Uma difícil pergunta
Enquanto a esculhambação geral da Nação passeava entre o Legislativo e Executivo, bolando na lama que se formou entre o Palácio do Planalto e o Congresso Nacional, o bom senso em nome da democracia pedia confiança nas instituições sérias do país que não haviam se contaminado, enquanto os mais ásperos carregados de ódio e os neonazistas pediam logo a ocupação militar.
A Justiça brasileira sempre foi uma instituição na qual as pessoas repousavam sua confiança, principalmente no início da década de 2000, quando um ministro negro do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, atuou firmemente contra os mensalões do PT e do PSDB, colocando no banco dos réus figurões históricos do cenário brasileiro.
Desde lá, a sociedade brasileira voltou a confiar no STF, diante do fato de que, desde sua criação em 1824, o Supremo nunca havia condenado nenhum político, pelo menos um famoso. Anos se passaram, Joaquim Barbosa se aposentou e a Operação Lava Jato, a partir de 2014, reacendeu a esperança de que os corruptos da política brasileira finalmente iriam ser tratados iguais perante a lei como os demais bandidos sem dinheiro.
Alguns políticos realmente foram para as grades, mas nunca tratados como diz a letra fria da legislação, conforme preceitua o artigo 5º da Constituição Federal, que diz que “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza”.
Até a presunção da inocência é diferente para os poderosos, pois um ladrão de galinha apodrece na cadeia, mesmo não julgado, enquanto os políticos corruptos não são julgados ou aguardam condenação sem experimentar o sol nascer quadrado, alguns inclusive têm seus processos prescritos porque ficam engavetados anos a fio.
Por último, emerge do STF um cristalino comportamento de boa parte dos ministros de não querer condenar nem mandar para a cadeia os políticos famosos sejam eles quem for, principalmente os de direita, com a mão sempre leve de um deles, Gilmar Mendes, de soltar políticos presos e de ser benevolente com os políticos favoritos.
A sessão em que os ministros usaram de todas as manobras, inclusive de não trabalhar na “Semana Santa”, para não decidir se o ex-presidente Lula pode ser mandado ou não para a cadeia foi o mais alto indicativo de que o STF é benevolente com os poderosos.
Então, embora as técnicas jornalística e de redação condenem o texto que termine transferindo uma pergunta para o leitor, não há outra alternativa neste intricado enredo: e se o povo perder a total confiança na Justiça, o que vai acontecer com o Brasil e sua democracia ainda em construção?
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