Com sangue nos olhos
Alguns avaliam que as redes sociais acabaram “emburrecendo” as pessoas e as tornaram mais “intolerantes”. Mas não é bem assim. O que aconteceu é que a internet possibilitou que as pessoas deixassem o anonimato e o esquecimento para se tornarem visíveis em seus perfis no Facebook, Twitter, Instagram e outras redes sociais.
Além disso, a desesperança com os políticos, a impregnação da corrupção em todos os níveis, a desconfiança com a Justiça e a crescente violência fizeram com que as pessoas começassem a questionar o regime democrático, passando a acreditar que uma intervenção militar seria a saída ou o surgimento de um “messias”, de um “herói” que irá, sozinho, ter o poder de resolver as mazelas.
O curioso é que essas pessoas defendem que os venezuelanos voltem para o seu país para que lutem para tirar Nicolás Maduro do poder e derrubem o regime de governo opressor, em vez de “fugir” para Roraima. Porém, são as mesmas que criticam os brasileiros que lutaram contra o regime ditatorial no país, no passado, os tachando de “comunistas” e “terroristas”.
O que muitos não conseguem entender é que não há como lutar contra um regime que tem nas mãos a Justiça, o Legislativo, o Exército e a polícia, além de criarem milícias que aterrorizam e matam quem se rebela contra o sistema. Foi assim na Alemanha de Hitler e na Itália de Mussolini. E está sendo assim na Venezuela.
Mas definitivamente esta não é uma realidade do Brasil. Temos instituições democráticas que funcionam e que lutam para que os direitos democráticos e sociais não sejam suprimidos; o Ministério Público tem agido e a Justiça (embora alguns magistrados mostrem-se compactuar com os desmandos) tem atuado e colocado na cadeia alguns corruptos.
Porém, muitos perderam a esperança, principalmente depois da manipulação do impeachment, e preferem depositar a fé em um novo “herói” ou num “messias” que vá salvar o país. Para isso, enchem-se de ira contra os que pensam diferente e os que acreditam em uma saída pelas vias democráticas.É por isso que muitos não conseguem mais dialogar civilizadamente nas redes sociais, com intolerância aflorando, sangue nos olhos e sem conseguir manter relações sociais sadias que prezem pelo intelecto das pessoas. Essas pessoas apenas deixaram aflorar seus pensamentos e posicionamentos nas redes sociais em forma de desesperança e do pensamento fixo de que “alguém”, “um predestinado”, vai resolver tudo, enquanto todos continuam com sua vidinha esperando a sexta-feira e o fim de semana para se desligar de tudo no churrasquinho com os amigos.
*Jornalistae-mail: [email protected]: www.roraimadefato.com.br