Aluguel e xote das ochentas Com seu DNA formado na irreverência, algumas vezes exagerando na dose nas letras de suas músicas, a banda Pipoquinha de Normandia está de volta com mais uma polêmica: uma música no ritmo de xote que fala das “ochenta”, como passaram a ser chamadas as venezuelanas que fazem programa no entorno da Feira do Passarão, no bairro Caimbé.
Pode parecer uma insensibilidade com esse problema social? Pode, mas temos que parar com essa história de um “politicamente correto” que não leva a nada. Começaram um movimento de bastidores para protestar contra a satirização que a música faz com as garotas de programa venezuelanas.
Porém, na mesma medida, também está chovendo de críticas à prefeita Teresa Surita (PMDB) por ter anunciado o programa “aluguel solidário” visando amenizar a situação das famílias venezuelanas que estão vivendo nas ruas de Boa Vista. Então, qual seria a dose certa: não fazer gracejos com as garotas de propaganda ou não propor que o Governo Federal pague aluguel para essas famílias de estrangeiros que estão na rua?
O fato é que o problema existe, a prostituição é uma realidade e de conhecimento amplo da sociedade, além de a situação exigir que seja debatida às claras, e não tratada dentro de uma redoma, intocável, inquestionável e incriticável.
Acima dessa discussão que se abriu, há de ser lembrado que “ainda” estamos numa democracia, que enseja numa liberdade de expressão, o que significa a liberdade de a banda Pipoquinha tratar da questão das “ochentas” de forma satírica. E muitos têm que parar com esse falso moralismo, uma vez que a prostituição não é crime e, além disso, é considerada a profissão mais antiga no mundo (aliás, profissão esta reconhecida pelo Ministério do Trabalho).
Já que muitos possam se condoer pela satirização do tema, então por que não partir para apontar soluções, em vez só de criticar e lamentar? A prefeita pôs a cara no problema e lançou seu plano para amenizar a realidade das famílias venezuelanas. Então, se esta proposta de pagar aluguel não é vista com bons olhos, então qual seria a solução?
O fato é que não dá mais para ficar adiando soluções nem escondendo ou disfarçando a realidade. As autoridades não encararam o problema do crime organizado quando ele estava no início, aí chegamos ao nível atual, de criminosos mandaram nos presídios e ameaçaram o poder constituído. E não podemos adiar soluções para este novo problema que nos aflige e que pode piorar ainda mais.
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