Bom dia,
Contrariando as expectativas de que haveria uma votação apertada, os senadores derrubaram ontem, por larga maioria, a decisão da 1ª Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) que impôs medidas preventivas contra o senador mineiro Aécio Neves (PSDB). Como já amplamente divulgado, Neves teve o mandato parlamentar suspenso, foi obrigado a entregar seu passaporte para a Polícia Federal e proibido de sair à noite de sua residência. O motivo dessas penas decorreu da divulgação de uma gravação de áudio e vídeo, onde o senador tucano pede R$ 2 milhões a fim de pagar advogados para defendê-los na Lava Jato.
Os que votaram para anular as medidas de restrição imposta pelo STF ao tucano alegaram que ele sequer teve indiciamento feito por inquérito policial e muito menos teve denúncia aceita pelo Judiciário. Ou seja, não existe a formalização do chamado devido processo legal. E como condenar alguém, mesmo que cautelarmente, sem lhe dar o direito ao amplo contraditório como manda a Constituição pátria? Nesse sentido, a linha de argumentação dos senadores que votaram a favor do tucano mineiro faz todo o sentido, e põe freio relativo ao protagonismo exacerbado de alguns componentes do Poder Judiciário que, animados pela fraqueza política do Parlamento, ultrapassam os mandamentos constitucionais.
É por essa vertente que os redatores da Parabólica não acham, como muitos, que a decisão de ontem enterra a Lava Jato, pelo menos no que diz respeito aos políticos canalhas acostumados a roubar o dinheiro público, beneficiado com o imoral privilégio de foro. Na verdade, esta decisão que beneficiou Aécio Neves é um tapa de luva na cara do Supremo Tribunal Federal que, após quase quatro anos de investigações e revelações estarrecedoras, não condenou até hoje qualquer parlamentar federal. Tomara que os ministros e as ministras tomem vergonha na cara e decidam mandar para cadeia os canalhas já com participação provada na roubalheira tupiniquim. E eles são muitos.
CARA NOVAVez por outra, é possível ouvir vozes falando no surgimento de novos nomes no cenário eleitoral para o pleito de 2018. As antenas da Parabólica andam voltadas aos bastidores da política local e, pelos sinais emitidos, o quadro que se desenha não é nada animador. E quem conhece a forma de ser feita a política local, especialmente a dinâmica da disputa por votos a cada eleição, sabe que os chamados operadores de cada eleição, representados pelos chamados cabos eleitorais, é o mesmo faz muitos anos. São viciados e muito caros, e não têm qualquer compromisso com valores republicanos. Eleições entre nós é quase sempre uma indústria que dá muita grana.
SACO DE PANCADADesde que deixou a chefia da Procuradoria-Geral da República (PGR), Rodrigo Janot virou saco de pancada preferencial dos políticos que ele denunciou por algum malfeito no uso do dinheiro público. Um desses políticos é o próprio presidente Michel Temer (PMDB) que já lhe dedicou vários adjetivos nada abonadores. Outro político que ataca frequentemente o ex-procurador-geral da República é o senador Romero Jucá (PMDB), alvo de mais de uma dezena de acusações de recebimento de propina, especialmente por delatores. Jucá chegou a insinuar que Janot teria algum fetiche em relação a seu bigode. O que é estranho nisso tudo é que não aparece ninguém para defender o ex-chefe da PRG. Será que ele seria voz isolada na instituição?
SOMBRASEm entrevista concedida ontem a um canal fechado de notícia, o juiz federal Sérgio Moro disse que existem sombras escuras que tentam impedir o processo de apuração dos malfeitos praticados por políticos no âmbito da Lava Jato. Segundo o magistrado, o processo de apuração, apesar do aparente retrocesso, algumas vezes continua tendo apoio da opinião pública nacional e da imprensa. Enquanto isso permanece, ainda resta a esperança de que o país pode melhorar. O recado foi dado, pena que muita gente não está nem aí.
EXPEDIENTENão dá para entender a que ponto chegamos em termos de serviço público. Como não costuma jogar os problemas para debaixo do tapete, o ainda secretário estadual de Segurança Pública, delegado Francisco Araújo, disse que uma das suas frustações foi não conseguir que a Polícia Civil voltasse a ter dois expedientes, como, aliás, reza a legislação aplicável ao funcionalismo público. Como os servidores públicos atuais têm carga horária reduzida, resta ampliada a necessidade de contratar novos servidores. O que não se explica é de onde sairá a grana para pagar tanta gente. Em tempo: a questão não se resume ao setor de Segurança Pública, mas a todos os demais setores governamentais.
YANOMAMIOntem, por volta das 8h30 da manhã, vários índios yanomami – cerca de 20 a 25 pessoas – caminhavam pelas margens da BR-174, vindo de Mucajaí em direção a Boa Vista. Maltrapilhos, eles se dividiam em grupos de duas a três pessoas, separados por cerca de 200 metros. A maior parte era constituída de mulheres muito jovens, todas com crianças pequenas coladas aos seus corpos. Num desses grupos, quatro crianças aparentando ter entre 3 a 4 anos caminhavam sozinhas, com risco iminente de serem atingidas pelos veículos que passavam em alta velocidade. É uma gente abandonada pela Fundação Nacional do índio (Funai) que tem obrigação de protegê-la.