Para entender e superar o medo
Gilberto Cury*
Pode ser de avião, de insetos, de dirigir, de falar em público. O medo é inerente ao ser humano, e se manifesta diversas vezes ao longo da vida, de diferentes maneiras. Às vezes, nasce sem motivo aparente, e pode atrapalhar atividades do dia a dia, o que mina a autoconfiança e limita o indivíduo, deixando-o inseguro.
O ser humano não nasce com temores. Toda criança é ousada; mexe na tomada e puxa o rabo do cachorro porque não conhece ou não teme as consequências de seus atos. Em algum momento da vida o indivíduo adquire certos medos, geralmente alocados na primeira infância.
O cérebro tem uma capacidade fantástica: consegue aprender um trauma em segundos e se lembra dele pelo resto da vida. Mas também tem a capacidade de desaprender o medo com a mesma velocidade, e reagir de forma diferente diante de um mesmo estímulo. Não são necessários anos de terapia para que o cérebro elimine o registro negativo, contanto que possamos supri-lo com as ferramentas corretas.
A Programação Neurolinguística ajuda a descobrir qual o momento em que foi gerada a fobia. O simples contato com um filme ou uma fotografia que mostra o objeto do medo – de aranhas gigantes a acidentes aéreos – pode ter sido o gerador de tanto pavor.
A partir do contato com a sensação que causa o medo, é hora de mudá-lo. A PNL vai munir o indivíduo com recursos para lidar com aquela situação, e que não estavam disponíveis quando ela aconteceu. Quando a criança se assustou com o filme sobre aranhas gigantes, por exemplo, ela se sentiu indefesa, desprotegida. Ao resgatar esse sentimento, é preciso atualizar as informações contidas nele. Não se pode mudar a história, mas é possível trabalhar a maneira como a sensação ficou arquivada.
É importante ajudar a pessoa a lembrar-se de momentos em que se sentiu amparada, e trazer essa sensação reconfortante para os momentos em que o incidente assustador for lembrado. O indivíduo pode aprender que há outros caminho além do medo.
Ao final, a pessoa pode continuar não gostando de aranhas ou de aviões, mas irá conseguir ver um inseto ou viajar se sentindo tranquila, segura e confortável. A PNL é como uma caixa de ferramentas que proporciona ajuda na superação de fobias. Sem receios e limitações, é possível ganhar autonomia, o que eleva a autoestima e proporciona uma melhor qualidade de vida.
*Presidente da SBPNL – Sociedade Brasileira de Programação Neurolinguística
Qual será o nosso grito?
Jaime Brasil Filho*
A acomodação de um povo diante da vida, diante da história, pode acontecer por vários fatores: culturais, materiais, objetivos ou subjetivos. Vejamos a Índia, por exemplo, a divisão social feita por castas leva milhões de pessoas a se submeterem a condições de miséria que seriam insuportáveis para a maioria dos chamados “ocidentais”, tudo depende de um ponto de referência, de comparação com o outro, com o que pode ser chamado de aceitável, com o que deve ser desejado, o que pode ser repelido e o que deve ser combatido.
O poder estatal sempre se utilizou de inúmeras ferramentas para manter a ordem: o medo, a imposição ideológica, a perseguição, a tortura e mesmo a eliminação física. Vale lembrar que nenhum Estado busca verdadeiramente a Justiça, mas sim manter a ordem que serve aos que já estão no poder, o sistema de justiça nesses casos irá apenas refleti-la, daí podermos dizer que um Estado, um país, é mais ou menos justo a depender de sua ordem sócio-econômica. O nível de participação popular nas decisões políticas e administrativas, o grau de distribuição de riqueza e de oportunidades a todos, dentre outros, são elementos capazes de nos ajudar a aferir a “justeza” de um Estado.
As ditaduras já nascem destinadas a um fim trágico, eis que vão contra a essência de tudo o que há no universo: o movimento e a multiplicidade. Ao reprimir e castrar a natural fluidez das idéias, da vida, as estruturas das ditaduras tendem a se enferrujar e a quebrar diante do permanente caldeirão de inquietude que é a humanidade.
Ocorre da mesma forma que a democracia burguesa, esta que vivemos, leva à acomodação dos cidadãos, eis que são criadas estruturas estanques de representatividade que, apesar das eleições, de uma suposta legitimidade popular, acaba por existir e atuar a léguas de distância das verdadeiras necessidades do povo. Como disse Hermann Hesse, nós trocamos a responsabilidade pelas eleições, transferimos o que deveríamos fazer para outros, chamados de representantes, que antes de nos atender enquanto povo atendem a eles próprios como indivíduos. Claro que com o tempo as democracias burguesas desenvolvem instrumentos que cada vez mais tiram a mobilidade sistêmica do exercício do poder, mantendo grandes privilégios para alguns e pequenos benefícios para a maioria, assim, acabam por se tornar uma espécie de ditadura em que a maioria dos cidadãos se submete cada vez mais à ordem econômica e política, quando a ordem política e econômica é que deveria se submeter ao povo.
O que ocorre nos países árabes são revoltas, e não revoluções, a diferença segundo os conceitos que adoto reside no fato de que a revolta é antes de tudo um “não”, um “basta” diante de uma situação que se tornou insuportável, é uma ação que busca destruir algo, mas que não tem um projeto concreto e específico de substituição do que se propõe a destruir. Já a revolução, de antemão, possui planos específicos, um “sim”, um conjunto de propostas que visa substituir as estruturas antigas. De qualquer modo são alvíssaras, boas-novas as revoltas que se desencadeiam, é a prova de uma coisa: roubem tudo de um povo, menos a esperança. O povo árabe cansado e desesperançado se insurge e regala a si mesmo novas possibilidades de existência.
No Brasil, e em vários países chamados “emergentes”, vivemos uma época de espera. Por aqui a maioria do povo ainda acha que o governo Dilma poderá melhorar as condições de vida da população, que os pequenos benefícios sociais alcançados no governo Lula poderão ser ampliados, que a lógica neoliberal de desenvolvimento adotada, fundamentada na exportação de matérias-primas, controle da inflação baseada no arrocho fiscal para incrementar o superávit-primário, isto é, dinheiro do povo nas mãos de banqueiros, além de um câmbio flutuante, que tudo isso, dizia, pode nos levar a dias melhores. No entanto, foi exatamente essa política que conduziu vários países à falência: Bolívia, Equador, Venezuela, por exemplo. Foi por isso que o povo foi às ruas em buscas de outras saídas. Há 22 anos na Venezuela a política neoliberal de Carlos Andrés Peres resultou em um movimento popular espontâneo, chamado Caracazo, onde milhares foram assassinados pelas forças oficiais. Tais fatos criaram condições de resistência e organização da esquerda para que o movimento bolivariano chegasse ao poder.
O que aconteceria se os países desenvolvidos, já combalidos com a crise econômica, piorassem a saúde de suas economias e deixassem de comprar produtos dos países “emergentes”? Para quem o Brasil venderia seus produtos, suas matérias-primas? Como Dilma iria honrar o pagamento do bolsa-família? O que faria o povo brasileiro se a esperança de ter dias melhores desaparecesse?
E em Roraima, na situação política e econômica em que estamos que esperanças temos? Qual será a reação do povo à situação da saúde, da educação, da segurança, etc?
Toda acomodação tem um limite, toda imobilidade chega ao fim, não é preciso ser intelectual ou militante de esquerda para se revoltar, o povo árabe grita nas ruas Alá Huacbar (Alá é Grande) e enfrenta a polícia e o exército dos tiranos gananciosos, e aqui, qual será o grito?
*Defensor Público
Por que pedir?
Afonso Rodrigues de Oliveira*
“É inútil obter por piedade aquilo que desejamos por amor.” (Victor Hugo)
Quando nos amamos sabemos o que somos. E quando sabemos o valor que temos não precisamos de piedade. Nada me decepcionou mais do que a famosa campanha pelas cotas nas universidades. Por que devo recorrer a cotas quando sou capaz de competir com igualdade? E já que citei o Victor Hugo aí encima, vamos mais a uma frase dele que indica o que realmente somos: “Devemos ser o que não somos, mas sem deixar de ser o que somos”. Nas décadas dos cinquentas e sessentas, naquela escadaria que liga a Praça do Patriarca ao Vale do Anhangabaú, havia sempre uma exposição de arte. E foi ali que li essa frase do Victor Hugo. Legal pra dedéu.
Desde então analiso como somos quando sabemos ser. Porque sabemos que somos diferentes a cada dia. O agora é instantâneo. É um piscar de olhos. E o importante é que saibamos encarar e viver as mudanças repentinas que fazem com que sejamos o que não somos, a cada momento. Mas o mais importante é que não deixemos de ser o que já fomos. Taí uma mistura eminentemente racional. Respire. Deu pra sacar? Vamos ser cada vez melhor no que somos, para que as mudanças não nos sejam prejudiciais.
Como você se sente quando é menosprezado pelos que se sentem superiores a você? Você se sente um coitado, um farrapo humano, ou um você mesmo? Tudo vai depender de como você se sente. Se se sentir ofendido estará ratificando o pensamento do insultante. E não interessa nem importa a posição que ele ocupa em relação à sua. O que faz de você um ser humano superior é sua postura e não sua posição social ou profissional. Nunca responda a um insulto. Responda com um sorriso sincero. Sempre sincero. E na sinceridade não há insulto nem provocação. Está lembrado da resposta que aquele personagem deu ao que o chamou de bobo? Foi numa peça de teatro do teatrólogo Jaime Costa: “Não há bobo mais bobo do que o bobo que pensa que eu sou bobo”.
Cuide-se sem a preocupação de ser o que os outros querem que você seja, ou pensem que você é. O importante é que você seja o que é, sendo outro você a cada momento, sem deixar de ser o que você foi, no que adquiriu na experiência vivida. Lembre-se de que: “Ninguém, além de você mesmo, tem o poder de fazer você se sentir feliz, ou infeliz, se você não estiver a fim”. Então jogue os aborrecimentos para o depósito de lixo e vá em frente. Mire o horizonte e vá em frente. Mesmo sabendo que nunca o alcançará, não desista de ir em frente. Sempre em frente. Não desista, nunca, dos seus sonhos. Lembre-se do Edson: “Eu não errei; aprendi como não fazer”. Pense nisso.