Todos culpadosA Penitenciária Agrícola de Monte Cristo (Pamc) foi inaugurada na década de 80. Mas a obra começou a ser construída ainda na década de 70. Afirmo com propriedade porque meu pai, já falecido, trabalhou cavando as valas do alicerce daquele presídio. Aos sábados, quando o trabalho ia até meio-dia, ele me levava para lá, na garupa de uma bicicleta, na zona rural de Boa Vista, onde mal existia uma estrada de piçarra.
Meu pai sempre fazia isso. Foi assim com o Mercado Romeu Caldas, no bairro Mecejana, e no prédio do Fórum Sobral Pinto, na Praça do Centro Cívico, onde ele sempre trabalhou com o mesmo serviço de construção do alicerce dos primeiros prédios de Boa Vista. Na Pamc, lembro que os operários ficavam pequenos diante das imensas paredes dos corredores das alas que estavam sendo erguidos.
De lá para cá, nada mais se fez de obras relevantes naquele presídio, que virou depositário de gente por causa da superlotação e, mais recentemente, cenário de guerra medieval, com decapitação e esquartejamento de presos na guerra de facções criminosas.
Todos já sabemos que não houve investimento em nada, com um sistema largado ao descaso total, durante todos os governos eleitos a partir da década de 90. Como a estrutura foi ficando ultrapassada e a criminalidade só aumentou, não demorou para os problemas eclodirem.
Já com o sistema prisional sufocado pela falta de estrutura e superlotação, foi dado início à política de concessão de regalias aos presos, permitindo que surgissem os “líderes de alas”, o embrião para que o crime se organizasse e passasse a dar ordens dentro da penitenciária.
A situação era tão flagrante que havia até feira-livre dentro da Pamc, com as lideranças criminosas ganhando dinheiro com o comércio e recebendo regalias em troca de conter a explosão do barril de pólvora. Isso permitiu que os presos se fortalecessem, a ponto de surgir um poder paralelo dentro do presídio.
Houve um momento em que o sistema se corrompeu completamente, avançando das regalias para os pactos com os bandidos. E tudo era conveniente para os governantes, pois significava lavar as mãos, já que nunca houve política alguma para o setor. E tudo descambou para o surgimento das facções criminosas, cuja história todos já sabemos.
Logo, o surgimento do poder paralelo dentro da penitenciária, que permitiu a organização dos bandidos, com a instalação de facções criminosas, é resultado de seguidos descasos. E não há inocentes da década de 90 para cá. Todos os governos têm culpa por tudo isso que está acontecendo, inclusive o atual grupo que está de volta ao poder novamente…
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