Admirável povo manso
Pedro Cardoso da Costa*
Todos devem se lembrar de muitos escândalos de corrupção nas várias esferas de governo. Quem lê jornais e revistas semanais sabe como essa notícia é corriqueira. Existem os casos mais volumosos nos milhões de reais, mas todos trazem imenso prejuízo à nação. Cada governo que entra repete as promessas e mencionam as ações de combate. Não demora para o noticiário trazer de volta o sumiço de grandes fortunas.
Com a chegada das chuvas de verão, as cenas parecem ser as mesmas de quarenta anos atrás – a diferença fica por conta da tecnologia, e todos ficam indignados; todos não fazem nada de efetivo em ações preventivas e construções seguras. A função das autoridades restringe-se à contagem dos mortos, com números incorretos.
Ocorre o mesmo com as vidas ceifadas pelas chamadas balas perdidas, que só ampliam de locais, onde elas alcançam pessoas inocentes e indefesas, antes restritas às ruas, agora, é em casa, na escola, na escola de samba, acordados ou dormindo, e todos ficam indignados; e todos não fazem nada de efetivo contra mais essa matança típica brasileira.
O mesmo acontece com crianças sendo violentadas, mulheres apanhando diariamente, ensino com professores tirando nota zero, escolas caindo aos pedaços, lixo nas ruas de todas as cidades brasileiras, terrenos baldios só criando ratos, favelas surgindo aos montes. São problemas que há décadas deixam todos indignados; todos não fazem nada de efetivo para solucionar.
E segue o mesmo comodismo com reclamações virtuais do dinheiro jogado pelo ralo em despesas com um Parlamento pouco produtivo e o mais caro do mundo.
Só que a grande maioria da população não tem poder nem cultura para organizar protesto. Quando isso ocorre, vândalos e até pessoas despreparadas, ou infiltradas, exageram e aí o pau come. E os que têm capacidade e espaço na mídia escrevem pouco, pois, apesar de agora serem atingidos pela violência desenfreada, ainda não sofrem na mesma proporção dos pobres das periferias.
“Admirável Gado Novo”, música de Zé Ramalho, retrata claramente o comportamento acomodado do cidadão brasileiro.
Caso continue a esperar sentado pelo cumprimento natural do dever das autoridades brasileiras, daqui a cem anos as águas continuarão carregando casas e vidas, como carregaram desde sempre. Essa massa de 200 milhões precisa sair da condição de gado manso e passar à ação efetiva. Mas, antes, os formadores de opinião precisam escrever que essa mudança se faz necessária. *Bacharel em Direito
O preço de um valor
Tom Zé Albuquerque*
A Ética está novamente em pauta mais que nunca no Brasil e é mais que evidenciada nos momentos em que as imundícies do poder emergem. O comportamento ético de tão exigido, tão confrontado, tão pautado no mundo político que agora está sendo tratado de forma banal.
O brasileiro, em geral, age fora do campo ético. Basta assistir às atitudes da sociedade no cotidiano, nos estacionamentos dos veículos, nos restaurantes, nas filas, no trânsito, no trabalho, nas festas… sempre nos deparamos com o infrator, com o fraudador consciente que, o pior é que se vangloria por fazer o errado. Na verdade, já nem importa se aquilo é errado, a burla já está inserida no repertório de suas ações como algo trivial, afinal, “besta é que é besta!”
A sociedade brasileira vive uma crise de valores, seja qual for: lógicos, utilitários, estéticos, afetivos, econômicos, religiosos, morais e éticos. Valores tratam das relações entre os seres (humanos e suas ideias), pois, valorar trata de não ser indiferente à determinada situação. Um grande problema é que os valores são, primeiramente, herdados; para isso, os comportamentos de uma criança e de um adolescente dependem muito dos exemplos que os circundam. E, nesse contexto, os valores Éticos e Morais são, não raro, figurados como base de uma sociedade organizada. Pelo menos deveria ser.
Consideremos que Moral é o conjunto de regras que definem o comportamento das pessoas em determinado grupo social; ou seja, o que a sociedade aceita como certo há de ser cumprido pelos indivíduos. Por incrível que pareça, quando uma nação, como a brasileira, aceita passivamente a impunidade, a apropriação indébita, o peculato, o extermínio de direitos, a desigualdade e a iniquidade, o alicerce moral desta sociedade está comprometido, corroído pela intercorrência de um egoísmo desenfreado que manipula e expande o senso comum num nojento acovardamento dos manipuláveis.
Enquanto isso, a Ética reside na reflexão sobre os atos morais, a partir do entendimento intrínseco de cada um. A própria palavra vem do grego Ethos, que significa “morada humana”, consubstanciando como um comportamento que parte da decisão individualizada para o externo. Dessa forma, quando um indivíduo acredita ser ético aquele ato por ele praticado, mesmo contrariando as regras morais, age ele em harmonia com sua consciência, mesmo revestido de hipocrisia, mas crendo ser aquele um comportamento virtuoso. Imagine caro leitor, como está sendo construído o futuro do Brasil, um país no qual o crime compensa, estudar é desperdício e roubar é esporte nacional.
O que mais tenho suscitado em minhas explanações nos últimos tempos é sobre a caótica realidade do povo brasileiro pela falta de senso de coletividade. Isso é quebra de valor. Isso é fatiamento social, que quando não isola, extingue determinada camada na sociedade, comumente aquela com baixo senso crítico e, geralmente, com alto desejo de dependência, pela conformidade de não ser valorada, exceto no horário eleitoral a cada dois anos.
Quando Max Gehringer proferiu “Não eduque seu filho para ser rico, eduque-o para ser feliz,assim ele saberá o valor das coisas e não o seu preço”, certamente ele sequer sabia que os valores desenvolvidos entre crianças e adolescentes brasileiros já estavam cercados de ganância, poder econômico, ambição desproporcional e uma sórdida dominação de poder. Serão estes os adultos do futuro. Que tal? *Administrador
Bons por Natureza?
Alexandre Roberto Andrade Cavalcante*
Muitas pessoas já pensaram ou ainda pensam que a espécie humana é egoísta por natureza. Que cada pessoa já nasce egoísta por natureza. Que tal então modificar essa característica egoísta da natureza humana por algo mais cordial, benevolente, bondoso etc.? Existe um procedimento científico de manipulação genética que é capaz de diminuir essa atitude egoísta dentro de nós, e esse procedimento é chamado de Eugenia.A eugenia é o estudo do aperfeiçoamento genético da espécie humana, e esse estudo tem apresentado várias controvérsias. Algumas pessoas acham que a eugenia é algo positivo, pois por meio dela a ciência já pode tratar de doenças que são hereditárias. Por outro lado existem aqueles e aquelas que acreditam que a eugenia vai aumentar a reproduzir cada vez mais a discriminação e o preconceito que já existe.
Por que um estudo científico vai reproduzir tanta discriminação e preconceito racial? Por meio da eugenia a ciência é capaz de moldar o comportamento, a fisionomia, fisiologia e estrutura hormonal de uma pessoa. Se continuarmos avançando com o estudo da eugenia sem observar as regras da bioética, num futuro próximo, as pessoas poderão criar seus filhos e filhas segundo a sua própria vontade. Ou seja, o nariz, a boca, o cabelo, as mãos etc. são frutos de uma manipulação genética e não de um ato de reprodução natural.
Um dos regimes políticos mais horripilantes da história da humanidade, o Nazismo, colocou em prática a eugenia e através dela dizimou mais de 6 milhões de judeus e judias a fim de estabelecer um país puro racialmente. A eugenia é um perigo para a humanidade e deve ser abominada. Moldar o comportamento humano através do seu código de DNA é pedir que no futuro criemos pessoas cada vez mais destituídas de humanidade. Podemos até nascer com doenças hereditárias, mas a espécie humana não é egoísta por nascimento. É o convívio social que faz a gente se tornar o que somos.
*Estudante de Ciências Sociais do 8º semestre da UFRR
Bendita crise
Afonso Rodrigues de Oliveira*
“Bendita crise que vai me ensinar o que é verdadeiramente importante. Bendita crise que está me mostrando a luz”. (Mirna Grzich)
O Brasil não está fora do lamaçal de crises que está afogando todo o mundo. Assim como não sabemos quantos dilúvios já houve sobre a Terra, não sabemos quantas crises já sofremos na Terra. E o que isso tem nos trazido de benefícios ou de prejuízos? Sei lá. Mas acredito, piamente, que cada um sofre ou vive as crises de acordo com sua capacidade de viver. As crises sempre nos enriquecem. É no sofrimento que mostramos o que somos. E você já conhece a sabedoria do Victor Hugo: “Devemos ser o que não somos, mas sem deixar de ser o que somos”. E é assim que vencemos os desafios das crises. Nunca classifique uma crise como maldita. Ela sempre será bendita.
As crises que estamos vivendo e já vivemos sempre foram consequências do nosso aprimoramento. Porque quando nos aprimoramos passamos por polimentos que nos ardem na pele. E o mais importante é que o ardor judia na pele da alma. E é por isso que quando sabemos suportar o ardor, sabemos como dominar os problemas causados pelas crises. E não saber enfrentar isso já é uma crise interior. Estamos enfrentando e encarando uma crise com aspectos diferentes. Estamos tirando o lodo do lamaçal político. Simples pra dedéu.
Quais são seus planos para respirar depois do redemoinho? Mais uma vez vamos sobreviver. Mais uma vez vamos mostrar para nossos descendentes qual foi nossa capacidade de enfrentar e aprender com as crises. E é evidente que outras crises ainda virão. Mas será que estaremos preparados para encará-las? Acredito que não. E olha que não sou pessimista; sou apenas realista. E como tal confio em você. Acredito que você fará o melhor que puder fazer para que encaremos a nova crise com maturidade. E só conseguiremos isso quando formos realmente um povo civilizado. E está longe para dedéu, alcançar o pódio; porque tudo vai depender do aprimoramento da nossa Educação. E pelo que vejo, os planos expostos não são diferentes dos do passado.
Um dos mais importantes suportes para melhorar o futuro é vivê-lo como presente. E não conseguiremos isso enquanto ficarmos presos ao passado. E só aprendemos quando só levamos do passado para o futuro, o que aprendemos no passado. E só aprenderemos no futuro vivendo sabiamente o presente. E, infelizmente, não estamos fazendo isso no presente que estamos vivendo. E como é que queremos viver o futuro quando ele for presente? Debulhe essa espiga. Vamos viver a crise como um aprendizado, cada um de nós fazendo sua parte como ela deve ser feita. Pense nisso.