Opinião

Opiniao 09 10 2017 4928

Anonimatos do bem – Tom Zé Albuquerque*

A cidade é Janaúba, a 547 km de Belo Horizonte, a capital mineira. Num dia qualquer, um transloucado vigia de uma creche jogou combustível sobre várias crianças e em si próprio e, obviamente, causou uma tragédia absurda levando ao óbito quase uma dezena de crianças e ferindo mais de quarenta inocentes.

Nesse contexto, surgiu a personagem Heley, uma corajosa professora que, ante tamanha desgraça, resolveu travar luta corporal com o assassino, salvando da morte inúmeros alunos. Ao tempo que a pedagoga tentava apagar o fogo, concomitantemente salvava crianças. Ela morreu após quase dois dias hospitalizada em virtude das queimaduras que consumiram 90% de seu corpo. Tinha 43 anos, fazia trabalhos voluntários, era mãe de três filhos, o mais novo de apenas 1 ano de idade. A professora Heley Abreu de Silva Batista era mais uma anônima e que entrou para a história como um ser que mudou um entrecho social.

Na cidade de Boa Vista/RR, existem também pessoas que salvam vidas e tornam melhor o dia a dia de tantos seres humano. Uma delas responde pelo nome de Maria das Dores. Esta mulher é nordestina, negra e pobre (e para o Brasil segregador e preconceituoso isso é por si só trágico); nasceu em ermo interior do Estado do Maranhão. Desde cedo sentiu as dores dos adultos e as agruras da vida. Sofreu um AVC que deixaram agudas sequelas. Tem problemas cardíacos sérios; comprometimentos renais a obriga a sessões periódicas de hemodiálise. Na última semana perdeu uma filha, ainda criança.

A Das Dores é a presidente da Associação Grupo Mães Anjos de Luz e, incansavelmente, ampara pessoas (especialmente crianças, todas deficientes) carentes de cuidado e socorro; faltam assistência médica, remédios, alimentos, roupas, estrutura… e não há verba específica senão o esteio dos voluntários, outros tantos indulgentes anônimos, que juntos permitem a salvaguarda de inúmeras pessoas, cotidianamente. Essa incrível mulher doa 24h do seu tempo em ajudar as pessoas, por vezes compromete sua minguada única fonte de renda, pois, a aposentadoria de um salário mínimo, em prol dos necessitados. A entidade nasceu e vive desse escopo: desmedido altruísmo.

Num país onde imbecis exaltam jogadores de futebol ou bigbroters como heróis, ou cantora de funk como rainha, fico imaginando qual seria o título a ser dado às Heley, Das Dores e tantas outras almas benevolentes em nosso meio. Sociedade patética, ridícula e fútil essa nossa, que sequer consegue selecionar o que é etéreo daquilo que é tóxico.

*Administrador

QUEM MUDA? – Vera Sábio*

É mais fácil esperar do outro, colocar a culpa no outro, deixar para o outro, do que assumir a direção dos atos e palavras, enfim, ser o protagonista da própria história.

Sabemos que dependemos de um sistema, de uma legislação, de outras pessoas, porém os outros também dependem da gente e todos somos importantes e responsáveis pelas mudanças existentes.

Somente quando tivermos consciência do nosso valor saberemos que tudo depende de quem muda.

Ouvi esta metáfora que muito me fez refletir.

“Uma pessoa segurava uma xícara de café e alguém esbarrou em seu braço, fazendo com que derramasse café por todos os lados. Alguém pergunta:

― Por que você derrubou o café?

E você responde que foi porque bateram em seu braço… mentira. Foi porque havia café na xícara, se houvesse chá teria derramado chá ou qualquer outro líquido que tivesse na xícara”.

Assim quem é o culpado?

O culpado do que sai de você, é somente você mesmo que foi capaz de se encher daquilo.

Estamos presos em nossas convicções de que o país não tem jeito, porém, dependem de nosso voto as pessoas que governam o país e as que irão governar. Portanto, enquanto não assumirmos nosso papel e mudarmos realmente, valorizarmos as prioridades ao invés das ilusões, tudo continuará de mal a pior.

Não tem como fazer omelete sem quebrar os ovos. A bagunça foi grande demais, enquanto o gigante dorme iludido com as novelas, com as olimpíadas, com a copa do mundo e agora com o Rock in Rio.

Só cada um é capaz de mudar e somente derramar o que possui no íntimo. Por isso se encha de coragem, de honestidade, de discernimento, de verdade e assim transborde, limpando tanta sujeira que existe e construindo um futuro melhor.

*Psicóloga, palestrante, servidora pública, esposa, mãe e [email protected]

Evolução no saber – Afonso Rodrigues de Oliveira*

“Os verdadeiros analfabetos são aqueles que aprenderam a ler e não leem.” (Mário Quintana)

Precisamos tomar esse cuidado com a nossa cultura, em Roraima. Ainda estamos num estágio de evolução incipiente. E faz mais de trinta anos que discutimos isso por aqui. Somos um Estado que acabou de comemorar seu vigésimo nono ano. E a jiripoca continua piando no mal entendido sobre isso. O registro com 29 anos de idade não indica que ele nasceu há 29 anos. Então vamos comemorar nossa existência e aproveitá-la para aprimorar nossa Cultura, nossa Educação e a nós mesmos. Faz um século que Mário de Andrade nos apresentou o Macunaíma.

Você já foi ver a extraordinária e maravilhosa exposição “Trajetória Di Cardoso”, do extraordinário e exemplar Augusto Cardoso? Se não foi, vá. Não perca de ver o exemplo mais exemplar de como ainda não valorizamos nossa Cultura como ela deve ser valorizada. O Cardoso é um dos maiores exemplos do valor artístico do nosso Estado. Um autodidata que nos mostra o quanto somos no que apenas somos quando sabemos o que somos. E ele sabe. Senti que ele merecia mais atenção dos que cuidam da Cultura no Estado. Sua exposição merecia uma apresentação mais condizente com sua grandeza. Senti isso na decepção que li no seu semblante e no lacrimejar da Edy, diante da expressão dele.

Vamos trabalhar em prol da nossa Cultura. Somos um Estado vivendo uma miscigenação extraordinária. E a miscigenação sempre é um verdadeiro cadinho que mistura e funde culturas diferentes, mas iguais, como cultura. Porque esta é uma fusão de conhecimentos e sabedoria. E por isso merece mais atenção e respeito dos encarregados de expandi-la em benefício da sociedade.

Não deixe de ir ver a expressão do Cardoso no seu extraordinário poder sobre a arte. Vamos formar o grupo poderoso com Macunaíma e todos os personagens da história cultural do Brasil. Não é pequeno o número de grandes artistas que caminham pelas vias de Boa Vista e que não são vistos como deveriam ser. Vamos tirar a máscara da empáfia, sair da frente do espelho e olhar para o mundo que queremos dirigir, mas não estamos sendo suficientemente capazes.

Parabéns Cardoso e Edy. Sei o que vocês fazem para o engrandecimento da nossa Cultura. Continue assim, Cardoso. Mostre para o mundo que você realmente foi. Bob Marley disse: “O homem é um sucesso se ele acorda de manhã e vai para a cama à noite e entre as duas coisas ele faz o que gosta de fazer”. Você gosta do que faz, sabe o valor do que faz. E isso é o mais importante para você e o mundo. Vá em frente, cara. Meu abraço do tamanho do mundo. Pense nisso.

*[email protected]