Sua vida vale um cigarro? – Walber Aguiar*
Nesses dias tão estranhos, fica a poeira se escondendo pelos cantos. Renato Russo
Madrugada. Inverno. O mundo sombrio estava cada vez mais carregado de sombras. Sombras de ódio, marcas de dor, fragmentos de indiferença. A morte rondava os homens, com suas carrancas de medo e ilusão. Um cigarro, uma caixa de fósforos, uma facada. Mais um a engrossar as estatísticas de uma cidade sem educação e segurança.
Depois de desvalorizada a vida e banalizada a morte, não há como deixar em branco um acontecimento desses. Não podemos fingir que não vimos ou ouvimos nada. A não ser que estejamos cegos, surdos, loucos ou extremamente insensíveis.
Quanto vale a sua vida? Uma dose de cachaça, um cigarro de maconha, uma roupa de marca ou um relógio de ouro? Quanto você paga para existir num mundo desajustado e complexo? Estaremos pagando pelo erro de outros ou pelos nossos próprios? Seremos bonecos iludidos pelo livre-arbítrio ou cobaias de um Deus apático e sem graça?
Ora, a teodicéia (Deus é culpado pelo mal) tem várias vertentes. Uma delas é que para valorizarmos o bem temos que experimentar o mal, para conhecermos o alívio precisamos considerar a dor, para entendermos a graça temos que passar pelo sofrimento. Que a cura vem depois da doença. Que se Deus é todo bom, Ele não pode ser todo poderoso e se Ele é todo poderoso, Ele não pode ser todo bom.
Leibniz, filósofo alemão, num de seus ensaios, diz que a presença do mal no mundo não entra em conflito com a bondade de Deus. Que o livre arbítrio não é um brinquedo posto em nossas mãos; que atraímos sobre nós mesmos o bem ou o mal conforme nossa particular maneira de ver ou de agir.
O que nos assusta, um feto na lixeira, a violência gratuita de quem mata por um cigarro? Quanto vale a sua vida? Será que vale um cargo oferecido por um candidato em ano eleitoral? Se sua vida vale mais que um cigarro ou um pão amanhecido, então sua auto estima também tem que valer algo. O que não se admite é que as pessoas se anulem diante do poder que corrompe ou por ele sejam diminuídas.A vida pode valer muito ou pouco. Depende daquilo que fizermos com o que fizeram de nós.
Era madrugada. A chuva caía sobre o sangue na calçada. Ali nascia uma profunda reflexão. No canto empoeirado do boteco estavam Deus, um copo de cachaça e uma bagana de cigarro.
*Advogado, poeta, professor de filosofia, historiador e membro da Academia Roraimense de [email protected]
Mensagens motivacionais ou pregação do Evangelho? – Marlene de Andrade*O Fruto do Espírito Santo é: amor, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade e fidelidade, (Gálatas 5:22).Em algumas “igrejas”, as pregações dos pastores são meras mensagens motivacionais, sendo assim, nelas não existe a pregação da Palavra de Deus, e sim a de palestrantes tentando passar a ideia que nascemos para ser vencedores. No entanto, eles se “esquecem” de dizer que o mundo é cruel, jaz no maligno e que todos os dias enfrentamos batalhas.
Ser vencedor é ser como o Apóstolo Paulo, o qual mesmo em meio às perseguições dos romanos e judeus, preso e açoitado dentro da cadeia, declarava que tudo podia suportar por amor a Cristo. Não podemos no esquecer de que no mundo passamos por aflições e não declarar essa verdade nas pregações é insensatez.
Hoje as pessoas procuram “igrejas” que lhes proporcione um tempo de distração e entretenimento, cuja reverência nos cultos se tornou coisa do passado. Todavia, devemos entender que Igreja não é lugar para darmos gargalhadas e sim nos portarmos de modo solene, reverente e cerimoniosamente. Não podemos nos esquecer de que a Igreja não é circo para as pessoas se divertirem. E tem mais: o mundo jaz no maligno e por isso é mentira de pregador que afirma que o cristão não pode ficar doente, desempregado, ou passar por crises financeiras e familiares.
Em algumas igrejas desses nossos últimos dias, há pessoas falando em línguas “estranhas” fora e dentro do culto e sem intérpretes. As línguas idiomáticas não podem se resumir em “blá, blá, bla”. Paulo afirmou que ele preferia falar cinco palavras entendíveis a dez mil que ninguém compreendesse e olha que ele era poliglota, pois entre outras línguas, falava grego, latim, aramaico, hebraico e até a língua de Cirene.
Quanto aos “crentes fotógrafos”, vivem revelando o futuro, mas esse negócio de dizer que Deus está “revelando”, isso e aquilo é mentira, pois a revelação é a que está contida na Bíblia e ponto final. Em relação aos dízimos que depositamos no altar, não temos que esperar juros e nem correção monetária. Igreja não é caderneta de poupança. Entre outros serviços, ela serve para nos mostrar nossas imperfeições e não para fazer palestras motivacionais. *Especialista em Medicina do Trabalho/ANAMT, pós-graduada em Perícias Médicas e Saúde Pública, técnica de Segurança no Trabalhohttps://www.facebook.com/marlene.de.andrade47(95) 36243445
Nadando na democracia – Afonso Rodrigues de Oliveira*“Democracia é o regime que garante: não seremos governados nada melhor do que merecemos”. (Bernard Shaw) E a democracia também nos dá, e garante, o direito de merecermos o melhor. É só fazermos o melhor. E é aí que a jiripoca pia. Ainda não aprendemos a fazer o melhor e nem mesmo sabemos o que é melhor. O mudo todo está vivendo uma reviravolta igual às dos outros tempos. E por isso vamos falar do que ocorre conosco, aqui no nosso Brasil, que ainda não sabemos se é realmente nosso. Porque se soubéssemos, faríamos o melhor para melhorá-lo. E como tudo se inicia na Educação, tudo indica que ainda vamos viver os vexames que estamos vivendo, por muito tempo. Até que os responsáveis pela Educação aprendam que ela, a Educação, começa no lar. E isso só será possível quando tivermos lares preparados para educar. E que novos lares estamos preparando para a Educação futura?
Eles ainda estão com medo que descubramos onde está o nó górdio. E está bem aí. Nós é que ainda não somos suficientemente educados para perceber. Não há um povo educado que não saiba que não há democracia com a obrigatoriedade do voto e do serviço militar. Simples pra dedéu. Tão simples que ainda não entendemos que eles, os políticos de fato, sabem disso, mas fingem que não sabem. E continuarão nos mantendo como prisioneiros no círculo de elefantes de circo. Continuamos a ir para as ruas protestar contra os desmando cometidos por políticos que nós elegemos. E se nós o elegemos, a culpa pela má conduta deles é nossa.
Somos um país que tem tudo para ser um país respeitável. E uma vez respeitável, tem que ser respeitado. Mas, temos que fazer nossa parte. E não estamos fazendo. Estamos esperando que façam por nós o que nós mesmos deveríamos fazer. Vá refletindo sobre os desmandos de hoje e os evite no futuro. Mas, não vejo nenhuma perspectiva. Preocupa-me saber que logo que se vencer o prazo de afastamento dos políticos presos por desonestidade, eles voltarão ao cenário e serão eleitos novamente. Não é à toa que eles nos tratam como se fôssemos objetos e inferiores. Ou não é assim?
Vamos fazer nossa parte fazendo o melhor para melhorar o Brasil. E não fiquemos buscando exemplo do exterior, porque eles também estão vivendo uma revolução cultural, consequência do despreparo cultural. Não vamos nos iludir. Apenas façamos nossa parte como ela deve ser feita. E isso nunca será possível se não melhorarmos nossa Educação. E não nos esqueçamos de que as escolas não educam, elas ensinam. A educação dos nossos filhos é responsabilidade nossa. Então, repito: vamos fazer nossa parte. Pense nisso.