Pobres meninos ricos – Ronaldo Mota*
Há vários estudos demonstrando como a miséria e a pobreza dificultam a aprendizagem. Outra variável menos estudada é o quanto as discrepantes desigualdades sociais afetam a todos, inclusive os mais ricos. Ou seja, mesmo aqueles que têm acesso a tudo, pelo convívio em sociedades excludentes, também são negativamente atingidos, em especial na educação.
O Pisa – Programa Internacional de Avaliação de Alunos é uma avaliação internacional que mede desde 2000, a cada três anos, o nível educacional de jovens de 15 anos por meio de provas de Leitura, Matemática, Ciências e, mais recentemente (desde 2012), Conhecimentos em Finanças. O exame é realizado pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), entidade formada por governos de 30 países que têm como princípios a democracia e a economia de mercado. Países não membros da OCDE, como é o caso do Brasil, também podem participar do Pisa enquanto convidados. Atualmente, 70 países participam do Pisa, cujo objetivo principal é produzir indicadores que contribuam para a discussão da qualidade da educação básica e que possam subsidiar políticas nacionais de melhoria da educação.
Na última edição do Pisa (2015), pela primeira vez o Brasil participou da prova específica de conhecimentos financeiros, sendo um dos 15 países onde o teste foi aplicado. Nossos resultados não foram bons, a exemplo das demais matérias, mas desta vez neste quesito ficamos em último (média de 393 pontos, atrás de países da região como Peru, com 403, e Chile, com 432 pontos). Um detalhe interessante mereceu a atenção e análise de estudiosos: mesmo nossos alunos mais ricos tiveram baixíssimo rendimento. Em outras palavras, temos um problema educacional grave, em todas as áreas, acrescido do fato que mesmo aqueles com acesso a bens e serviços de mais qualidade evidenciam grandes chances de resultarem pouco competitivos em uma economia de escala global.
No teste de conhecimentos financeiros, se considerarmos somente os alunos brasileiros mais obres o resultado é uma média de 364 pontos (penúltimo lugar, à frente do Peru), enquanto os mais ricos ficaram em último lugar com 441 pontos. Portanto, uma diferença de 77 pontos entre eles, enquanto nos demais países a média das diferenças entre os 25% mais ricos e os 25% mais pobres é de quase a metade, 40 pontos. Em resumo, fomos mal em ambos os extremos, sejam os mais ricos ou os mais pobres, e a desigualdade de notas entre eles é bem maior do que o observado em média nos demais países.
Se os resultados educacionais fossem lineares com as respectivas rendas per capita de cada país, os alunos brasileiros deveriam, em tese, ter obtido aproximadamente 40 pontos a mais do que tiveram, evidenciando que a nossa realidade econômica é agravada pelas disparidades sociais específicas. Ou seja, os enormes contrastes sociais projetam uma elite não competitiva convivendo com as classes populares também despreparadas. Em outras palavras, o Brasil pode, eventualmente, ter ciclos de crescimento, como os tem tido; porém, sem enfrentar seus dilemas sociais e educacionais, conviverá eternamente com fortes dificuldades em atingir um desenvolvimento econômico, social e ambiental que seja efetivamente sustentável.
Como apontado em artigo anterior, as raízes deste destino de provável baixa produtividade e consequente dificuldade de competitividade global estão bem descritas desde a clássica obra “Casa-Grande & Senzala” de Gilberto Freyre, publicada em 1933. De um lado, uma “casa-grande”, basicamente acomodada e pouco estimulada a competir. De outro, a “senzala” que permanece apartada, ainda que com soluços esporádicos de inclusão social, e que não dispõe das ferramentas e dos instrumentos próprios que lhe permita ser o polo principal do aumento de produtividade e a promoção do desenvolvimento econômico.
Um desenvolvimento sustentável não pode depender exclusivamente de educação, mas sem ela não haverá sustentabilidade alguma. No mundo da educação, temos uma singular oportunidade, a partir de nosso caldo cultural particularmente afável às tecnologias digitais e com demonstrações evidentes de competência no seu uso, de conjugarmos quantidade com qualidade. Qualidade para poucos ou má qualidade para muitos não é inovar, é repetir o passado que não está dando certo. A melhor definição contemporânea de inovação, inclusive em educação, é a geração de produtos e serviços novos que viabilizem ofertamos qualidade para muitos.
*Reitor da Universidade Estácio de Sá
O realmente importante – Afonso Rodrigues de Oliveira*
“Há uma coisa muito mais forte que o capricho das crueldades políticas: é a opinião pública de uma nação livre, próspera, feliz, moralizada.” (Rui Barbosa)
É melhor bater na tecla do que na panela. Afinal, o ser humano só aprende com repetições. E não estou querendo ser professor nem pastor. Estou mastigando uma lição da Cultura Racional. Mas, voltemos ao assunto que interessa. A verdade é que a opinião pública é muito mais forte e importante do que os assuntos que nos levam ao protesto. Por que ficar protestando quando podemos resolver o problema com sabedoria? Quando sabemos dar nossa opinião ela é muito mais importante do que pensamos. Então vamos nos preparar para saber opinar sobre o que realmente nos interessa. E o que nos interessa é respeito, cidadania, honestidade e tudo que se relaciona com a moral.
O Joaquim Barbosa nos mandou que lesse recado: “Somos o único caso de democracia que os condenados por corrupção legislam contra os juízes que os condenaram.” O que nos chama a atenção para o fato de que estamos realmente necessitando de reformas. Mas que reformas? Uma reforma que só nós, simples cidadãos, podemos fazer civilizadamente. E o esteio da construção está na Educação. E esta está onde estamos. Não precisamos sair por aí procurando o que está em nosso lar. É no berço que começamos a nos educar. E a Educação é incomensurável. Não a medimos nem a pesamos.
Busquemos em nós mesmos o caminho para o mundo em que queremos que nossos filhos e netos vivam. E nós temos o poder de construir o mundo deles como eles desejam e necessitam. Então vamos pôr a mão na massa. Vamos fazer nossa parte com respeito e civilidade. Vamos parar de brincar com um assunto tão importante, que é a política. Vamos parar de ficar mandando palhaços, analfabetos, despreparados e corruptos para nos representarem na Política Brasileira. Ou nos respeitamos como cidadãos ou seremos sempre marionetes e títeres, de representantes que não merecem nos representar.
Leve isso a sério ou nunca seremos respeitados como um país sério. Vamos ser mais cidadãos respeitando-nos como cidadãos. Vamos eleger candidatos que nos representem com dignidade e respeito. Candidatos que saibam que uma vez eleitos serão nossos representantes. Mas só seremos respeitados quando nos respeitarmos. E nunca seremos respeitados, elegendo corruptos para nos representarem. Pense no futuro dos seus filhos e netos, quando decidir em quem vai votar, para nos representar e construir uma política que venha a merecer o respeito dos do futuro. Reflita sobre o poder que você tem para mudar o cenário. Pense nisso.
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