Cotidiano

Mulher é exemplo de luta contra o câncer

De paciente lutando para viver, professora venceu a doença e hoje atua como voluntária para ajudar outras mulheres

A pedagoga Antônia Solarte, 49 anos, é o que podemos chamar de vencedora. Ao descobrir que estava com câncer, ela viu o mundo despencar e sua vida mudar radicalmente. Hoje, ao vencer a batalha contra esta terrível doença, atua como voluntária ajudando outras mulheres a não se entregarem e a superarem esse momento difícil da vida.

Ela descobriu que tinha câncer de mama aos 31 anos. Na época, novembro de 1999, como o tratamento não era oferecido no Estado, a paciente teve que recorrer a centros especializados no Amazonas, um drama que para ela serviu de exemplo para mudar muita coisa na sua vida.

“A gente sabe que, atualmente, o câncer está matando mais que a Aids, então o medo era terrível. Eu trabalhava como professora nos três horários e acabei descobrindo a doença quando fiz o autoexame. Encontrei um nódulo bem pequeno e, de imediato, comecei a fazer exames. Como aqui os exames não eram tão certos, tive que ir para outro Estado e, lá, esse pequeno caroço, que era do tamanho de um grão de arroz, já estava maior que um limão”, disse.

Com exames mais detalhados, em março do ano seguinte a professora decidiu operar o seio e, 30 dias após o procedimento, iniciou o trabalho mais doloroso da sua batalha: as sessões de quimioterapia e radioterapia. “O tratamento é pior que a cirurgia. Eu fiz uma mastectomia radical, que foi a retirada da mama, porque eu queria viver. Durante todo esse período de tratamento, eu tive que realmente preencher o meu tempo, para não deixar me abater pela doença”, afirmou.

“Eu costumo dizer que a gente tem que fazer do tempo o nosso amigo e, toda vez que eu acordava, para mim aquilo já era uma vitória. Foi um processo altamente demorado, mas depois de 10 anos é que a gente nota o resultado”, complementou.

Após todas as dificuldades enfrentadas, Antônia Solarte acabou se tornando voluntária da Liga Roraimense de Combate ao Câncer, uma instituição que ajuda pacientes com câncer. Para ela, o apoio familiar e dos amigos foi fundamental para superar a doença e voltar a ser feliz.  

“Quando tive esse câncer, o meu refúgio foi meu marido, meus filhos e os meus alunos. Eles me ajudaram a superar todas essas dificuldades. Depois que eu enfrentei isso, passei a entender perfeitamente o que passa pela cabeça de uma mulher quando tem diagnosticado dentro de si um câncer. Tanto que hoje eu sou voluntária da Liga e desenvolvo atividades de artesanato nos dias de quarta-feira. É uma satisfação poder ajudar pessoas, até para amenizar um pouco do sofrimento que cada uma delas passa”, frisou.

BATALHA CONTRA O CÂNCER
Roraima é o terceiro Estado do Norte onde acesso ao tratamento é difícil

Na contramão dos avanços da medicina e da difusão dos cuidados com a saúde, o acesso ao tratamento contra o câncer de mama continua a ser o principal desafio do País no combate à doença, principalmente nas regiões mais pobres. De acordo com um recente estudo feito pela Sociedade Brasileira de Mastologia, em parceria com a Rede Goiana de Mastologia, a variação anual da taxa de mortalidade pela doença é até 11 vezes maior em áreas pobres, em comparação com regiões ricas.

O estudo avaliou as taxas de mortalidade por esse tipo de doença no período de 2002 a 2011, em todos os Estados, relacionando os resultados obtidos com os dados do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de cada localidade.

No período analisado, a variação anual da taxa de mortalidade por câncerde mama chegou a 11,2% no Maranhão, Estado com o maior aumento porcentual e com um dos piores IDHs do País. Situação semelhante foi observada nos Estados do Piauí e Paraíba, com variações anuais de 9,8% e 9,3%.

Já entre as regiões mais ricas, a pesquisa detectou uma estabilização na variação da taxa. São Paulo, por exemplo, teve variação negativa média de 1,7% ao ano. Paraná, Rio Grande do Sul, Rio e Distrito Federal, todos Estados com IDHs altos, também tiveram queda na variação das taxas de mortalidade.

No período analisado pelos pesquisadores, a variação anual da taxa de mortalidade do Maranhão, por exemplo, chegou a 11,2%. O estado foi o que apresentou o pior índice entre as 27 localidades analisadas. Situação semelhante a dos Estados do Piauí e Paraíba, com variações anuais de 9,8% e 9,3% respectivamente.

Já no Norte, Roraima é o terceiro Estado da região que apresenta os índices mais insatisfatórios na questão do acesso ao tratamento, com 2,8%, ficando na 12ª posição no quadro geral do País, ficando atrás apenas de Rondônia, com 6,0%, e Amapá, com 4,6%.

Nas regiões mais ricas, a pesquisa observou uma estabilização ou redução na variação da taxa. São Paulo registrou variação negativa de -1,7%; seguido do Distrito Federal, com -0,2; Paraná, com -0,4; Rio de Janeiro, com -0,5 e Rio Grande do Sul, com -0,7.

A publicação do estudo, que foi feito no periódico BMC Public Health, aponta como razão principal a falta de recursos para tratamento nos Estados menos desenvolvidos e a dificuldade de acesso dessas ferramentas para a população, algo que mesmo com o passar dos anos, não foi totalmente suprimido pelos gestores públicos.