Jessé Souza

Um crime e um alerta 5827

Um crime e um alerta

O que há de mais sórdido na realidade brasileira emergiu com o caso da execução sumária da vereadora do PSOL, Marielle Franco, no Rio Janeiro. Nas redes sociais e nos grupos de Whats, surgiram opiniões de que a vereadora “defendeu bandidos e foi vítima deles”. Outros afirmam, veladamente, que ela mereceu a execução pelo seu discurso, inclusive colocando o feminismo e o movimento negro no meio dos fatos.

É muito preocupante esse fato no sentido de que mataram uma pessoa que, por ventura era vereadora, que por consequência era ativista do movimento negro e que tinha suas posições e convicções. Significa que não se pode mais emitir uma opinião, no Brasil, que contrarie o poder ainda que paralelo.

Independente do que ela falava no plenário da Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro, ela não detinha o poder da caneta, das mídias nem da polícia. Ela apenas usava seu espaço parlamentar para emitir sua opinião e fazer suas denúncias. E isso foi o suficiente para ser executada de forma covarde e bárbara.

Um público vibrou com esse assassinato bárbaro não por causa de seu partido ou posicionamento combativo ou porque ela “defendeu bandido”, mas porque era de “esquerda” e tinha uma opinião contra o sistema estabelecido, se posicionava veementemente contra a realidade na qual ela vivia.

A comemoração que as pessoas fizeram pela morte da vereadora carioca, algumas de forma velada ou disfarçada, nada mais é do que a aceitação de que os contestadores devem ser mortos por contrariarem o pensamento comum que se está cultivando pela ultradireita. Não estão querendo aceitar nenhum tipo de esquerda nem de adversários.

É preocupante esse comportamento no momento em que essas mesmas pessoas estão defendendo uma candidatura à Presidência do Brasil ultraconservadora, que tem rompantes neonazistas e nenhuma simpatia pelo debate, pela democracia. Uma parcela da população está perdendo a noção do que é prática e do que é ideologia, absorvendo um comportamento extremista dentro do contexto de uma democracia em xeque.

O sinal vermelho está ligado há um certo tempo. E a morte cruel, covarde e injustificável da vereadora carioca, que era abertamente combativa, só aumenta o alerta, pois os que se ocultam na defesa de um ódio botaram a cara, ainda que timidamente. E os que cultivam o ódio nem pensaram duas vezes para justificar a execução violenta da vereadora como um castigo por ela ter uma opinião, ainda que ele não tivesse nenhum poder além da tribuna do Legislativo.*[email protected]: http://roraimadefato.com/main/