Jessé Souza

Uma sociedade apodrecendo 5987

Uma sociedade apodrecendo Quase que diariamente há um caso de suspeito de furto ou roubo sendo agredido, em via pública, por populares que tentam fazer justiça com as próprias mãos. Em síntese, as pessoas que condenam um crime ou delito acabam cometendo outro. Mas esses algozes não se importam com isso, sob a justificativa de estarem fazendo um bem à sociedade e combatendo a criminalidade, ainda que pelo uso da violência. Porém, o que está explícito nessas cenas de selvageria, que remontam à Lei de Talião, “olho por olho, dente por dente”, é um retrocesso de uma sociedade doente, que foi abandonada pelo poder público, o qual não consegue mais proporcionar o bem-estar coletivo diante do avanço de criminalidade e da impunidade.Em Roraima, o espancamento e até o linchamento de suspeitos de furtos ou roubos são consequências de um Estado que não fez a lição de casa, largando a segurança pública ao sabor da falta de vontade política, assim como ocorreu em outros setores importantes. Nem manter os presos encarcerados esse governo vem conseguindo, a ponto de os presídios serem dominados pelas facções criminosas.O desleixo com os setores essenciais, sempre justificado por “falta de verba”, fez apodrecer os tecidos da sociedade, com o povo sendo largado na insegurança e alimentado pela ignorância. E todos adoeceram a ponto de as pessoas quererem combater a violência cometendo mais violência, como se não houvesse mais polícia nem Justiça. Para complicar o que já vinha sendo ruim, a chegada em massa de venezuelanos empobrecidos, que buscam refúgio para não morrerem de fome em seu país, ampliou o quadro de violência e o desalento, uma vez que os bandidos estrangeiros encontraram as portas abertas na fronteira. Embora sejamos um Estado acolhedor e solidário, os tecidos sociais fragilizados contribuíram para o estranhamento com os imigrantes e até mesmo o afloramento da xenofobia.Estava formada aí uma bomba relógio social, em que as pessoas são alimentadas não só mais pela desesperança e pela intolerância, mas também pelo sentimento de que estão abandonados pelo poder público, adoecendo a sociedade. Essa doença está se infestando e não sabemos aonde isso vai parar.O momento indica um quadro muito difícil, diante da fragilidade do Estado, pois as forças policiais não conseguem fazer frente à criminalidade imposta pelo crime organizado, que executa seus desafetos semanalmente, enquanto o cidadão que se diz do bem espanca ladrões em praça pública, revelando um Estado fragilizado e sem lei. Estamos voltando à barbárie. Salve-se quem puder!

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