Jessé Souza

S O S aos mananciais 5802

S.O.S aos mananciais

Embora não chame a atenção da opinião pública nem alarme as autoridades e órgãos fiscalizadores, a questão da água potável em Roraima é tão grave quanto a questão energética. Se não houver intervenções rápidas e austeras, iremos pagar um preço muito caro em um tempo não muito distante, com a crise do abastecimento de água.

Os garimpos nas terras indígenas, especialmente aqueles praticados nos afluentes do Rio Branco, como o Uraricoera, estão devastando a vegetação que protege os rios, assoreando o leito dos mananciais e, não menos pior, lançando graves poluentes, como o mercúrio, além da degradação provocada pelo lixo produzido pelos homens que trabalham nessas áreas de exploração no meio da selva.

Os sinais vêm sendo emitidos há um certo tempo, como a poluição do Rio Uraricoera, que está apresentando uma água barrenta, fato comprovado em um vídeo gravado por pescadores na conjunção dos rios Uraricoera e Amajari, norte de Roraima, onde o visual parece com o fenômeno natural “encontro das águas”, no Amazonas: quando se encontram, as águas barrentas do Uraricoera se diferenciam das águas limpas e claras do Amajari.

Os sinais já podem ser notados nos balneários públicos em Boa Vista, onde as outrora águas límpidas do rio foram substituídas por águas barrentas e com lama nas praias públicas, a exemplo da Praia Grande. O desequilíbrio é sentido principalmente pelos pescadores, que precisam se deslocar cada vez mais para locais distantes para pegar os pescados.

No Rio Mucajaí, no município do mesmo nome, a centro-oeste do Estado, a situação também é de alerta, com água barrenta e lama sentida por banhistas e ribeirinhos que também vivem da pesca. O garimpo naquela região do Estado também está a todo vapor, o que ameaça os principais mananciais que deságuam no Rio Branco e que são importantes economicamente para pescadores, moradores e agricultores, além do equilíbrio ambiental.

Se algo não for feito imediatamente, uma crise de abastecimento de água sem precedentes pode se abater sobre a população roraimense, além dos sérios riscos de contaminação de mercúrio, inclusive por meio do peixe, que é a base de alimentação dessas populações. Os banhistas na Capital já sentiram a mudança, inclusive por meio do aumento do ataque de piranhas em praias onde a lama não existia antes.

A população roraimense está sob sérios riscos de enfrentar desabastecimento, assim como ocorre com os apagões energéticos, mas as autoridades fingem que nada enxergam. Se não houver pressão, elas vão começar a agir muito tarde, quando nossos mananciais já estiverem comprometidos. O garimpo ilegal precisa ser contido o quanto antes.

*[email protected]: http://roraimadefato.com/main/