Jessé Souza

Arrocha na multa 4167

Arrocha na multa! Depois da “indústria da invasão”, em Boa Vista está sendo oficializada a “indústria da multa”, com publicação no Diário Oficial do Município, para que não haja dúvida. A Prefeitura de Boa Vista decidiu que vai abrir procedimentos para punir os agentes de trânsito que não batam a meta de 76 multas mensais e premiar os que chegarem a 200 autuações.

Ou seja, o papel do agente municipal de trânsito passou a ser multar como regra absoluta, e não mais ser um profissional ativo em ações educativas e de orientação a pedestres e condutores. É como se o trânsito realmente tivesse se tornado uma guerra declarada oficialmente e os agentes sendo encaminhados para o confronto a fim de arrochar na multa.

É verdade que o condutor boa-vistense não tem se comportado bem no trânsito, mas não se viu nenhuma atitude da prefeitura para educar e conscientizar sistematicamente, a não ser essas campanhas meia-boca que são realizadas em períodos festivos ou para justificar alguma ação positiva para gravar institucionais.

Não se vê a prefeitura colocando os agentes realmente na rua para orientar as pessoas, conversar com o cidadão na faixa de pedestre, abordar condutores em pontos de grande movimento para orientá-lo ou mesmo marcar presença em locais de intenso tráfego no horário de pico para ajudar a colocar ordem no caos.

Em vez disso, o município põe esse profissional do trânsito como inimigo do cidadão, um agente cobrado para o cumprimento da meta de multar a qualquer custo, como se fosse um atendente de loja aterrorizado por seu gerente exigindo que se bata a meta de venda sob o risco de demissão no fim do mês.

Desta forma, está descartada aquela imagem do agente pronto para ajudar ou orientar, pois seus chefes imediatos estarão sempre a postos para cobrar produtividade a partir do uso sistemático do talão de multas, como se fosse um “carimbador maluco”.

Longe daqui, no caos louco do Espírito Santo, um inspetor de trânsito se destaca por multar só nas últimas consequências, optando por orientar, dar mais uma oportunidade, conversar com o cidadão, até dar bom dia para quem passa e ajudar informando horário do ônibus. Isso é a humanização no trânsito, que dá retorno positivo.

Porém, em Boa Vista, onde há uma prefeita que se autopromove dizendo que ama a cidade, foi declarada uma guerra oficial no trânsito, mais especificamente do agente de trânsito contra o cidadão, sob ameaça de o agente ser punido e demitido. É a “indústria da multa” no lugar da humanização.*[email protected]: www.roraimadefato.com/main