Entre votar e odiar
As próximas eleições serão a concretização de uma divisão que vem sendo formada no Brasil há um certo tempo: eleitores e odiadores. Como a compra de voto vai ficar um pouco mais difícil, em virtude dos desdobramentos quase diários da Operação Lava Jato, que atinge todos os partidos, os de esquerda e os de direita, os espertalhões passaram a cultivar odiadores, em vez de eleitores.
Quem mais cultivar aqueles que odeiem o candidato adversário, principalmente por meio das redes sociais, conseguirá pavimentar uma boa trilha para conquistar votos. Os partidos de esquerda são os que mais perdem, pois conseguiram fazer com que as pessoas odeiem tudo aquilo que é de esquerda ou que defenda a minoria.
Não se trata de um processo recente. Há muito tempo, vem-se trabalhando isso no inconsciente coletivo, de pobre odiar pobre, em um canibalismo social que pode ser visto na crônica policial diária, em que os ladrões afanadores de carteira e celulares são agredidos e até linchados em via pública.
Porém, os odiadores de ladrões apenas sentem necessidade de agredir aqueles que moram na periferia, no mesmo nível social ou no bolsão de pobreza. O ladrão de gravata, conhecido também como “de colarinho branco”, da elite, são poupados e até mesmo defendidos.
Na atual realidade, os ladrões de gravata odiados são apenas os considerados de esquerda. Os de direita são poupados desde o episódio do impeachment, pois passamos a ter um presidente denunciado criminalmente duas vezes, por corrução, mas ele é tolerado em nome da “instabilidade” e do “crescimento econômico”.
Tal realidade mostra que os movimentos passados, que sacaram Dilma Rousseff do poder, não eram necessariamente contra a corrupção, mas por ódio criado por tudo aquilo que se apresente de esquerda. São os odiadores cultivados a partir das redes sociais.
Não fosse isso, ou seja, o explícito exercício de odiar a esquerda, esses mesmos movimentos estariam inflamados para tirar o atual presidente e todo seu ministério enredados nos casos de corrupção da Lava Jato. O povo não foi “treinado” a odiar os ladrões da elite e os de direita.
É por isso que as eleições que se avizinham terão esse aspecto de cultivar odiadores como arma para captar votos e enfrentar adversários. Essa turma que está no poder sabe que o pobre é capaz de odiar o pobre e odiar ainda mais aqueles que se apresente como de esquerda ou que defendem as minorias. Eleitores estão sendo transformados em odiadores.
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