Ruminando ao matadouro Na votação que livrou temporariamente o presidente Michel Temer (PMDB) de ser processado por corrupção, os políticos já davam todos os sinais de que não teriam mais vergonha, numa sessão transmitida ao vivo pela TV, quando expuseram toda a falta de pudor em vender seus votos por liberação de recursos, cargos e troca de favores.
Ali estava consagrado que os políticos perderem o medo de agir às claras, deixando definitivamente as sombras para dizer o “sim” às negociatas e à troca de favores políticos. E agora estão agindo novamente à luz do dia, sem temer a opinião pública, para fazer uma manobra alegando se tratar de uma reforma política.
Esta manobra visa tão somente criar uma maneira de serem eleitos aqueles com maior volume de recursos de fundos públicos para suas campanhas eleitorais, ou seja, eles querem de uma vez por todas tornar legal as campanhas eleitorais milionárias, só que desta vez com recursos públicos, com o nosso dinheiro de contribuinte.
Não basta terem roubado bilhões da Petrobras e de outras estatais brasileiras. Não foi suficiente o esquema Friboi e Odebrecht, responsável por instalar uma rede de achacar os cofres públicos e propinar políticos e governos na América Latina. Agora eles querem tudo na cara limpa, às claras, com dinheiro do povo.
Essa suposta reforma política também tem outra finalidade: fazer com que todos os parlamentares envolvidos na Operação Lava Jato possam se reeleger, a fim de conseguirem privilégio de foro e continuarem tentando impedir que as investigações continuem, como estão fazendo agora, inclusive poupando Temer, que ainda poderá ter foro privilegiado ao deixar a presidência e ser nomeado para um cargo público.
O que permitiu os políticos decidirem por agir desta forma, sem qualquer vergonha na cara, foi a imobilidade do povo quando os deputados votaram a autorização para processar Temer, com o silêncio vergonhoso das ruas. Eles tiveram a certeza de que o povo é tolerante à corrupção, desde que se invente uma mentira para esconder a verdade dos fatos.
Se esta manobra travestida de reforma eleitoral passar no Congresso, e o povo continuar como se fosse um boi ruminante, caminhando pacificamente e de cabeça baixo para o matadouro, não haverá mais volta. Os políticos estão contando mais uma vez com a memória curta, a passividade, a tolerância a corruptos e a impunidade que reina neste país quando se trata de investigar e julgar políticos. E o povo está dando os sinais de que vai engolir mais essa…
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