O espaço das ‘magrelas’
Há um certo tempo que tenho bicicleta, embora eu não pedale com a frequência que desejaria devido ao tempo mesmo e por causa de outros compromissos. Por isso o interesse particular sempre que surgem debates a respeito das ciclovias, geralmente quando os comentários nas redes sociais são contra este espaço exclusivo para quem anda de “magrela”.
Nos últimos dias, tenho pedalado cedo da manhã ou mesmo à noite, percorrendo trechos diferentes. São dois públicos diferentes a depender do horário. Pela manhã, os usuários deste espaço são trabalhadores assalariados que têm a bicicleta como meio de transporte. Os que têm a bike como esporte são poucos nesse horário durante os dias da semana.
Quanto mais o ciclista se afasta do Centro, mais os problemas vão surgindo. Na área central, um dos problemas são pedestres que usam as ciclovias para caminhadas e corridas, mesmo havendo um meio-fio logo ao lado com amplo calçamento. E usam sem cerimônia, como se a ciclovia também fosse a extensão do seu exercício matinal, e não um local de tráfego para ciclistas.
A situação é tão flagrante que, na manhã de ontem, a minha companheira de pedal quase foi lançada para fora da ciclovia por uma senhora com seus dois filhos pequenos que ocupavam o espaço das bicicletas. E alguns pedestres acham ruim quando são advertidos de que podem provocar um acidente ou que estão atrapalhando o tráfego de duas rodas.
Nos bairros, começa uma confusão maior, com motoristas com seus carros estacionados na ciclovia, gente que para no meio da pista para conversar, carrinhos de picolé e de ambulantes, valetas escavadas para ligação da rede de água residencial e até mesmo água acumulada na pista.
Ao que indica, há tempos a Prefeitura de Boa Vista não faz manutenção das ciclovias, além da inexistência de campanha educativa e para orientar pedestres e até mesmo os próprios ciclistas, pois há aqueles que acham que a ciclovia é exclusiva deles, onde se pode pedalar lado a lado para conversar durante o trajeto.
Enfim, as ciclovias são importantes para organizar o tráfego, pois retira os vulneráveis ciclistas do meio da guerrilha diária no trânsito, os colocando num espaço protegido. Porém, a população precisa valorizar e respeitar este espaço, pois a bicicleta precisa encontrar seu valor e sua importância numa sociedade que precisa parar de dar prioridade para as máquinas, cada vez mais caras e poluentes.
E a Prefeitura deveria estar agindo com mais interesse nesse assunto. Afinal, esse espaço custou muito caro para o contribuinte para que fique se deteriorando pelo tempo, sem manutenção, e com o desordenamento apresentando-se como um problema inicial.
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