Quem decide o que é bom para o Brasil? – Sérgio Mauro*
A polêmica sobre a necessidade ou não de urgentes reformas na Previdência Social, cuja “novela” se desenrola há meses, sem nenhum desfecho previsível, poderia terminar de uma maneira bastante simples: mediante um plebiscito em que os cidadãos brasileiros seriam chamados para decidir nas urnas se convêm reformar as leis que aí estão (frutos de anteriores e inesgotáveis reformas) ou se é preciso mudar tudo, acabando com supostos privilégios e instituindo uma idade mínima cada vez maior, com mais tempo de contribuição (considerando a expectativa de vida!).
Aos que objetarem que os custos para um repentino plebiscito seriam altos, poderíamos responder que os atuais custos da indecisão e da relutância de deputados e senadores em aprovar uma reforma claramente impopular são certamente mais altos do que a convocação de um plebiscito. Por que, então, ninguém sequer cogitou até agora a consulta popular?
Evidentemente, não interessa ao atual governo consultar o povo brasileiro. O temor de uma resposta provavelmente negativa, contrária a qualquer mudança radical, tanto com relação à idade mínima como com relação ao estabelecimento de tetos salariais, é muito grande, sendo preferível tentar a famosa compra-venda de apoios na Câmara dos Deputados e no Senado, concedendo e negociando questões e privilégios que, aí sim, afetam diretamente a vida dos brasileiros, sobretudo dos que menos possuem.
Por que é tão difícil cortar absurdos privilégios de quem, sendo funcionário público, ganha mais do que o teto estabelecido pelo governo? Por que é tão difícil diminuir o absurdo número de vereadores, deputados e uma miríade de assessores que apenas sustentam a ineficiente máquina política dos municípios e estados?
A resposta é uma só: toda reforma parte do princípio de que as mudanças devem ser feitas junto à parcela indefesa da população, isto é, aquela que pode no máximo recorrer ao expediente legítimo das greves e protestos públicos, não conseguindo paralisar o país a ponto de reverter um quadro já estabelecido pelos conluios entre políticos e lobistas. Em poucas palavras: quem decide o que é bom para o Brasil não é a vontade popular, mas um grupo de políticos que, embora legitimamente eleitos pelo povo, governam em causa própria, com raríssimas exceções.
A reforma da Previdência, se aprovada, mesmo que seja apenas nos quesitos mínimos, longe do projeto inicial do governo Temer, não será a última, nem a definitiva, pois os problemas que dela derivam hão de continuar, não certamente devidos ao aumento da expectativa de vida do brasileiro, mas à crônica ineficiência na gestão dos recursos públicos e aos costumes arraigados de conluios espúrios e de compra e venda de votos e cargos na administração pública. *Professor da Faculdade de Ciências e Letras da Unesp de Araraquara
O Estado das Coisas – Oscar D’Ambrosio*
Se você está na faixa dos 50 anos, não veja o filme ‘O Estado das Coisas’ (‘Brad’s Status’), de Mike White, com o sempre carismático Ben Stiller. Brincadeirinha… Veja sim. Não se trata de um filme inesquecível, mas traz bons questionamentos para essa e para qualquer faixa etária. Afinal, a proposta de rever os próprios passos sempre deve ser bem recebida.
O protagonista, vivido por Stiller, não parece ter do que reclamar. Tem uma boa casa, uma bela família, com uma doce esposa e um filho prestes a entrar em Harvard e o trabalho com o qual sonhara. No entanto, tudo parece perder o sentido ao ser comparado com a posição de seus colegas de turma da faculdade.
É nesse ponto que o filme se torna interessante, pois toca no tema da obsessão pelo sucesso da sociedade americana, da qual partilhamos bastante por aqui. Por que o padrão de felicidade para muitos – pois é, não são poucos – é exatamente o de estar na mídia, ter muito dinheiro, belas mulheres e jatinho particular?
Os valores parecem vazios – e talvez sejam mesmo –, mas pautam uma sociedade competitiva em que o jogo de influências, poder, dinheiro e acesso ao que o mundo parece ter de melhor se articulam em escalas comparativas entre o que se queria ser, o que se é o que o futuro parece reservar. Assista e discuta o filme. Vale a pena!
* Doutor em Educação, Arte e História da Cultura e Mestre em Artes Visuais pelo Instituto de Artes da Unesp, onde atua na Assessoria de Comunicação e Imprensa
A grandeza na simplicidade – Afonso Rodrigues de Oliveira*
“Se o mestre for realmente sábio, ele não o levará a entrar na casa da sabedoria, mas sim, o guiará para os limites de sua própria mente.” (Gibran Khalil Gibran)
Quando sabemos o poder que temos em nossas mentes, não necessitamos de sair por aí, à procura do que já temos, e não sabemos que temos. Mas não é tarefa fácil acreditar em si mesmo. E tudo está na simplicidade.
Sempre que falo disso com amigos de brincadeiras, eles riem pensando que estou brincando. E se trata de um ensinamento que o Gibran nos deu e que não lhe damos atenção. Foi no dia em que ele, Gibran, completou seus 26 anos de idade. Ele disse: “Hoje acabei de completar minha vigésima-sexta volta em volta do Sol.” E isso foi no início do século passado. E você já prestou atenção à grandeza desse fato? Você já considerou que no dia do seu aniversário você está concluindo mais uma volta em volta do Sol? O que faz de você, seja você quem for, um tremendo astronauta? Reflita sobre isso.
Procure viver sua vida na sabedoria da simplicidade. O maior problema no ser humano é que ele é viciado na complexidade. E é aí que ele afunda no pantanal das dificuldades. Todos os dias ele está parando diante do sapo da Alice e perguntando que vereda deve tomar. É o que fazemos nas escolas, todos os dias durante toda a nossa vida. Aprendemos a ler porque nos ensinam; e porque nos ensinam não aprendemos; e porque não aprendemos continuamos caminhando sem saber para onde estamos indo. Acabamos na encruzilhada, deparando-nos com o sapo. Como não sabemos lhe dizer para onde queremos ir, ele nos aconselha a tomar qualquer vereda. Seguimos em frente e entramos na Faculdade do Asfalto sem saber que entramos.
É por aí que não paramos mais de aprender com o tempo perdido. E o tempo perdido não se recupera. E o problema está na sua escolha. Se deve ou não, perder tempo com o passado. E enquanto isso a Terra continua voando em volta do Sol, levando você sem você saber que está indo. Aí chega seu dia de aniversário e você fica feliz porque completou seu quinquagésimo ano de idade, mas sem saber que acabou de dar mais uma volta em volta do Sol. E aí dá mais valor ao churrasco do que à vitória.
E comece por não levar isso como uma brincadeira. É muito sério. É aí que você vai ver o valor que você tem no que você é. E é simples pra dedéu. Não se preocupe em mostrar o que você quer que os outros vejam em você, mas com o que você é. E só não vê quem é cego. E nada mais grave do que a cegueira mental. Então abra os olhos de sua mente e viva como um ser de origem racional em busca da racionalidade. Pense nisso.