Barras, cordas e destinos – Walber Aguiar*
Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal nenhum, porque tu estás comigo… Salmos 23
Tia Noemi teve seu tempo chegado, seu destino traçado, sua história contada por ela e pelos parentes e amigos. Isso porque a riqueza de detalhes de sua vida fez com que outros vários caminhos fossem descobertos e cruzados. Com o desejo de conhecer a Deus, pai das luzes, em quem não há variação nem sombra de mudança, esbarrou em geografias, lugares, lagoas, municípios, histórias, caminhos, envolvimento com estrangeiros, principalmente com aqueles a quem ensinaria português; como o casal Nilo e Meire Hawkins.
Ora, essa figura carismática sempre buscou a grandeza e o conhecimento do Deus; tanto que, ainda em Barra do Corda, a partir do Centro dos Protestantes, foi educada pelas missionárias da igreja Cristã Evangélica, no Instituto Bíblico Maranata, onde estudou e teve uma compreensão maior do sagrado. Isso porque Deus não cabe num tubo de ensaio nem nas estruturas arcaicas que tentam aprisioná-lo, a fim de exercer sobre ele algum tipo de domesticação. Deus ultrapassa todas as barreiras e contenções que tentam diminuir sua grandeza e poder, sua soberania e intervenção na história humana. Por isso a história de tia Noemi remonta ao massacre de Alto Alegre, acontecimento que se deu por causa da domesticação de crianças indígenas, humilhação e maus-tratos dos adultos pelos religiosos da Igreja Católica.
Não que ela tivesse qualquer participação nesse massacre; longe disso. Até porque o trágico evento se deu no município de Alto Alegre, distante muitos quilômetros de Barra do Corda. Mesmo assim, conta com detalhes como ocorreu o massacre, tendo sido o padre oficiante da missa o primeiro a morrer, alvejado por uma flecha no pescoço. No dia 13 de março de 1901 morreram mais de duzentas pessoas, na pesquisa feita por alguns historiadores maranhenses que retrataram e retratam o evento.
Tia Noemi nunca foi feliz para sempre, como nas histórias de contos de fadas. Ora enfrentando percalços em nome da fé, ora passando por dramas pessoais e familiares, entendeu que não é bom que o homem esteja só. Por esse motivo construiu sua vida ao lado do missionário Silas Coutinho, com quem trilhou o caminho da fé de Abraão e não ficou no cume do monte, no meio da viagem, mas, junto com Ester, sua irmã, Natanael, o tio “lora”, Henrique e outros, entrou na terra prometida; terra onde mana leite e mel, vinho de buriti e a doce água do Rio Branco.
Ali, a mulher de fibra Abraâmica teve filhos e as mais belas histórias que alguém poderia ter em seu percurso existencial. Samuel, um pedido a Deus, e Moisés, o menino tirado das águas, dariam a ela muitos netos e alegrias.
Depois de muita vida e fidelidade a Deus, ela, a tia de todos da 1ª Igreja Presbiteriana, passou a estar com o Senhor. Com aquele que embalou seus sonhos e viu acontecer debaixo de muita graça sua cotidiana realidade.
Vá em paz, minha doce, terna, simples e fascinante tia Noemi. Você foi e continuará sendo uma das pessoas mais lindas e encantadoras que já conheci…
*Advogado, poeta, professor de filosofia, historiador e membro da Academia Roraimense de Letras
Vivendo de aparências – Marlene de Andrade*
“Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, mas somente a que for boa para promover edificação” (Efésios 4:29).
Um dia desses me disseram que eu usava roupas muito “barrelas” e que como médica deveria me vestir melhor. Pelo fato de sermos profissionais liberais nada nos faz mais valorosos do que qualquer pessoa deste planeta.
Ter 3º grau ou ser PhD não nos transforma em super stars. Todos vamos virar pó e não é um curso superior que nos faz diferentes de um gari, o qual é tão importante para a sociedade, quanto qualquer ser humano mais “estiloso”, graduado, ou muito douto.
É verdade que cada ocasião exige indumentárias diferentes e não há o que se discutir a esse respeito. Não podemos ir a um casamento calçando sandálias Havaianas, ou um juiz realizar uma audiência de bermuda só porque residimos em um país tropical. Também é inconcebível alguém entrar em um órgão público em trajes de praia.
Andar de salto alto, engravatado ou usar grife nada tem de errado, contudo o uso de roupas de marcas desconhecidas também são muitas vezes elegantes e podem vestir muito bem as pessoas e elas em nada depreciam quem quer que seja.
Devemos colocar na cabeça que somos todos iguais, pois hoje alguém, por exemplo, que exerça a função de deputado, amanhã pode se tornar tão somente um cidadão comum. Nesse caso o que mudou nele não foi a sua essência e sim a sua referida função dentro da sociedade.
Não devemos julgar as pessoas apenas pela sua aparência, porém é evidente que não podemos andar de qualquer jeito, ou seja, maltrapilhos ou extravagantemente vestidos à moda esfarrapada, sujos e mal cheirosos. Usar roupas e acessórios de bom gosto faz parte das nossas vidas e é de bom tom, mas não é preciso usar grifes famosas para sermos reconhecidos na Sociedade.
Dentro desse foco de discussão, é interessante perceber que grande parte das pessoas, principalmente as das classes sociais mais baixas, gostam de imitar pessoas de maior representação social. Geralmente, as sociedades humanas criam padrões, que tendem a ser seguidos pelas pessoas, contudo muitas vezes esses padrões não passam de consumismo supérfluo.
É comum algumas pessoas escolherem um corte de cabelo, ou roupas imitando artistas famosos e por si só, nada disso é errado. O que não podemos é criar paradigmas em cima desses estereótipos que de nada valem na nossa vida tão passageira. Sendo assim e depois desta reflexão, pergunto a mim mesma: o que é usar roupas “barrelas”? É não estar usando marcas internacionais?
*Médica especialista em Medicina do Trabalho/ANAMT
Afonso Arinos e Eça de Queiroz – Afonso Rodrigues de Oliveira*
“Os partidos nacionais são arapucas eleitorais e balcões de vendas.” (Afonso Arinos)
Você quer melhorar a política brasileira? Você pode. O poder, o direito, o dever e a responsabilidade são todos seus. É só você se valorizar e eleger políticos. O que poucos de nós fazemos. E não o faremos enquanto não entendermos a política. E não a entenderemos enquanto não formos um povo civilizado. E nunca seremos civilizados enquanto não formos educados. E nunca seremos educados enquanto não nos educarem. E já que não nos educam, vamos nos educar. Deu pra sacar?
A verdade é que nunca seremos merecedores de respeito enquanto não nos respeitarmos. E não se respeita quem vota num candidato que tenta comprar seu o voto. Muito menos respeito merece quem vende o voto. Mas a venda do voto não é o maior desrespeito que os maus eleitores cometem. Estamos com as casas legislativas lotadas de políticos que não são políticos. Mas são nossos representantes. Então com quem está a responsabilidade pelo desmando? Com quem votou no cara.
Todo político fica ofendido com o pensamento do Eça de Queiroz: “Os políticos e as fraldas devem ser mudados frequentemente e pela mesma razão.” Um pensamento aparentemente grosseiro, mas que revela a verdade. E é nela que está a verdade que implica responsabilidade cidadã. Então vamos refletir sobre os pensamentos do Afonso Arinos e do Eça de Queiroz. Afinal são dois vultos da nossa história passada, e recente. Não teremos políticos respeitáveis enquanto elegermos desonestos e irresponsáveis para nos representar. Porque eles são espertos e sabem quem nós somos. E o que somos? Todos, deseducados, despreparados para a cidadania. Ainda nos julgamos espertos e votamos por obrigação quando deveríamos votar por dever. E por que usarmos nosso dever quando não sabemos respeitá-lo?
Vamos nos educar para nos respeitar e sermos respeitados. Não vamos permitir que o Brasil continue sendo visto, pelos países civilizados, como a Terra dos Macacos. Porque foi assim que fomos vistos em séculos. Quando nos educarmos entenderemos que tudo que um político faz no seu mandato é apenas parte do que ele deveria fazer. Não importa o quanto ele fez. O dever do político é trabalhar em beneficio da sociedade. Ele foi eleito para trabalhar para e pelo cidadão.
Mas vamos encerrar nosso papo com o pensamento do conhecidíssimo Nikita Kruschev: “Os políticos são os mesmos em toda parte. Prometem construir uma ponte mesmo onde não há rio.” E os eleitores também. Então vamos fazer nossa parte como ela deve ser feita, para sairmos do lamaçal. Pense nisso.