Opinião

Opiniao 22 09 2017 4825

Para onde a humanidade está caminhando? – Kézia Wandressa da C. Lima*

Dias atrás, estávamos jantando num estabelecimento que algumas mesas davam um contato direto com a calçada e havia um pedinte de mesa em mesa querendo qualquer trocado que fosse. Chegou à nossa mesa e disse: “vocês podem me ajudar com alguma coisa? Qualquer moeda”, no momento em que uma pessoa na mesa ia abrindo a bolsa de moedas ele já foi esclarecendo (como se houvesse a necessidade disso): “olha, eu sou brasileiro, viu?”. Gerou logo um desconforto na mesa e ele continuou, “é que tem muito venezuelano pedindo por aí, né…”. No mesmo instante, com um tom de desagrado e entregando-lhe as moedas explicamos que acima da questão da nacionalidade está a condição humana das pessoas, que aquele ato de entregar-lhe as moedas não era patriótico e sim, humano, que ele podia ser mexicano ou bolivariano que isso não tinha a menor importância.

Depois eu fiquei refletindo o ocorrido, aquela situação me fez pensar que, hipoteticamente, aquele pedinte pode ser que nem se importe ou acredite que a ajuda ao conterrâneo esteja acima do fato de ser um humano precisando de ajuda, mas a influência desse discurso de ódio tem gerado a necessidade de se apropriar do que, possivelmente, seja de agrado do seu interlocutor e o convença com mais veemência a doar, já que o discurso de ódio ou de rejeição ao estrangeiro tem se proliferado sem timidez alguma pela cidade de Boa Vista.

No mês passado, de forma mais branda, uma fantasia intitulada “Veneca do amor” que se explicava com um escambo de beijo por pirulin e, inclusive, premiada num concurso de fantasia, foi criticada por alguns usuários das redes socais por fazer referência à situação em que venezuelanos imigrantes encontram-se nos semáforos vendendo o doce (pirulin) e utilizando placas feitas de papelão. Obviamente, as opiniões se dividiam entre os que apoiavam a fantasia (“é só uma piada”; “a maldade tá nos olhos de quem vê”; “esse povo do mimimi adora uma confusão”), e os que acharam ofensiva (“você pode substituir a fantasia de imigrante por um emprego pra ele”; “não tem graça fazer piada com situação de calamidade”; “não se brinca com quem passou horas no sol trabalhando pra se alimentar”). Particularmente, entrei na dita turma do “mimimi” (sim, diversas vezes rotulada dessa forma) porque pensei: essas pessoas achariam tolerante imaginar e aceitar europeus fantasiados de imigrantes africanos em boias atravessando o mediterrâneo?

É inacreditável que o discurso seguinte é o de que quem critica tais ações. São pessoas que não vão aos abrigos ou faz qualquer tipo de doação. Como se a sensatez estivesse vinculada ao ato de fazer caridade e ao fazê-la você tem o direito de “ser engraçado” com a situação do outro. Para onde a humanidade está caminhando? Estamos em retrocessos constantes e isso é assustador. Marx (1851) disse em “O 18 Brumário de Luis Bonaparte”, concordando com Hegel, que “os fatos e personagens de grande importância na história do mundo acontecem duas vezes” e acrescentou que essa repetição ocorre “a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa”.

Temos a possibilidade de pararmos na parte que foi uma tragédia, depende da gente ela não se repetir. Depende da gente o nazismo continuar somente nos livros didáticos e nas nossas memórias, “para que não se esqueça, para que nunca mais aconteça”.

*Historiadora, mestranda do Programa de Sociedade e Fronteiras pela UFRR.

A arte de viver em família – Oscar D’Ambrosio*

Família é algo maravilhosamente complicado. Uma manifestação artística que auxilia a lidar com seus pontos positivos e negativos está no filme romeno ‘Sieranevada’, de Cristi Puiu. Uma refeição em casa após uma cerimônia da Igreja Ortodoxa em homenagem a um falecido reúne as mais diferentes pessoas.

O filme é longo, escuro e com diálogos cansativos, mas merece ser visto porque desnuda as relações mais prováveis e improváveis de uma dúzia de personagens. Temos o marido traidor, a amiga drogada, a avô que defende a ditadura, o jovem que tudo busca na Internet, entre outros seres humanos geralmente desencontrados com si mesmos e com a sociedade.

Os temas que pontuam os diálogos são aqueles que tornam a vida familiar um fascínio permanente. Fala-se de política, religião e questões sociais, quase como num programa de debates na TV. Ao mesmo tempo, surgem os problemas individuais, geralmente marcados pelo amor (ou pela falta dele), pela passagem do tempo e pela sexualidade.

Manifestações sinceras e falsas, conflitos entre o velho e o novo, e paixões que motivam palavras e afetos são percepções e sentimentos de pavio curto. O filme os faz explodir de maneira brutal e – pasmem! – poética. A cena final de três dos rapazes rindo das aventuras daquela refeição em família ilustra a comédia e o drama que nosso cotidiano comporta.

*Doutor em Educação, Arte e História da Cultura e Mestre em Artes Visuais, atua na Assessoria de Comunicação e Imprensa da Unesp.

Depende de como você vê – Afonso Rodrigues de Oliveira*

“Um dia de chuva é lindo como um dia de sol, porque cada um é como é.” (Fernando Pessoa)

O feio e o bonito existem. Depende de como você os vê. E você os vê de acordo com seu estado de espírito no momento em que os vê. Simples pra dedéu. Não sei como você vai passar o dia, hoje. Mas tudo depende de você. De como você vê a vida e de como resolve vivê-la. É uma decisão que só você pode tomar em relação a você. Lembre-se de que “ninguém, além de você mesmo, tem o poder de fazer você se sentir feliz ou infeliz, se você não estiver a fim?”. Então procure ver e viver seu dia, hoje, como ele se apresentar pra você.

Nossa evolução está no nível em que pretendemos e queremos viver. E cada um de nós está no seu grau de evolução. Comece a medir em que grau você está e dê um passo à frente. Você já sabe que o ser humano nunca alcançará a perfeição. E é exatamente por isso que ele deve estar sempre procurando a perfeição. E comece por não levar esse papo como filosofia ou coisa assim. Nada disso. Estamos batendo um papo de amigos na caminhada do sucesso. Mas vamos aprender o que significa sucesso, para cada um de nós.

E é nesse aprendizado que avançamos em direção à imunização racional. Mas vamos caminhar devagarzinho, bater na porta, sem alarde, e entrar de mansinho. Não nos esquecendo de que estamos num mundo em evolução. Que ainda não sabemos quantos dilúvios já tivemos nem quantos ainda teremos. O que sabemos é que cada um de nós deve fazer sua parte no desenvolvimento da humanidade. E podemos e devemos fazer isso no que fazemos no nosso dia a dia. Não importa se você está administrando uma grande empresa ou varrendo a rua, na condição de gari. O que importa é que você faça bem feito o que faz. Seu estado social, hoje depende do estado social em que você viveu anteriormente. E é por isso que você deve evoluir para sua condição na próxima geração.

Se se pensar no futuro não se deve negligenciar no presente. Quando vivemos uma vida desequilibrada no presente, não estamos preparando o futuro. E que futuro você espera para você mesmo, se não se preparar para ele? Você já sabe que o futuro é amanhã. Mas não está levando em consideração que no mundo para o qual você irá, mesmo sem saber, não há unidade de tempo. O tempo que você gastar por aqui é problema seu e só seu.

Então, use-o como ele deve ser usado: mas com racionalidade. Agora pare, reflita e relaxe. Sorria e se achar melhor, ria, mas continue sendo o que você é, independentemente do dia ser chuvoso ou ensolarado. A felicidade e a infelicidade estão dentro de você mesmo. Escolha-a. Pense nisso.

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