Quando eles saem da toca
Inflado populacionalmente a partir da construção de unidades habitacionais nos últimos anos, o bairro Cidade Satélite tem sofrido com o aumento da violência urbana e necessitado de mais atenção por parte do poder público. Porém, enquanto a população cobra por segurança e ações sociais, os políticos têm visto aquele setor da cidade, na Zona Oeste de Boa Vista, como um potencial “curral eleitoral”. O maior conjunto habitacional daquela região e do Estado, o Vila Jardim, tem sido o alvo preferido dos políticos em busca de votos.
Nos últimos meses, vários políticos têm ido lá, no Vila Jardim, não apenas testar sua popularidade como também têm levado ações de cunho politiqueiro. Uma dupla de políticos, mãe e filho, recentemente foi lá levar um dia de ação social, como lazer para as crianças e serviços como corte de cabelo, atendimento médico e outras atividades das quais os moradores daquela localidade são carentes devido à ausência ou ineficiência do poder público.
Às quartas-feiras, quando é montada feira-livre na avenida principal do Vila Jardim, alguns pré-candidatos ao Governo do Estado e a outros cargos têm aparecido para dar tapinhas nas costas, bater fotos junto com eleitores e testar sua popularidade. Dois ex-governadores deram o ar de sua graça e sentiram reações distintas.
Um deles, que anda animado com sua pré-candidatura por causa do desastre do governo Suely Campos (PP), apesar de ter distribuído algumas cédulas de reais aos pedintes de ocasião, recebeu vaias, teve foto negada por um vendedor e acabou se retirando quando os feirantes começaram a bater panelas em protesto à presença dele.
Outro ex-governador teve uma recepção diferente por parte dos vendedores e população ali presentes, sem animosidade, com tapinhas, abraços, fotos e apertos de mão. E assim os atores da política começam a aparecer, saindo de suas tocas, sabendo que o povo é besta mesmo e pode ser levado no papo furado de outras épocas.
Ainda não sabemos como será a eleição deste ano diante dos escândalos provocados pela Operação Lava Jato, que levou políticos para a cadeia, a exemplo de ex-governadores do Rio de Janeiro, um Estado devastado pela corrupção. Porém, sabemos que será um momento crucial para o país, pois o eleitor não poderá dizer que desconhece a ladroagem que se tornou a política, conforme vem mostrando a mídia.
Nesse grande contexto, o Vila Jardim é apenas um exemplo de como é montada a grande farsa eleitoral, quando os espertalhões se aproveitam da ignorância e das necessidades das pessoas. Resta ao eleitor exercitar a consciência crítica, pois caberá ao cidadão o papel de continuar a faxina moral que o Brasil precisa. E a faxina deve começar em casa, expurgando os espertalhões que só aparecem em ano eleitoral.
*JornalistaE-mail: [email protected]: www.roraimadefato.com.br