Resquício da paranoia coletivaPor que a opinião pública roraimense deixa se submeter com facilidade a mentiras pregadas por políticos por meio das redes sociais e da imprensa, em especial o rádio e a TV? A explicação tem uma resposta cujas raízes foram plantadas há três décadas, quando os políticos começaram a pregar a paranoia da internacionalização da Amazônia a partir da demarcação das terras indígenas em Roraima.
Sempre elegendo e se reelegendo ao sabor da compra de votos, sem conteúdo a apresentar nos pleitos, a questão indígena caía muito bem para os políticos com a finalidade de desviar a atenção do eleitorado, manipulando informações, pregando uma paranoia coletiva, alimentando um anti-indigenismo jamais visto no país.
Desde lá a população responde muito bem a qualquer alarde, inventado ou não. Quanto mais absurdo for uma estória, mais as pessoas deixam se seduzir por um misto de medo e paranoia. Na época das mentiras sobre a “internacionalização”, havia quem acreditasse que Roraima seria invadido pelos Estados Unidos ou pelos “capacetes azuis” das Nações Unidas, que iriam se apossar da Amazônia.
Embora isso não tivesse nenhuma lógica, as pessoas acreditavam mesmo que Roraima seria invadido por causa de suas reservas de minério, da rica biodiversidade e da água potável em abundância. Havia discursos inflamados nas rádios e notícias alarmantes na mídia impressa, como se a qualquer momento fosse ocorrer um apocalipse.
Com a chegada da internet, momento em que as pessoas passaram a ter acesso mais amplo a todo tipo de informação, e com a decisão final do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a demarcação das terras indígenas, essa manipulação de corações e mentes perdeu o sentido, embora essa paranoia e esse medo impostos por uma lavagem cerebral eficiente esteja internalizado nas pessoas.
É por isso que as farsas na internet, por meio do “fake news”, ganham uma força especial na opinião pública roraimense. A paranoia do momento, já beirando o absurdo, tem como alvo os estrangeiros venezuelanos, usados agora como instrumento de manipulação por parte dos políticos e seus lacaios.
Os políticos sabem que a opinião pública roraimense ficou sequelada depois de três décadas de mentiras e manipulações da realidade a partir da questão indígena. É por isso que as mentiras nas redes sociais têm um impacto muito grande nos eleitores. As pessoas não podem sentir medo e logo querem alimentar qualquer paranoia adormecida dentro delas. E assim será a guerra eleitoral por meio das mentiras nas redes sociais. *[email protected]: www.roraimadefato.com.br