Coisas de maio – Walber Aguiar*
“A felicidade é uma gota de orvalho numa pétala de flor” Vinicius
Uma explosão de flores, dores e amores. Fragilizado, ele nasce; disposto a regar a cinza das horas, a varrer todo o entulho existencial que se instalou na alma. Um espaço nebuloso, embora não depressivo, encolhido, mas não angustiado. Assim é o mês de maio, uma pétala no meio dos espinhos do calendário.
Ociosamente, ele prossegue. Primeiro dia inútil. Dia do trabalhador ou do que restou dele. Momento em que todos querem comemorar, falar da geração de emprego, das condições de vida, do aumento salarial. É o retrato fiel do “José”, de Carlos Drummond de Andrade, alguém que corre para um lado e para outro, mas a pancada é inevitável. Já não pode fumar, beber, cuspir ou discursar. Está na linha de tiro dos governos tiranos e sindicatos pelegos. Nada mais pode afetá-lo. Talvez por isso seu dia seja em maio. Por isso guarde uma fragilidade escondida sob a aparente força.
Também as mães estão no colo frio de maio. Enquanto embalam anos e planos, filhos e desenganos carregam consigo a doçura da flor e a solidão do espinho. Traz no rosto e no ventre a fertilidade de maio, não obstante a dor que sentem. Guardam consigo saudades e lembranças de algo que poderia ter sido e não foi. São flores frágeis, despetalando de repente, deixando a gente órfã da primavera, broto de vida lançado no chão. É o Deus que se faz mãe, ao colocar sob suas asas a insegurança do pintinho, é a mãe que se diviniza, assumindo o caráter de Deus.
Também é o mês do menino Caio. Da criança que já nasceu grande. Do menino branco que se alimenta de imaginações, metáforas e esperança. Do meu guri que questiona e responde, ouve e tira suas próprias conclusões. Caio é portador de força e coragem, medo e enorme fragilidade. Seu nome significa bordão, cajado, motivo de alegria. Algo em que se apoiar no meio de tanta desestrutura, da corda bamba do mundo.
Este é maio. Mês do inverno, ou pelo menos, de um inverno que ainda não chegou, que fecunda o inconsciente coletivo… Da tristeza em gotas, da alegria despetalada. Mês de todas as dores e contradições… Da força que explode de repente, da fragilidade que sensibiliza… *Poeta, professor de filosofia, historiador e membro da Academia Roraimense de Letras. [email protected]
“Baleia Azul”O jogo que mata – Dolane Patricia*Surgido inicialmente numa rede social russa, o jogo Baleia Azul (Blue Whale) é um desafio de 50 níveis do mundo virtual que incentiva o suicídio e a automutilação. É uma brincadeira suicida.
O nome se deve ao fato de que a espécie Baleia Azul (presente nos Oceanos Atlântico, Pacífico, Antártico e Índico) passa a procurar em determinado período do ano as praias por vontade própria. E muitas vezes correndo o risco de morrer.
Existem grupos no Whats App e Facebook administrados por “curadores” (aliciadores). Eles enviam um convite para participar do grupo e também um vídeo. Quando você abre por curiosidade e sem se dar conta já está participando do jogo. Isso torna tudo muito perigoso, porque muitos jovens acabam entrando sem querer, depois disso, começam as ameaças contra a família da pessoa caso pensem em sair do jogo. Dessa forma, muitos entram num caminho sem volta!
Os curadores, como se autodenominam os mentores do jogo, apresentam dados pessoais e até mesmo o IP do computador dos jovens para conseguir com que façam as tarefas. Eles estão à procura de quem está suscetível a um comportamento suicida.
O jovem que decidir deixar o jogo antes de concluir os 50 desafios é impedido pelo curador, que ameaça os participantes. Essa intimidação ocorre da seguinte forma: o responsável pelo grupo mostra o endereço residencial do participante e de seus familiares e declara que se ele sair do grupo, todos serão mortos.
Segundo a imprensa, o jogo sombrio tem semelhanças assustadoras com o terceiro episódio da terceira temporada de Black Mirror, uma série apresentada pela Netflix. Segundo informações da mídia, o recrutamento na série se dá em forma de coação aos adolescentes. A série consegue potencializar a realidade dos vícios tecnológicos e se tornou aceita a um nível crítico. Ao ponto de se tornar parte de uma exposição de arte em Londres.
Surgiram ainda informações de que o jogo poderia ter sido inspirado na série de TV americana, exibida pela Netflix, 13 Reasons Why (13 Motivos), que conta a história de uma menina que deixa fitas cassetes explicando as razões que a levaram a cometer suicídio.
Não se sabe ao certo o que inspirou esse jogo. O que se tem certeza é que se faz necessário ter muito cuidado com as séries de TV, filmes, novela e até desenhos animados. É necessário uma censura no lar. Por exemplo, vai ser lançado em breve um desenho que estimula o suicídio infantil, o trailer já está sendo compartilhado nas redes sociais.
Além disso, hoje em dia já se falam palavrões abertamente na TV, cenas de sexo e violência chegam aos lares via satélite, uma informação pronta para jovens e adolescentes que estão cada vez mais ligados nas telas da TV e do mundo cibernético. E onde estão os pais e mães desses jovens e adolescentes? E estes, são tão ingênuos ao ponto de aceitarem tal coisa? Até um convite para se matar? Sim, muitos estão vendo o suicídio como válvula de escape para os seus problemas, o jogo veio apenas “a calhar”.
Se o adolescente ou jovem não tem uma base familiar equilibrada, ele tem mais chances de cair em armadilhas, como esse novo jogo mortal! É preciso que os responsáveis estejam mais presentes na vida dos filhos e não apenas os pais. Hoje a família se ampliou muito e em alguns casos, quem faz o papel de pais e mães são os avós, madrastas, tios, mães adotivas, pai de consideração, etc. É preciso que a família, de um modo geral desempenhe seu papel com mais intensidade, para que a decisão de não participar de um jogo como esse seja óbvia.
É necessário ficar atento a qualquer tipo de comportamento estranho. Os principais sintomas de quem já está envolvido com o jogo da morte são: falas sobre morte e suicídio, mesmo que indiretamente, como vontade de “sumir”, “desaparecer”, “ir embora”e comportamentos como isolamento, tristeza, perda do interesse em atividades que costumava fazer, mudanças no hábito de sono, perda ou aumento repentino de apetite; irritabilidade, crises de raiva; desempenho escolar ruim, dentre outros. Estes sintomas devem soar como alerta!
Outro ponto que merece destaque é a necessidade de denunciar. Caso descubra que alguém está envolvido com a brincadeira macabra, uma vez que o induzimento e instigação ao suicídio são condutas tipificadas como crime em nosso ordenamento jurídico. Esse fato torna a questão mais relevante em razão de que, segundo a Organização Mundial de Saúde, o suicídio já mata mais que homicídios, desastres e HIV em todo o mundo. Aqui entra o cuidado com a depressão, nunca diga que é “frescura” da pessoa. Ela precisa de atenção, não de críticas!
Como consequência desse jogo, várias mortes foram registradas em diversos lugares do país por suicídio. Porto Alegre já conta com dois plantões de emergência em saúde mental com atendimento 24 horas. Várias pessoas já foram vítimas das 50 regras mortais, muitas estão mutiladas, com desenho de baleia no braço e cortes.
Importa destacar aqui, a importância da aproximação com Deus, pois, o enfraquecimento da religiosidade e da fé retirou de inúmeras pessoas a perspectiva do significado da existência. Assim, da mesma forma que Deus tirou Jonas do ventre de um peixe, livrando-o da morte, poderá livrar também adolescentes e jovens do jogo baleia azul. Mas é preciso ter determinação, querer vencer e muitas vezes a ajuda de um profissional, um psicólogo, por exemplo, é necessário. No entanto o papel da família é essencial!
E lembre-se: “A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso, cante, chore, dance, ria e viva intensamente, antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos”. (Charles Chaplin)*Advogada, juíza arbitral, Pós Graduada em Direito Processual Civil, mestranda em Desenvolvimento Regional da Amazônia, Personalidade da Amazônia e Personalidade Brasileira. Acesse: dolanepatricia.com.br
Educação, tarefa árdua – Afonso Rodrigues de Oliveira*“Os regimes que atentam contra os direitos do povo, educam o povo na tendência a desconhecer os direitos do Estado”. (Rui Barbosa)Será que Rui Barbosa já pensava nos problemas que temos hoje? É provável, porque Napoleão Bonaparte também disse que: “Devemos construir mais escolas para não termos que construir mais presídios”. E depois deles, o médico Miguel Couto também disse: “No Brasil só há um problema nacional: a educação do povo”. E me permita mais uma citação do Rui Barbosa: “Quanto mais corrompida a República, mais leis”. Mas tudo bem. O que me leva a esse papo é minha preocupação com a Educação. Educação não se faz da noite para o dia. Ela requer muita educação. Porque sem educação não há como educar.
E só quando não estamos preparados para a educação imaginamos que ela não é tão importante, porque não nos tirará do lamaçal da corrupção. Uma imensa tolice. Já sabemos que a educação não muda o corrupto, mas educa o cidadão para reconhecer e evitar o corrupto. Sabemos que a educação não melhora a madeira que é construída no nível de evolução do corrupto. E enquanto pensarmos que a educação não é tão importante assim, não seremos mais do que meros títeres dos corruptos.
Senhores políticos, vamos trabalhar arduamente para construir nossa Educação que vem se decompondo há séculos e séculos. E não construiremos a Educação apenas construindo escolas. As mudanças devem vir de cima para baixo. Educando os adultos que devem educar. Porque, mesmo que você não concorde comigo, reflita sobre esse ponto simples que não levamos em conta: As escolas estão cheias de jovens mal-educados porque não foram educados no lar. Quando a criança é educada dentro do seu lar, vai para a escola como um aluno educado. O que indica que ele vai para a escola para aprender e não para se educar. E se o professor não tiver sido bem educado não terá como educar.
Não sei se embananei. Mas faça sua reflexão. Não seremos cidadãos enquanto não formos devidamente educados para a política. E devemos começar pelo voto facultativo. Ele vai realmente fazer de nós cidadãos civilizados. Mas para merecermos o voto facultativo, têm que nos educar politicamente. E são raríssimos os políticos que estão interessados em lutar pela faculdade do voto. E todos nós sabemos por quê. Mas vamos fazer nossa parte. E não vai ser com gritaria e vandalismo nas ruas, que conseguiremos nos civilizarmos. Veja se você está educando seu filho para um mundo civilizado. E você não conseguirá isso se não agir civilizadamente na educação que lhe der. As mudanças no mundo dependem de nós. Pense nisso.*[email protected]