Jessé Souza

opiniao 3743

Resistindo ao tempo

Sou do tempo da máquina de datilografia e do telefax, que “cuspia” textos e fotos em papéis de textura lisa, como se fossem pergaminhos sintéticos. E desde que a internet se popularizou, em Roraima, quando sequer eu tinha um e-mail, ouvia os cavaleiros do apocalipse pregando que os jornais de papel iriam morrer em pouco tempo. Sobrevivemos.

Porém, mais recentemente, com a chegada das redes sociais, dos youtubers, dos chamados influenciadores digitais e do WhatsApp, as aves do agouro passaram a pregar que a imprensa tradicional irá desaparecer, ao ser devorada pelo imediatismo da internet e com todos tendo a ampla possibilidade de produzir informações e “notícias” a qualquer momento.

Sobrevivente das barulhentas máquinas de datilografia e das redações empestadas pela fumaça dos cigarros de jornalistas nervosos, é como se eu tivesse saído da “pedra lascada” e passado a viver na “pedra polida” dos silenciosos computadores, com a substituição das fotos em papel, que precisavam ser reveladas em cubículos escuros, por máquinas digitais que armazenam fotos com seus pixels em telas cada vez mais modernas.Minha geração sobreviveu a mais brusca transição que a imprensa tradicional poderia sofrer. E está passando por uma nova transição, da qual não se sabe onde tudo isso vai parar, mediante a agilidade da internet e da reatividade das pessoas nas redes sociais, com seu poder de penetração em todas as camadas da sociedade.

Tenho pesquisado opiniões de especialistas sobre o futuro da imprensa e ninguém se arrisca a dizer o que virá no futuro. Porém, existe uma unanimidade: seja qual for a mudança, da datilografia ao computador, do papel ao pixel, do tradicional ao futurismo, a imprensa sempre terá que manter o princípio de ser leal aos fatos, trabalhando de forma honesta com o leitor, tendo a verdade como a matéria-prima, sem qualquer espécie de manipulação.

Foi assim quando saímos da linotipo à rotativa, quando saltamos do papel para o mundo virtual e, neste momento, quando não sabemos que tipo de plataforma teremos em um futuro não muito distante. Sabe-se apenas que a imprensa sempre resistirá, mesmo que governos de esquerda e de direita queiram silenciá-la e desacreditá-la para que o público deixe de ler.

Todos os políticos e governantes do mundo sabem que somente uma sociedade bem informada, que lê e que desenvolve seu senso crítico terá condições que combater qualquer ditadura, seja de esquerda ou de direita. Afinal, quando os governantes querem impor qualquer tipo de totalitarismo, a imprensa é a primeira a ser atacada. É por isso que eles querem a morte imediata da imprensa.

*[email protected]: www.roraimadefato.com