ÍNDIOS E NÃO-ÍNDIOS – HONRAM RORAIMA
Folheando as páginas da nossa História e revendo os registros cartoriais, nota-se que sempre houve integração entre os naturais desta terra e os migrantes que aqui chegaram no início do Século XX (20).
O paraibano Severino Mineiro (Severino Pereira da Silva), que guarnecia as fronteiras do Brasil pelo rio Maú, já havia fundado a vila Socó, em 1908, e a vila Uiramutã, em 1911, casou com a índia macuxi Semari e, ao ficar viúvo, casou com a sobrinha desta, a índia Vitória. Os seus descendentes se espalharam pelas Vilas Socó, Uiramutã e nas malocas Maturuca, Ticoça, Maracanã, Camararém, Pedra Branca, e outros vieram para Boa Vista.
O cearense João Evangelista de Pinho (conhecido como “Velho Dandãe”) casou com a índia Amélia e depois com a índia Paula; aliás, o seu “Dandãe” casou seis vezes, a última esposa foi a senhora Estela de Souza.
Dandãe (apelido de família) nasceu na cidade de Uruburetama, no Estado do Ceará, no dia 27/12/1885 e faleceu no dia 20/11/1989, aos 103 anos. Deixou muitos filhos, além de 96 netos, 66 bisnetos e 12 tataranetos.
José Valcaça, da fazenda Nova Olinda, no vale Quinô, em 1951, casou com índia macuxi Vitória; Mecias do Nascimento Souza, da fazenda Igarapé Azul, em 1952, casou com Almerinda, índia da maloca Maturuca, com quem teve onze filhas; Osmar Silveira de Araújo, do sítio Caju, em 1950, casou com Luzia Maçaranduba, índia macuxi da maloca Uiramutã, com quem teve quatorze filhos; dentre outros.
Destaque-se, nesta integração, o casamento de Cici Mota (Moacir da Silva Mota) com dona Marinha (marinha da silva mota), filha de Severino Mineiro com a índia Semari. Este casal, com os seus filhos, fundaram a Fazenda Santo Antônio do Pão, em 1958. E, o senhor Galêgo (Wilson Alves Bezerra) casou com a senhora Fany, filha de dona Marinha – viveram muitos anos na Fazenda Aparecida.
Naquela época havia perfeita integração social entre índios e não-índios. Aliás, sempre houve harmonia, até o dia em que obscuras instituições e ONGs, até então desconhecidas, começaram a estimular desavenças com intuitos escusos, causando separação entre membros da mesma família étnica, ocasionando a expulsão de moradores antigos, acusados de “intrusos” (na própria fazenda onde nasceram), deixando-os ao deus-dará à própria sorte.
Algumas malocas surgiram a partir da existência de fazendas de gado:
A maloca “Teso do Gavião” surgiu no final da década de 1930, quando Pedro Rodrigues acolheu a família do índio Raimundão e sua mulher Joaquina, nas terras da Fazenda Baliza, no vale do rio Cotingo.
A maloca “Congresso” surgiu por volta de 1980, em terras da fazenda-engenho Congresso, e nela o índio Sandro Tobias construiu sua casa.
A maloca “do Lilás” surgiu em meado da década de 1960, quando o proprietário da fazenda Bom Jardim, recebeu a família do índio Geraldo e este construiu sua casa na área da fazenda.
A maloca “Curupá”, da mesma maneira, surgiu no final da década de 1980, em área da Fazenda Urucanha.
Na maloca “Enseada”, o fazendeiro Jair Alves dos Reis, proprietário da fazenda São Jorge, recebeu a família do índio Salomão com sua mulher Raimunda (pais do Damasceno e Januário, que já trabalhavam na fazenda).
Assim também aconteceu com a instalação das malocas: Caraparu, Vista Geral, Araçá, Maracanã, Macedônia, Morro, Ticoça, Flechalzinho, Camararém, Enseada, Fortaleza. Enfim, dezenas de malocas, tanto na área das serras, como no lavrado, surgiram em função da atividade do produtor rural na região. Com o passar dos anos, as famílias indígenas adquiriram o seu direito à terra, à demarcação, a produção própria de sua subsistência, e estão integradas em todos os setores das atividades socioeconômicas do Estado de Roraima.
Houve, por assim dizer, uma vitória a cada passo. Levaram anos lutando pelos seus direitos e, finalmente, são donos do que sempre foi seu. Fica aqui registrado o meu reconhecimento e apreço, a minha admiração e respeito, à todas as famílias roraimenses, índias e não-indias.
Como disse o poeta roraimense Eliakim Rufino: “Tudo índio, todos parentes”.