Opinião

Opiniao 01 08 2017 4499

Gilvandro do Baré – Walber Aguiar*Sua ilusão entrou em campo no estádio vazio. E a bola vinha direta para os pés de Gilvandro, o barelista e jogador do grande “time da Consolata”. Deu um drible de corpo quando os beques vieram em sua direção. Rolou a bola mansamente para frente, deixando que a mesma repousasse magicamente no fundo da meta adversária.

Conheci o famoso Gilvandro do Baré, e sei que a bola foi o seu brinquedo preferido. Fez dela companheira e a tratava com carinho e muito estilo. Artilheiro que era não se fazia de “delegado”, ainda que o caminho à sua frente estivesse aberto, escancarado para o gol. O filho do “Garotão”, o famoso Ribeirão, sabia dominar, roubar a pelota, driblar e fazer lançamentos. Muitos foram os títulos que colecionou, entre tantos, dois copões da Amazônia.

Se hoje o futebol roraimense passa por um tempo de crise e o estádio Canarinho foi abandonado, naquela noite a cidade tremeu. A cada defesa de Augusto, a cada investida de Gilvandro, o povo vibrava, com as pernas tremendo e os cabelos nas alturas. Tínhamos orgulho daquele time que foi campeão, tendo como artilheiro o memorável Gilvandro, irmão de Pedrão, o confuseiro, e “macaco”, com quem tive a satisfação de jogar no Edmundo Seffair, o campo do seu Gercino, onde passei grande parte de minha adolescência fazendo defesas e ganhando títulos.

Gilvandro era um craque de primeira, pertencente à constelação de Vado, Júnior, Francélio, Peixoto, Cardosinho, Pedrão e tantos outros. Até mesmo do grande Roberto do Baré, uma lenda do futebol roraimense. Disciplinado pelo velho Ribeirão, seu pai, tornou-se um cidadão de bem e constituiu família, onde foi um pai exemplar e um exemplo para aqueles que, em meio a tanta fraude, corrupção e politicagem, ainda buscam trilhar por um caminho de honra, ética e grandeza.

Gilvandro do Baré amava a bola, o campo e sua esposa, pessoa que o completava nessa dimensão do querer, do amor e da alegria de viver. Deu a ele carinho, respeito, filhos. E o tempo passava, e, como era de se esperar, Gilvandro se defendia das crises, da vida dura, dos reveses, como um grande artilheiro, driblando a ilusão, os dramas e as dificuldades.

O filho do Ribeirão também foi vítima de um sistema único de saúde. Único na malandragem, na seleção dos mais aptos, no desvio de verbas que seriam utilizadas para manter e salvar vidas, de uma saúde capenga, pequena e apequenadora de seus cidadão mais ilustres. Isso porque os que desviam verbas não ficam encurralados em corredores apertados e macas velhas. Não se dão ao trabalho de internar um filho ou um parente num lugar precário e adoecido. Mesmo assim, Gilvandro seguiu, com enorme desejo de viver e de deixar viver. De ser feliz e abraçar os amigos com suas brincadeiras, tiradas e gargalhadas.

Descanse em paz, grande irmão e craque Gilvandro. Mesmo que o time do tempo tenha vencido o time da vida breve, o jogo ainda não acabou. Um dia nos encontraremos todos, nos Canarinhos do infinito. Aí, à semelhança de Mambaia, a alegria será eterna. E ganharemos de goleada…*Advogado, poeta, professor de filosofia, historiador, Conselheiro de Cultura e membro da Academia Roraimense de Letras. [email protected]

Apendicite tem cura – Marlene de Andrade*“Maldito aquele que fizer a obra do Senhor fraudulosamente…” (Jeremias 48:10) O que me motivou escrever este artigo fui eu ter conversado com uma senhora que perdeu, recentemente, o filho de 18 anos, pois, segundo a mesma, o médico após medicar esse referido paciente com analgésicos deu alta para ele, vindo o mesmo falecer no dia seguinte de apendicite aguda.

Apendicite é uma intervenção cirúrgica de execução fácil nas primeiras 24 horas, porém após esse tempo, geralmente, o paciente pode ir a óbito. Portanto, a falha em estabelecer o diagnóstico precocemente é muito perigosa. Nesse viés, tratar paciente com dor abdominal prescrevendo dipirona e buscopan com alta em seguida é muito arriscado. Qualquer dor abdominal deve ser bem esclarecida em primeiro lugar com uma anamnese bem feita e o exame físico detalhado. Apendicite mata muita gente por este mundo afora, por isso nenhum paciente deve sair do hospital sem ser devidamente investigada acerca dessa maldita doença.

Na apendicite pode ocorrer, entre outros, enjoo, vômitos, febre, diarreia e prisão de vente. Uma pessoa quando apresenta apendicite, se não for operada até no máximo 24 horas após o início dos sinais e sintomas o destino dela, inevitavelmente, será quase sempre a morte. Toda dor abdominal que chega a uma unidade de saúde o médico não pode deixar de pensar na possibilidade de uma apendicite, nesse caso ele deve ficar monitorando o paciente detalhadamente.

A dor da apendicite clássica se inicia na região umbilical e depois vai para a fossa ilíaca direita, ou seja, virilha direita, mas essa dor pode variar de lugar confundindo o médico, por exemplo, com uma infecção urinária ou, às vezes, com uma possível litíase renal conhecida como pedra nos rins.

Que fique certo que o exame clínico é sempre soberano, contudo isso não inviabiliza a solicitação de exames laboratoriais, a saber: exame de urina, ultrassonografia abdominal, exame de sangue e entre outros, tomografia computadorizada. Tem muita gente, hoje, debaixo da terra, porque esse protocolo não foi seguido corretamente. Para os que não sabem, o tratamento dessa doença é eminentemente cirúrgico e tem cura quando o paciente é tratado a tempo.*Especialista em Medicina do Trabalho/ANAMT.

O político e a política – Afonso Rodrigues de Oliveira*“Tempos houve em que os demônios falavam e o mundo os ouvia; mas, depois que ouviu os políticos, ainda é pior o mundo.” (Antônio Vieira)A crítica acirrada aos políticos vem de longas datas. E continuará por longos tempos, se não nos atentarmos para a crítica injustificada. Mesmo porque quando nadamos muito nas críticas é porque nem sempre sabemos o que criticamos. Quase sempre criticamos a política quando deveríamos criticar o mau político. E mesmo neste momento deveríamos refletir antes da crítica. E a reflexão nos levaria a considerar que somos nós, o povo, responsáveis pelos políticos que temos; e, consequentemente, pela política que temos. E assim, devemos nos criticar para que melhoremos nossa atuação na política, mesmo fora dela. Porque nem todos os políticos que estão na política são políticos.

Lamentavelmente, a maioria dos políticos não é de políticos, mas de aventureiros que veem na política um meio de enriquecimento. O que os leva ao enriquecimento ilícito. Pelo que somos responsáveis sem saber que somos. O que indica nossa ignorância política; que resulta na má política que temos. Ocupamo-nos mais com pensamentos com os maus políticos do que com os bons. Estes são absolutamente ignorados por nós. São os que não nos interessam. Preferimos reeleger os maus políticos que nos dão buchadas de boi para o churrasco do fim de semana.

Temos grandes exemplos de políticos internacionais que abdicaram das benesses lhes oferecidas depois dos mandatos. No Brasil também os temos, mas não os conhecemos. A simplicidade na administração pública nos parece vulgar. Já lhe falei do episódio ocorrido no Palácio do Governo de São Paulo, no governo do Laudo Natel. Dona Zilda, a Primeira Dama, estava se retirando de uma reunião no Palácio. O Paulo Maluf acompanhou-a até a saída. Quando chegaram à porta, havia um fusquinha parado bem próximo da porta. O Maluf gritou para o funcionário do estacionamento:

– Tire essa sucata daqui e traga o carro da Primeira Dama!

Dona Zilda tocou o braço do Maluf e falou risonha!

– Mas, Paulo… Esse é o meu carro!

Ainda hoje a família Natel guarda aquele fusca como uma lembrança da dona Zilda. E isso ainda acontece, embora consideremos como uma coisa hilária.

O que indica que somos nós, aprendizes de cidadãos, os responsáveis pela nossa política. Então vamos nos educar politicamente, para que possamos ser respeitados como cidadãos de um País respeitável, respeitado pelos parceiros do mundo inteiro. Um cidadão não vende seu voto. Só os corruptos fazem isso. E são os corruptos que elegem corruptos. Pense nisso.*[email protected]