Opinião

Opiniao 23 06 2017 4266

Roraima, um estado sem identidade cultural – Sebastião Pereira do Nascimento*Dentre os vários conceitos de cultura, há uma definição genérica de que a cultura é todo um complexo de manifestações construídas pelo homem a partir de suas crenças, dos costumes, dos valores, dos hábitos e de toda capacidade criativa adquirida por ele como membro de uma sociedade. Visto que é o homem que faz a cultura e ele é feito por ela, ao mesmo tempo em que um significado cultural nunca deixa de ser uma presença constante de algo misterioso.

Ainda do ponto de vista conceitual, a cultura (observada em qualquer uma de suas manifestações concretas), sempre envolve seres humanos que estão em relações harmônicas uns com os outros. Isso permite visualizar as características mais intrínsecas de um povo, as quais a partir de um processo dinâmico perpassam o tempo e se materializam no espaço, como um legado cultural que se manifesta através da história desse povo.

Diante dessas premissas, é relevante destacar que a cultura reflete uma transformação temporal e conserva testemunhos de tempos passados, trazendo a todo o momento a ideia de que a cultura é sempre uma herança, onde os seres humanos organizados em diferentes grupos sociais constroem suas manifestações articulados entre si, impregnados de significados e manifestações definidas.

Dentro da perspectiva de analisar um povo sob a ótica de suas expressões culturais, grosso modo é importante entender no imaginário desse povo, como ele se manifesta diante dos constantes conflitos entre o velho e o novo, ou como ele se comporta na organização e desorganização do seu espaço cultural. Isso leva propor que nenhuma cultura está isenta de um processo de mudança, embora ela possa se mantiver historicamente original.

Para isso. o seu grupo social deve permanecer atento às possíveis reconfigurações ou ressignificações ao longo do tempo e, cabe a ele o livre arbítrio de renegar ou aceitar o “novo” que pode vir de “fora” ou pode vir de dentro do próprio grupo social, sendo as duas situações podendo insurgir para um processo de culturalização de massa, ou seja, para uma cultura midiática, ausente da cultura artística.

Citando Roraima, é uma região que não dispõe de nenhuma bandeira cultural (aqui me refiro a algum evento genuinamente regional de significado expressão). De outro ponto, temos alguns exemplos de culturalização, guiados principalmente pelas incessantes levas migratórias que resultaram num incompreensível mosaico cultural, o qual se ajusta perfeitamente à concepção de que a cultura é sempre uma herança de várias tendências, onde os povos que nela convivem são os responsáveis por ela e pelas suas remodelações ao longo do tempo.

Esse contexto recai muito bem sobre os povos indígenas locais, que dispõem de um valor cultural imensurável, mas que ao longo do tempo vem sofrendo diversas ressignificações em função dos embargos postos pela dominação sociocultural, cujas suas expressões mais relevantes não refletem mais a originalidade dos seus ancestrais, hoje maquiada por tantas coisas novas que se devem ao contato com a sociedade nacional.

Abrindo um paralelo sobre essa questão, atribuo também esse contingente migratório às expressões orais regionais, onde em um trabalho nosso recém-publicado (Rev. Geogr. Acadêmica v.10, n.1, 2016) sobre a fala popular dos habitantes do lavrado, constatamos que da totalidade dos termos levantados, pelo menos 60 % são decorrentes de várias regiões do nordeste brasileiro; 17% são procedentes de vários locais da região Norte (com boa influência da língua Tupi-Guarani); 13% vêm das línguas indígenas locais, principalmente dos troncos linguísticos Karib e Aruak; 9% são procedentes de outras regiões do Brasil e 1% são fragmentos de línguas estrangeiras, principalmente do inglês e do espanhol.

Assim, admito que da mesma forma em que esta miscigenação cultural influenciou no dialeto local, sem dúvida nenhuma influenciou também em outros aspectos culturais levando a um processo de culturalização, em que a cultura indígena ressignificada ao um nível tão forte não chega ao alcance da sociedade envolvente. Isso deixa claro que a história das relações entre os povos nativos e os povos “brancos” sempre foi e continua sendo uma relação de interesse unilateral e de dominação.

Contudo, não quero dizer que qualquer cultura deva ter uma validade absoluta ou que deve transformar-se em categoria estática ou hermética. Ao contrário, qualquer manifestação cultural merece constantes reconfigurações desde que levado em conta o seu contexto histórico. Pois, como define Liev Tolstoy, “a cultura é uma atividade espiritual que amplia o horizonte humano, pois faz nos ver tudo o que não havíamos visto antes”.

*Filósofo [email protected]

Por que igualar? – Afonso Rodrigues de Oliveira*“Os políticos que dizem que o povo não deve receber a liberdade até que saiba exercê-la me lembram aquele sujeito que decidiu não entrar na água até que soubesse nadar.” (Thomas Babington)Por que será que o brasileiro ainda não tem direito ao voto facultativo? Porque os políticos sabem que ele, o povo brasileiro, só terá direito ao voto facultativo quando souber usá-lo. Até aí tudo bem. Ainda não temos a cultura suficiente para a liberdade no voto. E daí? Quem está interessado em preparar o povo para a liberdade? Não vi ninguém levantar o braço. O Brasil está no fundo do poço quando se fala de política. E nada de novidade. Essa viagem do Presidente Temer para o exterior num momento crítico em que vivemos me lembra a viagem que o Jango fez, quando Presidente do Brasil. Ele estava na mesma condição em que o Temer se encontra. Lembra-se disso?

A bagunça que vivemos naqueles dias não era diferente da que vivemos hoje. Então vamos ter mais cuidado com os arrufos. A história se repete em palcos deferentes no mesmo teatro. Os atores estão apenas um pouco mais preparados para o disfarce. E os expectadores continuamos os mesmos, despreparados e sem condições de participar, nem mesmo com aplausos. Ainda continuamos aplaudindo histriões como se fossem atores de verdade. Quando eles nem mesmo sabem como disfarçar o ridículo, correndo com uma mala cheia de dinheiro, roubado de nós pobres e ingênuos títeres.

Confesso que estou preocupado com o interesse das mulheres nas mudanças. Quando será que vamos mudar lutando pela igualdade? Igualar com que? Se quisermos mudar vamos evitar a igualdade. Eu, hen? Vamos nos preocupar mais com nossa Educação. Porque sem ela nunca seremos um povo livre. Estaremos sempre agrilhoados à desonestidade, à pilantragem e aos vigaristas eleitos por nós, sem que tenhamos idéia do que estamos fazendo. Confesso, estou cansado. Enfadado no marasmo da nossa ignorância política.

Confesso, tenho lutado, e muito, para não perturbar você com esse assunto. Mas fica muito difícil. Fere a consciência ver os bons políticos continuarem impossibilitados de trabalhar, cerceados pelos desonestos sagazes, que mantêm os eleitores de olhos vendados e incapazes de escolher baseados na cidadania. Os que ainda não sabem que não serão cidadãos de fato, enquanto votarem por obrigação e não por dever. A obrigatoriedade no voto é uma venda doentia no cerceamento da liberdade cidadã. Acorde brasileiro. Somos nós os responsáveis pelas mudanças que devemos fazer com o poder do nosso voto consciente e não obrigado. Vamos nos educar politicamente. Pense nisso.

*[email protected]