Opinião

Opiniao 18 01 2018 5502

Gravidez precoce, uma preocupação das famílias – Flamarion Portela*

O jornal Estado de São Paulo trouxe, na semana passada, uma matéria com o título “Gravidez de meninas com até 14 anos persiste no Brasil”. Uma reportagem dessa magnitude traz, com certeza, grande preocupação de todas as famílias e a sociedade como um todo.

Para especialistas ouvidos pelo Estadão, a faixa etária considerada de maior vulnerabilidade gestacional para a mãe e o bebê é abaixo de 15 anos de idade, considerada de alto risco.

Essas gestações demonstram uma série de falhas nos cuidados com essas jovens, como a falta de informação, educação, acesso a anticoncepcionais e proteção contra a violência sexual. Além dos riscos por fatores biológicos: muitas vezes o sistema reprodutor ainda não tem a maturidade completa e as meninas nessa faixa etária, sequer compreendem como ocorre a gravidez e, quando se concretiza a gestação, tentam esconder da família.

Ainda de acordo com especialistas, o grupo das grávidas de 10 a 14 anos é o que tem a pior cobertura de pré-natal. Isso explica outros dados preocupantes dessa faixa etária. São 15,1 óbitos fetais a cada mil nascidos vivos, ante a média de 10,9 no País. A taxa de bebês com baixo peso (até 2,5 quilos) é de 13,7%, ante 8,4% na média nacional. Sem ter um acompanhamento adequado na gravidez, elas podem desenvolver doenças específicas da gestação, que poderiam ser prevenidas ou controladas, como a síndrome hipertensiva, infecção urinária, hemorragias que levam à prematuridade.

Sem enxergar possibilidade futura, muitas vezes a maternidade é vista como a única identidade socialmente valorizada para uma menina-mulher. Quando isso ocorre, a primeira coisa que acontece é abandonar a escola e, às vezes, fugir de casa para ocultar a gravidez. Isso gera uma instabilidade familiar.

Segundo Anna Cunha, do Fundo de Populações das Nações Unidas, a responsabilidade pela gravidez e os cuidados com o bebê ainda recaem desproporcionalmente sobre a mãe. Isso precisa deixar de ser visto como escolha ou responsabilidade individual. É dos sistemas educacionais e de saúde, da sociedade.

Precisamos dar condições para que voltem a estudar, trabalhar, ter sonhos novamente. A falta de perspectiva escolar ou profissional, também, leva à gravidez precoce.

De acordo com dados do Ministério da Saúde, a quantidade de adolescentes grávidas no Brasil caiu 17% entre mães de 10 a 19 anos, de 661,2 mil nascidos vivos, em 2004, para 546,5 mil, em 2015, mas ainda é um número preocupante.

Roraima, que já esteve em primeiro lugar no ranking dos estados com mais partos em adolescentes, atualmente figura em nono lugar, de acordo com o estudo “Estatísticas do Registro Civil”, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Precisamos dar mais atenção às nossas jovens, para evitar que entrem nessa triste estatística.

*Ex-governador de Roraima

Pedagogia com amor é futuro da educação – Marcelo Uchôa Gomes*

O amor não deve ficar restrito à família. Fala-se menos do que se deveria na pedagogia do amor e o pouco que se fala é, muitas vezes, vago. A Pedagogia estuda os ideais de educação, segundo uma determinada concepção de vida, e dos processos e técnicas mais eficientes para realizá-los, visando aperfeiçoar e estimular a capacidade das pessoas, seguindo objetivos definidos. O tema, então, se perde pela sua abstração e incompreensão das pessoas, o que ocasiona desconfiança e desinteresse. Todavia, tanto como parte do método pedagógico quanto como um dos objetos de estudo, o amor é aquilo que pode mudar completamente o mundo para melhor desde que seja bem entendido pelas pessoas e familiares. A noção predominante de amor é a romântica, que o entende como um sentimento afetivo entre dois seres, normalmente um homem e uma mulher, e daí surge, inclusive, o preconceito lastimável contra aqueles que procuram relacionamentos homossexuais. Esses dois seres buscam uma união quase sempre calcada na atração física e/ou sexual, quando a motivação não é ainda mais superficial, como financeira ou outra similar. Para além dessa visão que predomina, há uma segunda, muito parecida, que estende o amor a um sentimento afetivo entre dois seres por laços familiares ou por simpatia. Esta é uma sintonia gerada por interesses ou outros elementos em comum, que podem ser positivos ou negativos. É esse sentimento que deve ser utilizado para ensinar nos lares e nas escolas por meio, sobretudo, de atividades práticas e de exemplos. Na medida em que se ensina pela Pedagogia do Amor, já se ensina o amor pelo exemplo, a melhor forma de ensino, por ser sentida e, principalmente, vivida, e não apenas racionalizada. A pedagogia do amor foi o centro do método Pestalozzi, que tanto sucesso obteve na Europa no século XIX e que influenciou reformas educacionais em vários países que se tornaram muito desenvolvidos em seguida. Pestalozzi dizia que o mérito da sua experiência na cidade de Stans foi transformar cerca de 70 crianças órfãs, embrutecidas pela vida, em irmãos, em indivíduos generosos, justos e morais. O seu método era, primeiro, satisfazer as necessidades mínimas das crianças, garantindo as condições básicas para a aprendizagem e para o desenvolvimento de sentimentos positivos. Deste modo, sem políticas sociais que garantam o mínimo de alimentação, saúde, lazer, etc., é difícil que a criança tenha um desenvolvimento adequado e que cresça amorosa, pois o embrutecimento pode gerar negatividade. Não se entenda a pedagogia do amor como mimos e tratamento infantil. Ao contrário, é dar o respeito necessário a cada indivíduo independentemente da sua idade; é corrigir comportamentos os mais negativos com instrução, e até mesmo rígida, porém com o máximo de paciência, tolerância e indulgência, entendendo profundamente a individualidade de cada um. O amor, como deve ser compreendido em uma comunidade mais desenvolvida, é um sentimento muito mais próximo da fraternidade em um nível ótimo, um “‘estado afetivo de plenitude’, incondicional, imparcial e crescente”, como diria Ermance Dufaux. O verdadeiro amor é profundo, pois submete as paixões e interesses individuais em prol de uma ligação com tudo e todos, gerando respeito, paciência, indulgência, tolerância, unicidade com a natureza; sentimentos muito mais edificantes do que aqueles gerados, em regra, pela ótica de amor hoje predominante. “A educação, convenientemente entendida, constitui a chave do progresso moral. Quando se conhecer a arte de manejar os caracteres, como se conhece a de manejar as inteligências, conseguir-se-á corrigi-los, do mesmo modo que se aprumam plantas novas. Essa arte, porém, exige muito tato, muita experiência e profunda observação”. Textos que trataram de Pestalozzi. Como se dá pouco valor aos grandes pensadores da história, a exemplo desses citados aqui e em outros textos, iremos analisar em artigos futuros a contemporânea teoria das inteligências múltiplas, de Howard Gardner (Universidade de Harvard), buscando comprovar que a pedagogia do amor, preocupada com os diferentes tipos de inteligência, mas especialmente com as esquecidas inteligências moral e emocional, é um dos caminhos para um futuro com amplo desenvolvimento, sustentabilidade e elevada qualidade de vida para a humanidade. É necessária uma conscientização muito grande para que todos se sintam envolvidos neste processo de constantemente educar os filhos. É a sociedade inteira a responsável pela educação destes jovens, desta nova geração. Há um resgate a ser feito, pois os valores morais encontram-se extintos no coração da sociedade. A importância do ato de amor na educação escolar é um tema que merece reflexão, pois se vive numa época em que a sociedade encontra-se desestruturada e a desintegração dos valores são os maiores obstáculos para o ser humano. O Livro Família e Escola: Trajetórias de escolarização em camadas médias e populares, organizado por Maria Alice Nogueira, Geraldo Romanelli e Nadir Zago, relatam um conjunto de pesquisas, cujos resultados, são imprescindíveis aos educadores, na medida em que oferecem aspectos para reflexão e análise sobre o funcionamento do sistema escolar, privilegiando o ponto de vista da sua abordagem intrincada com a família, até então, embutida geralmente na comunidade. Temos que saber dar mais valor e amar mais a educação.

*Professor

Você conversa com ele? – Afonso Rodrigues de Oliveira*

“Um grande homem mostra sua grandeza pela maneira como trata o homem pequeno”. (Thomas Carlyle)

Ela iria completar três aninho de idade, naquela semana. Ontem à noite estávamos, só eu e ela, na sala, e ela começou a mexer nuns ornamentos da prateleira. Pegou um vaso com lindas flores artificiais e o trouxe até mim. Mostrou-me o vaso e perguntou com a testinha franzida:

– É um presente, vô?

– É.

– A vó vai casar, vô?

– Vai!!!

– Com você?!

– Ééé!!!

Ela franziu mais a testa e falou como se estivesse querendo ser convidada para o casamento:

– Eu quero ver, tá vô?

– Com certeza vai ver.

– Tá.

Ela levou o vaso de volta à prateleira e foi brincar com os brinquedinhos dela. Fiquei olhando-a com um carinho de avô coruja, sem ser coruja. Admiro-a pela sua espontaneidade e pelo desenvolvimento com que ela inicia uma conversa com os adultos à sua volta. Aí fiquei imaginando, quantas crianças têm o prazer e a oportunidade de levar um diálogo com pais, avós ou parentes, sem provocar risadas ou comentários vazios e que só destroem o nível de relacionamento. O que teria se passado na cabecinha da Melissa, quando ela viu aquele vaso de flores? Com certeza, foi a imagem de uma noiva atirando o buquê para os convidados. E, de acordo com nossa posição em família e ali na sala, naquele momento, nada mais lógico do que ela associar o fato a mim e à dona Salete. Nada de anormal para uma criança normal e na idade dela. Nossa conversa curta foi franca e de adulto com crianças, nas diferenças que trazem a igualdade no respeito.

Você conversa com seu filho como se ele fosse um adulto sem deixar de vê-lo como criança? Pare de gritar com seu filho. Converse com ele como se ele fosse um adulto. Se isso estiver sendo difícil é porque você está precisando aprender com ele. E comece tendo-o como uma pessoa normal e não como uma criança especial. Não existem crianças especiais, mas sim adultos nada especiais. Vem daí a dificuldade no relacionamento. Criança e adulto vivem em mundos diferentes. E os adultos querendo trazer as crianças para um mundo adulto e ultrapassado. Por outro lado a criança não tenta levar o adulto para lugar nenhum; só quer viver no e o seu mundo.

Não se esqueça de que seu filho vai viver o mundo dele que bem pode levar tempo para descobrir, se você não o ajudar, orientando-o sem dirigi-lo. E não se esqueça de que o exemplo é a melhor didática. Logo, dê-lhe o melhor exemplo que você puder lhe dar. E o melhor exemplo é orientando-o para que ele decida em que porto deve atracar para viver seu mundo. E com certeza, você é que vai viver no mundo dele. Pense nisso.

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