Memórias de um teatro inexistente
Walber Aguiar*
Fazer política é administrar o circo a partir da jaula dos macacos Drummond
Era uma tarde de terça. Muitos desciam a Glaycon de Paiva. Carros, motos, bicicletas, transeuntes. De um lado o nababesco prédio ladrilhado de branco e grená, do outro um terreno abandonado, desprezado, “largado pras cobras”. Além dos “ratos”, com e sem gravata que vagavam ao sabor das ondas políticas, o teatro existia apenas no papel.
Ora, a cidade carecia de cultura, precisava de alguma coisa que iludisse os sentidos e amenizasse a dura realidade da vida. Decerto que os “palhaços” estavam soltos pela periferia, na tentativa de armar seus “circos eleitorais”, com a finalidade de fazer rir o povo metido em depressão, angústia e ingenuidade.
Na ausência de um teatro municipal que agregasse o respeitável público e seus artistas, os bobos da corte viviam nos palácios, na tentativa de melhorar o humor do “rei” e dos subservientes que o cercavam.E a memória do teatro? Essa não existia, pois apenas o mato e os bichos tomavam conta do local, num espetáculo de caras e bocas, onde a iluminação era feita pelas estrelas e o som vinha dos carros que passavam pela avenida.
Não muito distante dali estava o falecido Carlos Gomes, ironicamente postado ao lado da “igreja dos mortos”. Embora maquiado por fina camada de fraudes e enganações, a casa de espetáculos não resistiu ao passar dos anos. Depois de tantas “reformas” acabou completamente abandonado.
Os atores se valiam apenas do SESC, onde apresentavam suas peças e encenavam personagens os mais variados. Os atores políticos maquiavam seus rostos cheios de cinismo e indiferença; os atores sociais “pagavam o pato”, pois a eles destinava-se apenas o pão sem circo, a comida sem arte, a barriga cheia sem imaginação e entretenimento.
E o dinheiro onde estava, e as quinhentas vagas de estacionamento? O dinheiro estava descansando em algum bolso ou conta bancária. O estacionamento conseguia abrigar milhares de homens e mulheres do povo, acostumados que estavam com a estagnação cultural e seus pobres natais, arraiais e carnavais…
*Poeta, professor de filosofia, historiador e membro da Academia Roraimense de Letras [email protected]
Chega de injustiças
Marlene de Andrade*
Quem cometer injustiça receberá de volta injustiça, e não haverá exceção para ninguém. (Colossenses 3:25).
Está na hora do empresariado exigir respeito por parte da Justiça do Trabalho. Chega de achar que todo empregador é bandido e o empregado a grande vítima da patronal. É inadmissível perceber que existem juízes do trabalho que dão sempre um “jeitinho” de proteger os trabalhadores mesmo que os mesmos não sejam honestos. Além disso, existem “advogados” que se corrompem sem nenhum pudor.
Se o empregador não presta e é um déspota, tem que pagar pelos seus erros, mas daí achar que todo trabalhador é “bonzinho” e vítima dos patrões não dá para entender. Fui condenada pagar Cr$ 15.000, 00 a uma funcionária que vinha me furtando há anos e para recorrer tive que fazer um empréstimo, pois o depósito para recorrer à 2ª instância ficou em Cr$ 8.000,00 e ainda perdi nessa instância. O processo está recheado de provas o meu favor e aí, o que dizer disso? Chega de afirmar que o empregado é sempre o coitadinho porque essa não “cola” de jeito nenhum. Na vida cada um tem que cumprir seu papel com dignidade e ponto final. Que ganhar melhor? Vai estudar, ou virar empresário também.
A indústria das reclamações falsas e cheias de simulações tem que acabar. Os empregadores, a nível nacional, precisam gritar bem alto que chega de tanta injustiça. Claro que existem juízes íntegros, honestos e que julgam com imparcialidade, mas têm alguns, infelizmente, que atuam de forma muito vil.
E esse negócio de advogado pedir aos seus clientes para fazer um “acordo” porque cabeça de juiz é que nem “bumbum” de neném, é ardiloso. As relações de trabalho, não podem pender para o lado do trabalhador e nem para o do empregador, pois tudo deve ser feito com ordem e decência e dentro da lei.
É verdade que existem empregadores tiranos, mas nem todos são assim e há empregados que furtam descaradamente, simulam doenças, não trabalham corretamente e entre outros, vivem levando atestados “frios” para a empresa e depois quando são demitidos entram contra o empregador na Justiça do Trabalho e numa grande maioria das vezes ganham a causa. E o interessante é que, o empregado pode contar todo tipo de mentira que não responde processo. Penso que se o empresariado se organizasse e lutasse por seus direitos essas barbáries que ocorrem na Justiça do Trabalho acabariam.
Quanto à simulação se tornou um comércio dentro da Justiça do Trabalho e o pior é que existem advogados coniventes e até médicos ajudando simuladores. Será que a OAB pode intervir nesse problema, pois já está demais.
*Especialista em Medicina do Trabalho/ANAMT(95) 36243445
Platão de plantão
Afonso Rodrigues de Oliveira*
“O pior da vida é sair do mundo dos vivos antes de morrer”.
O calor abrasador está levando a dona Salete ao desespero. Há dias ela vem me azucrinando, querendo derrubar meu quartinho onde guardo minhas bugigangas. É que o quartinho fica no final do terreno e impede a circulação do vento. E quando ela quer, quer. E não adianta discutir. Relutei um pouco, mas perdi a arenga. Sem mais delongas, ela chamou o Antônio. Um cara que desde o início dos tempos faz remendos em nossa casa que nunca ficou concluída. Ele chegou e ela já foi dizendo o que ele deveria fazer. Logo que as coisas ficaram às claras, arrisquei e perguntei:
– E como é que você vai pagar pro Antônio? – Ela me olhou com sarcasmo e respondeu: – Te vira.
Mas, graças a Deus, o Antônio já nos conhece. Ele me olhou com a cara mais safada que já vi e não falou nada. Entendi que ele tinha entendido minha situação. Saiu com jeito de quem não tinha resolvido nada. À noite a dona Salete chegou-se e me tranquilizou:
– Pronto… Acabei de ligar pro seu Antônio e suspendi o trabalho. Fica pra quando você puder. Fazer.
E foi aí que o boboca aqui pisou na bola. Cismei de dar uma de esperto e caí do cavalo:
– Eu não acredito… Você fez isso com o cara? Ele está precisando trabalhar. Ele tem filhas pra sustentar. – Ah, é? Pere aí.
Ela pegou o celular e ligou:
– Seu Antônio… Estive pensando melhor e resolvi: pode vir amanhã cedo e iniciar o trabalho.
Dancei. Esqueci-me dos ensinos de minha mãe: “Quem muito fala, muito erra”. O Antônio chegou e trouxe um ajudante que fala mais que a boca. Houve uma hora em que ele parou de quebrar o concreto, olhou pra mim e falou:
– Olhe… As pessoas falam, falam, mas não se dão conta de que se elas quiserem realmente mudar as coisas, elas têm que primeiro mudar o seu jeito de ver as coisas.
Olhei pra ele e arregalei os olhos. Ele gostou e continuou:
– É assim, sim. Todo mundo vive reclamando, mas não faz nada pra mudar. Ficam esperando que as coisas mudem. O senhor não acha? As pessoas pensam que eu estou falando como um Platão, um Sócrates, mas não é não. Não é filosofia, não. É a pura realidade. As pessoas é que não entendem.
Acreditem. Ouvi isso, ontem, do ajudante de pedreiro, do pedreiro Antônio que há anos vem cuidando de nossas modestas construções. Durante o dia prestei bem a atenção às conversas do ajudante do Antônio. Ele é muito fluente para a profissão que exerce. E vez por outra seu chefe piscava pra mim quando ele dizia alguma coisa que lhe parecia absurdo. Mas apenas parecia. Pense nisso.