Bom dia,

Eduardo Alves da Costa, poeta paraibano, escreveu um primoroso poema que, de tão bom, foi dado como de autoria do poeta russo Maiakovski. Por isso mesmo, o poeta tupiniquim publicou esse poema num livro, com o sugestivo título de “No Caminho de Maiakovski”. Nele, Costa fala do medo que temos de defender nossos direitos e de lutar para alcançar o que acalentamos como sonhos de uma sociedade onde o respeito pelo direito alheio e, principalmente, pelos direitos coletivos seja inalienável.

Eis um dos fragmentos de “No Caminho com Maiakovski”:

“[…]Na primeira noite eles se aproximame roubam uma flordo nosso jardim.E não dizemos nada.Na segunda noite, já não se escondem;pisam as flores,matam nosso cão,e não dizemos nada.Até que um dia,o mais frágil delesentra sozinho em nossa casa,rouba-nos a luz, e,conhecendo nosso medo,arranca-nos a voz da garganta.E já não podemos dizer nada.[…]”     Pois bem, nada poderia ser mais expressivo quanto ao cenário atual do Brasil que este poema do poeta paraibano. Veja-se o caso dessa substituição ministerial anunciada no último fim de semana pelo governo Michel Temer (PMDB). Já não há mais pudor. Toda a imprensa nacional atribui a saída do deputado federal Osmar Serraglio do Ministério da Justiça à sua incapacidade de “lidar”, isto é, de controlar a Polícia Federal, especialmente no curso das apurações sobre a corrupção que se instalou endêmica e sistematicamente na administração púbica federal brasileira.

E tem mais. Sacado do Ministério da Justiça, o deputado federal paranaense do PMDB não vai retomar ao seu lugar na Câmara Federal, como seria natural. Sabe por quê? Porque, se ele fizesse isso, o suplente Rodrigo Rocha Loures, também do PMDB – aquele que foi filmado recebendo uma mala contendo R$ 500 mil, relativos ao pagamento de propina por favores prestados ao Grupo JBS -, teria que sair do mandato e perderia o privilégio de ser julgado apenas pelo Supremo Tribunal Federal (STF). De outro modo, ou seja, reduzido à condição de cidadão normal, ele cairia nas mãos de Sérgio Moro, o que amedronta políticos corruptos sem mandato. Para Serraglio, restou a alternativa de assumir o Ministério da Transferência, aonde já chega hostilizado pelos servidores.

O substituto de Serraglio no Ministério da Justiça é Torquato Jardim, um misto de jurista e burocrata, com trânsito nos tribunais superiores, especialmente no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), onde foi ministro por oito anos, na cota dos advogados. E como se sabe, o TSE começa a julgar, no próximo dia 06 de junho, a chapa Dilma/Temer por abuso de poder econômico praticado na campanha de 2014. Será mera coincidência?

Ora, o cargo para o qual essa gente está sendo nomeada tem o título, bem apropriado, de ministro de Estado, ou seja, quem ocupa tal cargo é pago para tratar de questões do Estado, o que não pode ser confundido por ações que tenham como preocupação principal livrar agentes políticos encrencados com malfeitos, mesmo que esse agente seja o Presidente da República.

E o que isto tem a ver com o poema de Eduardo Alves da Costa? Tem tudo a ver. Estamos, a maioria da população brasileira, assistindo tudo isso com enorme e inaceitável passividade. Eles já roubaram o nosso dinheiro, pisaram em nossos direitos e, agora, sem qualquer pejo, utilizam das estruturas do Estado para defenderem seus postos, acossados que estão pelo cometimento de malfeitos que envergonham todos os brasileiros e brasileiras. E daqui a pouco já não podemos mais dizer, e nem fazer nada.