Próximo passo: siga o dinheiro Um dos momentos mais importantes da minha carreira profissional foi ter ido, em 2004, por meio de um intercâmbio com a Embaixada dos Estados Unidos, à Redação do jornal The Washington Post, em Washington-DC, que ficou celebrizado mundialmente pelo caso Watergate, o qual resultou na renúncia do presidente Nixon. Lá foi dado um exemplo para quem investiga o crime organizado: “Follow the Money”, ou seja, “Siga o dinheiro”.
Como estamos vendo o crime organizado avançar em Roraima e o deslanche das investigações, é necessário que as autoridades agora sigam o rastro do dinheiro dos bandidos que dominam o tráfego de drogas não só em Boa Vista, mas nos municípios mais populosos, a exemplo de Rorainópolis, Caracaraí, Alto Alegre.
Até aqui, as polícias têm seguido um embate de prende-e-solta, que assemelha-se ao que diz o jargão “enxugar gelo”. A recente operação conjunta denominada “Cunhadas”, que prendeu as mulheres de lideranças de facções criminosas revelou a força do crime, com sua capilaridade que avança por meio de jovens fascinadas por esse submundo.
Porém, é necessário seguir o rastro deixado pelo dinheiro para que se chegue ao coração das organizações criminosas, identificando de onde parte a grana para que seja dado um golpe fatal no caixa que financia o crime organizado no Estado. Sem isso, as forças policiais vão continuar enxugando gelo, no prende-e-solta que desanima a atuação de quem está na linha de frente.
Aliás, prender ou até matar não provoca baixas nas facções, pois esses membros logo são substituídos por outros, muitas vezes mais jovens e até mais audaciosos. A pobreza e a ociosidade nos bairros periféricos de Boa Vista são campo férteis para fazer surgir jovens dispostos a entrarem para este mundo.
Logo, torna-se necessário identificar de onde surge os recursos, atacando aquilo que sustenta toda a estrutura das organizações criminosas. Porém, esta é a grande questão, pois lidar com o pequeno traficante é uma coisa e seguir o rastro do dinheiro significa chegar aos financiadores, aos grandes traficantes, talvez até gente com influência.
Resta saber se haverá estrutura e vontade suficientes não só para investigar o rastro do dinheiro, mas sinal verde para se chegar a quem realmente financia o crime dentro e fora dos presídios. Prender as “cunhadas” surte um efeito publicitário das ações policiais, agora é necessário mexer na parte onde dói em todos: no bolso.
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