Opinião

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Um longo caminho

Roberta Caravieri*

A cada ano, o mês de março é marcado pela divulgação midiática de campanhas, matérias de jornal etc. em homenagem ao Dia Internacional da Mulher. Apesar de ser uma oportunidade de levantar as questões relacionadas à equidade de condições de trabalho, remuneração, carreira, entre outros aspectos; esse curto período de um mês (quando muito) nunca foi suficiente para abordar o tema com a profundidade merecida.

A boa novidade é que, de uns poucos anos para cá, por demanda da própria sociedade, a mídia tem voltado sua atenção aos aspectos relacionados ao empoderamento feminino além desse período e numa proporção maior do que acontecia antes. Isso propiciou uma mudança de comportamento nas organizações, que passaram a dedicar atenção ao desenvolvimento de políticas internas que pudessem minimizar as diferenças entre homens e mulheres para que oportunidades iguais de carreira, remuneração etc. venham a ser alcançadas.

Em algumas atividades é até superior. No segmento de seguros, por exemplo, cerca de 56% do total de funcionários das seguradoras no Brasil são mulheres, segundo o 2º Estudo Mulheres no Mercado de Seguros no Brasil, da Escola Nacional de Seguros. Esse índice está próximo aos 60% registrado no mercado norte-americano.

E, nesse processo de mudanças, as organizações começaram a contar com um quadro mais diversificado de pessoal, que trouxeram vivências, culturas, experiências e visões de mundo igualmente diversas, mas que agregaram substancialmente em termos de produtividade e inovação às empresas.

É claro que, nem sempre foi um caminho fácil. Basta lembrar das dificuldades enfrentadas pelas pioneiras que inspiraram muitas profissionais de hoje em dia. Zilda Arns sempre lembrava em entrevistas que, na década de 1950, um professor a reprovou em seu primeiro ano na faculdade por considerar um absurdo uma mulher cursar medicina. Mais tarde, a médica iria se especializar justamente na matéria desse professor, pediatria, e ser responsável por uma metodologia de combate à mortalidade infantil reconhecida mundialmente e que, até hoje, tem evitado a morte de milhões de crianças.

Outros exemplos não faltam nos mais variados campos do conhecimento, seja na ciência, arquitetura, engenharia, finanças ou nas organizações público, privadas ou não-governamentais. As mulheres iniciaram uma jornada para quebrar paradigmas e ter reconhecido o valor de sua contribuição na sociedade. Nas últimas décadas, muitos passos já foram dados. Mas ainda há um longo caminho.

*Formada em administração de empresas, conta com especialização em Modelagem Estrutural pela Fundação Instituto de Administração.

 O eleitor não é vaga-lume para aceitar lista fechada

Júlio César Cardoso*

Hoje, no Brasil, podemos afirmar que os partidos e políticos eleitos não mais nos representam, respeitadas as poucas exceções, tal é o enorme envolvimento deles com a corrupção.

A verdade é que a política nacional está contaminada. Poucos escapam. Fechar o Congresso é o mínimo que deveria ser feito. E depois marcar novas eleições sem a presença de nenhum atual ou ex-político.

Agora, como sói acontecer e sem nenhum escrúpulo, a solércia de agir escancara a destreza de nossos políticos em encontrar o jeitinho encardido de perpetuar no poder as velhas raposas políticas. Pois bem, com a proibição do financiamento das campanhas eleitorais por empresas e o risco de ficarem inelegíveis com a descoberta de crimes, deputados, senadores e políticos do Executivo tentam criar um novo sistema eleitoral, para escapar da rejeição do eleitor e garantir reeleição na campanha do próximo ano. Trata-se da eleição dos congressistas em lista fechada, cujo artifício está sendo plasmado em reforma política sem o beneplácito da sociedade.

Lista fechada é um golpe na democracia. Uma punhalada no eleitor. O povo tem o direito de conhecer em quem vai votar. Votar no escuro é uma safadeza e uma enorme desconsideração com o agente principal da democracia: o eleitor, o povo. Quem se dá bem no escuro é vaga-lume, e o eleitor não é vaga-lume.

A democracia pode perfeitamente funcionar sem partido político, por exemplo, através da candidatura avulsa sem vinculação partidária – aqui com as despesas de campanha bancadas conjuntamente pelo candidato e por um fundo a ser criado em substituição ao Fundo Partidário -, ou com o sistema misto: candidatura avulsa e partido político, mas sem lista fechada, a qual só dá sobrevida aos caciques de nossa política, que

encabeçarão a lista preordenada por cada partido, mantendo o decrépito sistema proporcional. Por fim, a reforma política deveria contemplar, além do voto distrital puro e a candidatura avulsa, (1) a extinção do voto obrigatório, da reeleição geral e do foro privilegiado, (2) a proibição de interrupção de mandato para exercer cargos nos governos; (3) o retorno do mandato geral de quatro anos, bem como das eleições na mesma

data para todos os pleitos; (4) o impedimento da participação em pleito político de qualquer integrante concursado dos Três Poderes, pertencente à administração direta ou indireta, por exemplo: funcionários do BB, Caixa Econômica Federal, Petrobras, Receita Federal…, bem como professores concursados da rede pública e militares em atividade; (5) o corte das verbas de gabinete: os funcionários de gabinetes e assessores de políticos deveriam ser servidores concursados dos quadros do Legislativo; (6) que o reajuste salarial nos Três Poderes passasse a obedecer, por exemplo, ao índice anual do IGPM acumulado no período.

*Bacharel em Direito e servidor federal aposentado

 Reformas ou retrocessos?

Ranior Almeida Viana*

Essas reformas propostas e feitas pelo Governo Temer em si nos remetem a um retrocesso profundo, vejamos a Reforma do Ensino Médio que voltou a ser como já foi um dia. Pedagogia Tecnicista oriunda dos Estados Unidos na segunda metade do século XX e chega ao Brasil entre as décadas de 60 e 70 do século passado, essa que moldava a sociedade à demanda industrial e tecnológica da época.

Reforma do Ensino Médio que foi feita tira a total ênfase das disciplinas Filosofia e Sociologia que, convenhamos, essas bem ministradas contribuem bastante para formar, além de um cidadão, alguém que tenha o mínimo de senso crítico o que não é interessante para este governo.

Reforma da Previdência é de um retrocesso tamanho, porque nos remete à primeira forma de aposentadoria que se tem notícia, que foi a lei dos sexagenários ou Lei Saraiva-Cotegipe (n° 3.270) de 28 de setembro de 1885, que garantia a liberdade para os escravos com mais de 60 anos, fazendo com que estes trabalhassem por mais 3 anos a título de indenização a seus proprietários. Já os escravos que atingiam 65 anos eram dispensados de suas obrigações, lembrando que a expectativa dos escravos eram de 45 anos.

Na proposta do governo, a idade mínima é de 65 para aposentadoria, igual à da lei dos Sexagenários, e para receber aposentadoria integralmente tem que se contribuir por 49 anos. Essa proposta, que provavelmente passará, é parecida com a de muitos países da Europa, só que não estão levando em consideração a expectativa de vida do brasileiro, que é de apenas 73 anos, diferente da expectativa de vida dos europeus que é em média de 80 anos.

Em seu artigo de opinião publicado no jornal folha de São Paulo, publicado em 21/03/2017, o ator Wagner Moura foi muito feliz quando disse: “Se o governo enfrentasse a sonegação das empresas, as isenções tributárias descabidas e não fosse vassalo dos credores da dívida pública, poderíamos discutir melhor o que alardeiam como rombo da Previdência”.

Entretanto, essas reformas deveriam ser mais discutidas com a sociedade, e não serem empurrada “goela abaixo” como estão. Pelo que consta a ampla maioria dos congressistas estão dando pouca importância às manifestações e opiniões públicas. Ressalvo aqui a postura admirável do senador Paulo Paim, que protocolou essa semana o requerimento para criação da Comissão Parlamentar de Inquérito da Previdência.

*Licenciado em Sociologia – UERR, bacharelando em Ciências Sociais – UFRR[email protected]

 Habituados

Afonso Rodrigues de Oliveira*

“Habitualmente as pessoas usam apenas uma pequena parte dos poderes que possuem e que poderiam usar em circunstâncias adequadas”. (William James)

Os fins de semana sempre foram adequados a reflexões. Mas já estamos habituados, forçados pelo modernismo, à tentação de desperdiçar os momentos que poderíamos usar para nosso aprimoramento racional.

A cada dia de nossas vidas, procuramos ser o que realmente não somos nem conseguimos ser. Estamos cada vez mais nos afastando da nossa realidade. Estamos nos deixando levar pelos ventos fracos vindos das mentes fracas. E não estou falando dos dias atuais, mas dos séculos que já vivemos sem saber que os vivemos.

Quando acreditamos no valor que temos como seres de origem racional, caminhamos na vereda que escolhemos. E nem sempre sabemos escolher nossos caminhos e, ingenuamente, continuamos seguindo os caminhos que nos dizem para seguirmos. Continuamos usando apenas uma pequeníssima parte dos poderes que temos. Ainda não somos donos de nós mesmos. E é por essa vereda ínvia que continuamos caminhando na direção contrária ao nosso desenvolvimento.

Acredite em você, filha. Saia desse curral do círculo de elefante de circo. Você tem todo o poder de que necessita para ser uma pessoa independente, livre e racional. Busque sempre em você o que procura lá fora, onde tudo que lhe oferecem não é mais do que ilusão vazia. Vá descobrindo no seu dia a dia, sua competência para dirigir sua vida no caminho da racionalidade. Seu retorno ao seu mundo de origem depende única e exclusivamente de você. E seu retorno depende de sua capacidade de viver intensamente sua existência neste mundo em evolução. E viver intensamente é viver feliz com você mesma. Não permita que as futilidades da vida façam de você uma marinete de sonhos fúteis e que não levam você aonde você gostaria de estar. Você tem que querer.

Só quando sabemos o que queremos sabemos como conseguir. Você tem todo o poder dentro de você. Mas tem que acreditar em você, na sua capacidade de ser o que você quer realmente ser. Não permita que nada, nem ninguém, dirija sua vida. Mas você tem que ter a coragem de segurar o timão com a firme convicção de chegar ao porto seguro onde está toda a felicidade que você procura. Ninguém é superior a você nem você é superior a ninguém. Respeite este princípio respeitando o fato de que somos todos iguais nas diferenças. E é respeitando as diferenças que não nos igualamos nelas. Você é a única pessoa responsável pela sua felicidade ou sua infelicidade. Ninguém tem esse poder, além de você mesma. Valorize-se no que voe é. Pense nisso.

*[email protected]