costelas. Acordei e me toquei, estavam me avisando que era dia de receber o pagamento da aposentadoria. Levantei-me num pulo e em poucos minutos estava na filado do caixa eletrônico. Foi fácil, logo chegou minha vez. E veja como é simples e gostoso. Coloquei o cartão. Logo apareceu um aviso na tela: retire seu cartão. Retirei-o.

Logo apareceu na tela: digite sua senha. Digitei-a. Logo veio uma pergunta: pagamento do INSS? Toquei no sinal confirmando. Logo, outro aviso: saque disponível: Cr 235,00. Cliquei confirmando e veio o aviso: contando cédulas. E elas saíram: E eu saí feliz da vida, mas sem saber o que fazer com tanto dinheiro. Passei pela lotérica e paguei a conta do telefone. Sobraram exatamente vinte e três reais. Entrei em casa feliz da vida.

Viu como a vida é fácil e gostosa de viver? Só não sei é como vou explicar para a família como viver uma vida feliz. Sentei-me aqui e fiquei meditando sobre se será que alguém vive nesse sufoco. E se vive como deve suportar. Mas é aí que devemos ser superiores. Sabendo que colhemos o que semeamos. É bem verdade que minha brincadeira não é verdadeira, mas senti vontade de mexer com o que os administradores públicos não mexem. Que o novo ano acorde os dorminhocos e faça com que eles façam, e mantenham um País mais maduro e humano para que os menos favorecidos vivam a vida que merecem. Conto com você.

Porque cada um de nós tem que fazer sua parte. E o angu está na política. Sem uma política sadia e eficiente não melhoraremos. E a responsabilidade está em nós mesmos. Enquanto continuarmos elegendo mafiosos e desonestos, continuaremos marionetes no picadeiro do velho circo que vem montado desde nossa colonização. Mas já é tempo de mudar. Chega dessa vida de coitadinhos. Pense nisso.*[email protected]