Opinião

Opiniao 04 04 2017 3864

Violetas na escuridão – Walber Aguiar*A força do direito deve superar o direito da força                                                            Rui BarbosaFazia frio no auditório quando ele apareceu. Figurino simples, música e marmita na mão. Ainda assim, sua carga dramática falou mais alto. Isso porque carregava consigo a cachaça, a incompreensão e a indiferença, química completa para o desencadeamento da violência no lar.

No meio da multidão um grito silencioso. Sem eco, sem resposta, sem importância para uma sociedade machista, consumista e preconceituosa. No silêncio doméstico, apenas “fantasmas” e ressentimentos falavam. E nessa verbalização da ofensa, a dor é inevitável. Dor muda, introspectiva, esmagante. A indiferença partindo em mil pedaços o coração já fragmentado pelo cotidiano sem ficção, sem aventura, sem qualquer motivação existencial para continuar sentindo.

Dagmar Ramalho falou das grades que prendem a esperança, do entorpecimento físico e psicológico que o álcool dissemina na sociedade. Falou de porrada, de prisão, de boletins de ocorrência. Enfatizou a solidão e o sentimento de perda trazidos pela morte. Mas deu a entender que o cidadão, forjado no domicílio da grandeza e da  dignidade não precisa bater na companheira para autenticar sua “força” e seu autêntico desejo de ser mau.

Para as vítimas, as terças feiras ainda não se transformaram em domingos de sol. Mesmo assim elas estão ali, fortes e frágeis, ensimesmadas e extrovertidas. Continuam seu percurso diário na escola, no escritório, na geografia do assédio, que não é considerado crime, mas constrangimento ilegal apenas. Pobre lei. Domesticada pelo preconceito imbecil, converteu-se numa espécie de darwinismo social, autenticando aqueles que esmagam colibris com bate-estaca.

Assim, as mulheres, com ou sem “Maria da Penha”, entregam-se a anos, planos e a “príncipes” disfarçados de “monstros”. E enquanto passam panos, a solidão, companheira do medo, dialoga com o desejo de liberdade. Nessa dialética em que a resposta parece não chegar nunca, elas “despetalam” lentamente no “jardim” em que escolheram viver.

Naquele ambiente refrigerado, o intérprete conseguiu transformar a violência doméstico em algo bonito, simples, declamável. Fez brotar flores brancas do asfalto da realidade, vista nas prisões, nos lares desfeitos, nos cemitérios. Falou do perdão e da ofensa, da incredulidade e da descrença, da saudade e do esquecimento. Se toda força bruta é um sintoma de fraqueza, então ele transformou as mulheres em criaturas extremamente fortes. Em caimbés que, mesmo açoitados pelo fogo da morte e da destruição, resistem bravamente.

Tal resistência passa, necessariamente, pela organização, pelo ajuntamento, pela perspectiva de corpo. Desse modo, a dignidade de ser gente configura-se num enorme jardim florido. E mesmo que elas sejam frágeis violetas na noite fria da tragédia, um dia o deserto florescerá. E debaixo de suas unhas sempre será primavera…

Era uma sexta-feira. Dia de lembrar da professora Wanda e de tantas outras que não foram alcançadas por “Maria da Penha”. Mas, sobretudo, dia de entender o poema de Dagmar que, no meio da frieza, nos aqueceu o peito…

*Advogado, poeta, professor de filosofia, historiador e membro da Academia Roraimense de Letras [email protected]

Riscos de acidentes de trabalho e ergonômicos – Marlene de Andrade* Os lábios mentirosos são abomináveis ao Senhor, mas os que agem fielmente,  são o seu deleite.(Provérbios 12:22).O Programa de Prevenção dos Riscos Ambientais/PPRA  busca antecipar, reconhecer, avaliar e fazer o controle dos eventuais riscos ambientais  existentes  no local de trabalho. Esse programa também tem o alvo de orientar o empregador no que se refere às medidas de Segurança e Saúde do Trabalhador e ele tem sua base legal na Norma Regulamentadora nº 9 (NR-9), a qual contempla somente a prevenção dos riscos físicos, químicos e biológicos presentes, às vezes, no ambiente de trabalho. Portanto, nesse programa, não devem ser contemplados os riscos de acidentes de trabalho e nem os riscos ergonômicos.

O PPRA tem como foco tornar o ambiente de trabalho mais seguro a fim de proteger melhor a saúde do trabalhador e até mesmo a do empregador. Esse programa também contempla ações que devem ser planejadas, acompanhadas e avaliadas dentro da empresa e anualmente deve ser novamente renovado, pois é isso que preconiza a NR-9.

Muito embora existam cinco riscos ambientais, deve ficar esclarecido, como já foi dito acima, que no PPRA não se deve colocar os riscos ergonômicos e nem os de acidentes de trabalho. É importante que o empregador fique atento, pois alguns “profissionais” da área de Saúde Ocupacional insistem em colocar no PPRA esses dois riscos, os quais não devem ser contemplados dentro desse programa e sim somente, quando existirem, os riscos físicos, químicos e biológicos. E aí, o que fazer em relação aos riscos de acidentes de trabalho e ergonômicos? Contratar médico do trabalho e técnico de segurança bem experiente nesse assunto para que os mesmos possam explicar o que a empresa deve fazer em relação a esses dois riscos.

Outro detalhe importante é que o empregador deve ler todas as Normas Regulamentadoras/NR’s do Ministério do Trabalho e Emprego/MTE e buscar ficar por dentro de possíveis problemas que poderão surgir dentro de sua empresa. Hoje temos 36 NR’s e não custa nada o empregador ler e entender o que elas dizem a respeito da saúde e segurança do trabalho. Outra dica importante é solicitar os currículos dos profissionais dessa área para ver a capacitação dos mesmos. Quanto aos médicos do trabalho, só devem ser contratados aqueles que tiverem seus nomes relacionados, nessa especialidade, junto ao Conselho Federal de Medicina e no Conselho Regional de Medicina do estado onde a empresa está estabelecida.

*Especialista em Medicina do Trabalho/Anamt(95) 36243445

Inicie no primário – Afonso Rodrigues de Oliveira*“Na situação do ensino primário está o termômetro mais seguro da civilização de um lugar”. (Rui Barbosa)Não há quem não se lembre de momentos agradáveis em que os pais lhes ensinaram coisas boas. É quando o ensino está aliado à educação. Talvez por isso, temos um Ministério da Educação, mas não um do Ensino.

As duas coisas estão misturadas no momento em que não deveriam estar. Porque a Educação é o básico. O Ensino vem depois, mas apoiado nela. E é por isso que dizemos que a educação vem do berço. O ensino vem com a vivência, na maioria das vezes na convivência. Sacou?

No ambiente profissional fica fácil descobrir onde está a dificuldade em separar o joio do trigo. O profissional pode ter um bom treinamento para desempenhar seu trabalho, mas não ter a educação necessária para o bom desempenho. E é o que vemos no dia a dia, nos ambientes de trabalho, mesmo nos profissionais mais preparados profissionalmente. Muitas vezes a recepcionista, por exemplo, é mais educada no atendimento ao cliente, do que o médico para quem ela trabalha.

O tempo passa e nem percebemos, pensando que percebemos. Nem nos damos conta de que ele está nos levando quando passa. E por isso não nos preparamos para o dia de amanhã. Acordamos sem acordar.

Sentamos na cama e ficamos olhando para o mosaico do chão quando deveríamos abrir a janela e olhar para o azul do céu. Nem imaginamos que nem todas as nuvens são escuras, mesmo quando o tempo está nublado. Que a beleza depende de como a vemos. E não a vemos quando nossos pensamentos começam a viajar pelos maus momentos passados. E só quando aprendemos a viver é que vivemos. Enquanto não, não vivemos, o tempo é que está nos levando.

Puxa vida, não era esse o assunto que eu queria levar pra você, hoje. Mas dois exemplos a que assisti pela manhã, caminhando pelas ruas de Boa Vista, me levaram a esse papo. Um exemplo notável da boa educação no atendimento, na Recepção do SAS – Serviço de Assistência Social da Polícia e Bombeiro Militar de Roraima; e um exemplo degradante da falta de educação nos estacionamentos de carros nas calçadas da cidade. E não vou me estender porque você sabe do que estou falando, sobre os carros parados nas calçadas de Boa Vista. Um dos mais degradantes exemplos da falta de educação e despreparo dos que deveriam nos mostrar educação.

Puxa vida, que ranzinza que estou. Mas prometo que amanhã votarei mais educado, e falarei do assunto agradável que estava planejado pra hoje. Prometo. Mas vá pensando nisso, e faça alguma coisa para ajudar a população a ter o respeito que ela merece do poder público. Pense nisso.

*[email protected]