Bom dia,
E do ponto de vista político, qual foi o cenário que se formou em Roraima após sua transformação em estado membro da Federação brasileira? Pergunta um leitor da Parabólica através de e-mail. Pois bem, da mesma forma que se fazia no Território Federal, o primeiro governador nomeado Romero Jucá veio igualmente, como seu conterrâneo Ottomar Pinto, com a ideia fixa de fazer carreira política no novel Estado, e inclusive para preparar Roraima para uma eventual candidatura ao Senado Federal do então presidente da República José Sarney. Para tanto, foi estabelecido um pacote de medidas, extensivo ao Amapá – outra opção para a candidatura de Sarney –, que consistia na contratação de milhares de servidores do ex-Território pela União, criação da Universidade Federal de Roraima – aproveitando uma Lei autorizativa de autoria do então deputado federal Mozarildo Cavalcanti –, e a criação do Banco do Estado de Roraima (Baner).
A candidatura de Sarney por Roraima não vingou, apesar da expressiva maioria do eleitorado roraimense de então ser formada por pessoas egressas do Maranhão – uma das consequências da política de migração induzida de Ottomar Pinto –, pois o então governador Romero Jucá já fazia plantão no Bolo da Noiva – sede do governo provisório do presidente eleito Fernando Collor –, e de onde saiu a determinação para que Jucá saísse como candidato a governador do estado, tendo como companheiro de chapa para o Senado Federal, o usineiro alagoano João Lyra, sogro do irmão do presidente eleito, Pedro Collor de Mello, que mais tarde o denunciaria por corrupção, ligando-o a Paulo César Farias.
Sarney teve de correr para filiar-se ao PMDB do Amapá, então governado pelo maranhense Jorge Nova da Costa, homem de sua inteira confiança, tudo feito às pressas, que exigiu a intervenção do então governador do Pará, Jáder Barbalho, junto ao Tribunal Regional Eleitoral do Pará (TRE-PA), que fazia às vezes de justiça eleitoral do estado do Amapá. Jucá ficou com João Lyra e, apesar da campanha milionária – a mais rica na história de Roraima –, não conseguiu eleger o usineiro alagoano e perdeu a eleição no segundo turno, para Ottomar Pinto. Apesar de derrotado, Jucá foi premiado pelo governo Collor de Mello, com um cargo federal que lhe garantiu sobrevida política em Roraima.
Eleito ao Senado Federal em 1994, Romero Jucá se transforma num parlamentar capaz de se adequar a qualquer tipo de governo, adotando um pragmatismo sem ideologia, em troca de obtenção de emendas parlamentares, mesmo que à custa da inviabilização do desenvolvimento econômico através dos regimes ambientalistas e indigenistas, nada estruturante, capaz de remover os gargalos que impedem o desenvolvimento de Roraima, situando-se nesse nível a questão energética, a administração estadual dos recursos fundiários, o problema ambiental – Roraima tem hoje menos de 7% de suas terras disponíveis para a produção econômica tradicional – e a implantação da infraestrutura básica necessária ao progresso econômico. Tudo superficial, obras de forma e fachada, deslocadas de qualquer projeto econômico para gerar emprego e renda permanentes para um estado que continua dependente do repasse de recursos da União para sobreviver.
Na essência, nossos representantes políticos renunciaram o papel de representantes do estado, para se transformarem em repassadores de recursos residuais, com boa parte desviada pelos dutos da corrupção, evitando o embate com o governo federal, mesmo que este tome medidas para inviabilizar nosso desenvolvimento. Esses representantes, que jogam com a natureza da economia do contracheque chapa branca – eles se beneficiam de qualquer oportunidade para tentar agradar apenas os servidores públicos, com promessas sazonais a partir de brechas na legislação para o aproveitamento de ex-servidores do ex-Território nos quadros da União –, esquecendo que existe um embate político fundamental entre o governo federal e os interesses próprios de Roraima.
Assim, coisas tão simples como construir um linhão para trazer energia elétrica e integrar Roraima ao Sistema Nacional de Energia, ou destravar o processo de regularização fundiária viram problemas insolúveis, sem qualquer reação mais dura dos parlamentares federais. Ao contrário, alguns deles aproveitam disso para atingir seus objetivos politiqueiros. Pobre, estado de Roraima.
VETOSComo está na reportagem da Folha, na edição de hoje, a governadora Suely Campos (PP) vai judicializar a derrubada dos vetos – incrivelmente feita com votos de parlamentares da própria base governista –, o que trará desconforto para todos os poderes e órgãos estaduais. Especialistas ouvidos pela Parabólica dizem ser bem provável que a governadora ganhe o embate com a Assembleia Legislativa no Supremo Tribunal Federal (STF). Tudo isso é ruim para Roraima, que tem muitos problemas a serem enfrentados.
CHACOTATendo como argumento a migração venezuelana para o estado e o fato de ter como senador Romero Jucá (PMDB), Roraima está sendo objeto de chacota por um conhecido sítio de notícia. “Nem o Romero Jucá, que é senador pelo estado, vai a Roraima. Nenhum dos meus 17 leitores e meio (não se esqueçam do anão) é, foi ou será de Roraima”. “E os Venezuelanos podem ir para a Guiana (que já foi inglesa), podem ir pra Cuba. Mas, não… Eles vão direto para Roraima! Roraima!!!”. Bem feito.