O direito de ser diferente – Joelma Fernandes de Oliveira*
Cada vez mais nos é exigido um comportamento padronizado. Esses modelos, de modo geral, são arquétipos norteados culturalmente pelo parâmetro dominante: brancos com situação socioeconômica privilegiada.
Historicamente, o fenótipo europeu – pele alva, olhos claros, cabelos lisos e claros – simboliza pureza, remete à beleza, suscita a finesse de reinos cuja missão era desbravar o globo levando cultura e benesses. Ainda que os padrões estéticos sejam culturais e mudem com o tempo, esse imaginário renascentista perpetuou a estetização do que é o belo, um perigoso ideal que leva à discriminação e a uma série de outras problemáticas contemporâneas.
No que tange à responsabilidade da escola, esta, deve colocar em pauta as demandas sociais, a fim de contribuir com debates que instrumentalizem os alunos, no sentido de que eles sejam promotores de argumentos capazes de multiplicar posturas não preconceituosas. Se a escola é lugar de todos, estratégias devem ser pensadas para a inclusão, para o respeito às diversidades e para o reconhecimento de que muitas são as etnias e as culturas. A falta dessa conscientização fez com que as “minorias”, fossem julgadas como não exemplos de beleza, ou benevolência justamente por não fazerem parte do padrão dominante. Minorias não por serem poucos, mas por terem seus direitos minimizados ou excluídos.
Boa Ventura de Souza Santos, (2003), explica que temos o direito de ser iguais quando a nossa diferença nos inferioriza; e temos o direito de ser diferentes quando a nossa igualdade nos descaracteriza. Com essa colocação, percebemos que igualdade e diferença direcionam-se para a união: igualdade porque todos nós somos humanos; diferentes porque cada ser é um. É, pois, uma questão em que pluralidade e singularidade estão em campo.
Assim, é necessário pensar em construir uma sociedade de valorização às diferenças, não apenas uma sociedade tolerante, pois tolerar remete à ideia de que se suporta algo até determinado limite e, em algum momento, a paciência acaba, a indulgência se esvazia, podendo fazer nascer o preconceito, a dor, o sofrimento do outro. Por isso, é necessária a construção de uma sociedade pautada no respeito e na valorização do outro com suas individualidades e diferenças; permitir ao outro ser quem ele é em essência, com direito de não ser minimizado por suas características subjetivas, é um desafio para todos: famílias, escola, ambientes em que jamais podem promover a vivência ou o nascimento de ideias preconceituosas, tampouco projetar intensificação de preconceitos.
*Professora do instituto Federal de Roraima – Campus Amajari
O principal desafio da Amazônia – Ranior Almeida Viana*
Entre os dias 20 a 22 de novembro de 2017, foi realizado na Universidade Federal de Roraima (UFRR) o II Encontro Regional da Associação Brasileira de Estudo e Defesa (ABED), que teve como tema: “A Amazônia e a atualização dos documentos de Defesa”, oportunizando um amplo debate de questões voltadas à Amazônia entre a comunidade acadêmica e a sociedade. Aproveito o ensejo para parabenizar toda organização em nome do Professor Dr. Cleber pelo o evento!
Logo na noite de abertura houve a Palestra do General de Brigada Gustavo Henrique Dutra de Menezes – Comandante da Primeira Brigada de Infantaria de Selva; que nos trouxe informações precisas e apontou as principais dificuldades na atividade-fim do Exército Brasileiro diante de sua atuação de proteção do território amazônico.
O General fez uma legítima desconstrução daquele pensamento de quem acha que as Forças Armadas não fazem tanta coisa e nem são necessárias. Falou de algumas operações realizadas em região de garimpo, das dificuldades encontradas pelos militares que prestam serviços nos Pelotões de Fronteiras devido à logística de chegada a estes, afinal em alguns destes só se trafega por via aérea.
Segundo o Comandante da Brigada, o apoio do Exército Brasileiro a população ao longo do ano, até outubro, foram realizados “cerca de 6.500 atendimentos médico-hospitalares, 8.400 atividades preventivas de saúde, 2.800 atividades culturais de lazer, dando aproximado de 70.000 pessoas que foram atendidas, isso equivale a um terço da população roraimense”.
Essa explanação mostra que o Exército não é só o braço forte é também a mão amiga, como diz seu próprio lema. Na hora de apoiar as mais longínquas populações a mão amiga está lá. O que ficou muito perceptível, tanto na exposição dos pesquisadores mais experientes, quanto na dos alunos pesquisadores e também na palestra Gen. é que o “maior desafio da região amazônica são os meios e formas de deslocamentos”, não à toa que tem uma grande carga tributária e maiores custos comparando a outras regiões do país. Exemplo disso é que há passagens aéreas bem mais em conta para países da Ásia do quê de Roraima para outros estados.
Por fim, é muito bom que haja sempre esta extensão entre comunidade acadêmica, outros órgãos do estado e a sociedade em geral para o amplo debate. E aqueles que acham que um Exército é desnecessário; lembre-se “a História mostra que sempre vai existir um Exército em um território seja o daquela nação ou será o de outra”.
*Licenciado em Sociologia – UERR, Bacharel em Ciências Sociais – [email protected]
Automóvel de Museu – Paulo Henrique Martinez*
O automóvel talvez seja o objeto emblemático do século XX. De Henry Ford às corridas de Formula 1, os veículos automotores encantaram seguidas gerações, com sua potência, design, acessórios, estilos e modelos. Objeto de consumo para muitos, de coleção, para poucos, de desejo, inegavelmente, para expressiva parcela da população ao redor do globo. Saudados como novidade e ícones da modernidade urbana e industrial, símbolos de posição social e traço de personalidade individual e coletiva, os automóveis povoam a imaginação e a vida cotidiana de crianças e adultos, de homens e mulheres, de pobres e ricos, de moradores do campo e das cidades.
O automóvel organizou a vida social no século XX. O encantamento produzido por essas máquinas fabulosas decorre, em larga medida, e desde o seu surgimento, da sensação de autonomia e de superação de limites que proporciona aos condutores e passageiros. Ao êxtase, surpresa ou pânico que desperta em pedestres e outros transeuntes, motorizados ou não. Ciclistas, cavaleiros, carroças ou andarilhos, todos são excitados ou apavoram-se em encontros inusitados e involuntários com os automóveis, em ruas, estradas ou mesmo nas calçadas.
Atropelamentos e colisões eram alvos de controvérsias jurídicas. Quem deveria ser imputado, o condutor ou a vítima, o fabricante ou o poder público, o indivíduo ou a sociedade? O cuidado dos proprietários com os seus veículos tornou-se índice de responsabilidade e de confiança pública, expressas na manutenção, na limpeza e na condução de automóveis. Salões, clubes, feiras, exposições, publicidade, artes, cidades, sociabilidade, de brinquedos a competições, fervilham com a indústria automobilística.
Em debate na televisão norte-americana, John Kennedy, referindo-se ao seu oponente, indagou ao telespectador: “você compraria um carro usado deste homem?”. Ao tocar, fulminante, a vida íntima, material e espiritual, da classe média, venceu a eleição presidencial. No Brasil, Juscelino, Collor e Itamar associaram suas imagens a automóveis. Vargas, Lula e Dilma apregoaram que, sem petróleo, o país não anda. Historiador, Caio Prado Jr dizia que a história do Brasil, no século XX, seria entendida pela jardineira e o caminhão, o transporte automotivo de passageiros e de mercadorias.
Museus de automóveis são cada vez mais numerosos. São interativos, sedutores, diversificados, artísticos e históricos, tecnológicos e de indústrias, empresariais e comunitários. O automóvel no museu propicia amplos panoramas, e dos mais completos, em distintas dimensões do patrimônio museológico no Brasil e no exterior. *Professor no Departamento de História da Faculdade de Ciências e Letras da Unesp de Assis.
Mexendo no baú político – Afonso Rodrigues de Oliveira*
“Todas as artes produziram obras-primas. A arte de governar só produziu monstros”. (Saint-Just)
Não sei até que ponto você está preocupado com o futuro dos seus descendentes. Eu estou, com os meus. E os descendentes estarão vivendo num mundo bom ou ruim, de acordo com nossa contribuição. E meu descendente, é o meu País no futuro. Daí minha preocupação com o futuro, porque é lá que eles estarão. De uns dias para cá, tenho andado muito preocupado com assuntos políticos. E olha que estou mesmo. Estamos num ano eleitoral, saindo de um ano em que os políticos têm nos dado motivos, mais do que suficientes, para que todas as pessoas de bom senso se preocupem.
Todas as pessoas responsáveis e conscientes, claro, estão atentas para as eleições que se aproximam. Será que estamos preparados para elas? Há duas molas propulsoras que impulsionam o mundo: a política e a economia.
Nenhum cidadão responsável deve ignorar essa assertiva. Sem política não seríamos nem mesmo uma sociedade. Sem economia não seríamos gente. Nenhuma organização sobrevive sem política. E se é assim, não é nada inteligente querer ignorá-la. Querer ignorar; por que ignorar mesmo não é possível. E, se é ruim com ela, pior sem ela. A afirmativa é válida também para a democracia. O está explícito nas palavras do Senador Jarbas Passarinho: “Com o Congresso podemos até nem ter alguma liberdade. Mas sem o Congresso não teremos liberdade nenhuma”.
Preocupa-me a forma com que as classes menos aquinhoadas, culturalmente falando, veem a política. Como pretendemos resolver nossos problemas políticos sem dar crédito à política? Não podemos aquilatar a política pelos maus políticos que temos. Eles, longe de representarem a política, representam o nosso despreparo para a política. Nós os elegemos como nossos representantes. Que mais queremos?Enquanto vivermos uma política dispersiva num sistema terceiro mundista, continuaremos rastreando a facção pela esquerda. Porque, queiramos ou não, a esquerda política tem o poder de levar as massas, não aonde elas querem ir, mas aonde elas, ingenuamente, se deixam levar.
No final do século passado, num discurso, no Senado, o senador Roberto Freire, demonstrou sua preocupação com a desatualização da esquerda brasileira; no seu despreparo para o século XXI. No discurso, ele disse: “Dado o conflito entre uma realidade nova e um corpo tradicional de teoria e prática, a velha-esquerda sacrifica a realidade e agarra-se à teoria”. Sem partidarismo nem paixões, acredito que seriamos mais Brasil se déssemos mais atenção à política, educando-nos politicamente. Pense nisso.