A explosão anunciada
O ódio e a intolerância que muitos têm pregado nas redes sociais contra os venezuelanos acabaram estourando na pequena cidade de Mucajaí, a cerca de 60 km de Boa Vista. O cenário por lá é o pior possível, pois o protesto contra os estrangeiros, com o ataque ao abrigo e a queima de seus pertences em via pública, foi comandado por um pastor. Sim, um pastor que deveria dar o exemplo acima de tudo, pois ele tem a obrigação de seguir os ensinamentos cristãos contidos na Bíblia.
O que mais preocupa é que moradores de outras cidades do interior, a exemplo de Pacaraima, na fronteira com a Venezuela, também sentiram-se motivados a fazer o mesmo devido à imigração desordenada que terminou por aumentar ainda mais as mazelas sociais que essas pequenas cidades enfrentam há anos e que foram ampliadas com a chegada de estrangeiros.
No caso específico de Mucajaí, o ódio foi exposto por causa de uma briga em que um morador local foi assassinado, porém, um venezuelano envolvido na confusão também foi morto, o que não foi levado em consideração pelos manifestantes, lançando contra os estrangeiros toda culpa pela violência e os problemas sociais que ocorrem por lá.
A cidade de Mucajaí, a centro-oeste do Estado, há muito tempo vem enfrentando problemas por causa das drogas, inclusive crimes bárbaros têm sido cometidos ao longo dos anos, mas que nunca indignaram a população a ponto de alguém se mobilizar para pedir atitudes por parte das autoridades.
Os políticos de um modo geral tratam esses municípios como seus currais eleitorais, proporcionando o mínimo de estrutura e investimento, deixando a população submetida ao negrume da ignorância, um fator preponderante para que a intolerância aflore com mais facilidade. E em Mucajaí a xenofobia ocorre respaldada pela cegueira religiosa de um pastor evangélico que, se tivesse consciência de seus atos, deveria renunciar ao seu cargo.
O que a população dessas cidades deveria fazer é cobrar das autoridades que elas deixem de usar as prefeituras como um negócio político e passem a investir em segurança, educação, saúde e geração de emprego e renda. Os venezuelanos não podem ser usados como um bode expiatório para as mazelas que essas cidades vivem há muitos anos.
É fato que não são todos os moradores de Mucajaí e de outras cidades que agem com xenofobia, mas atos dessa natureza precisam ser veementemente combatidos, pois eles indicam o ódio descabido contra os estrangeiros, como se todos os venezuelanos fossem bandidos e como se eles agora fossem culpados por tudo de ruim, inclusive por problemas antigos, como a violência e a criminalidade nas cidades.
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